Saturday, November 01, 2008

Ser editor, hoje O Livro Eterno E A Viagem do Elefante Infante

Ser editor, hoje O Livro Eterno e A Viagem do Elefante Infante (de Kipling) e A Viagem do Elefante (novo livro de José Saramago)

Meu Jornal do Jornal, algumas notícias essa semana:

Hoje, no Caderno 2 do Estadão: A VIAGEM DO ELEFANTE
Será o próximo livro do Saramago, baseada no envio de um elefante como presente do rei de Portugal, D. João III, ao Arquiduque da Áustria. Como ninguém jamais tinha visto um elefante no Ocidente, durante o trajeto pela Europa, a passagem do pacífico paquiderme causou frisson.

Eu me alegrei com o título, pois ao editar “O Elefante Infante, de Rudyard Kipling, acabei sabendo que era costume na época enviar elefantes de presente, de vice-reis das Índias para potentados europeus. E “O Elefante Infante”, de Rudyard Kipling, tradução de Adriano Messias, ilustrado por Fernando Vilela em diálogo com as ilustrações originais do próprio Kipling, projeto gráfico da Raquel Matsushita e edição da Musa, dialogando com o Elefante poema de Carlos Drummond de Andrade e com Ganesha, o deus da Índia com cabeça de elefante, conta a grande viagem do elefantinho que não tinha tromba, que enchia a África inteira com sua insaciável curiosidade, pois queria a resposta à pergunta que aterrorizou seus familiares, os bichos mais fortes: “O que o crocodilo come no jantar?” E o resultado dessa viagem é que o Elefante Infante ganhou para ele uma tromba e para todos os elefantes que vieram depois dele. Esta foi a forma encontrada por Kipling de fabular contando histórias a seus filhos com a teoria da evolução das espécies de Darwin.

Insisto em contar aqui algumas agruras do livro “O Elefante Infante”, antes de começar agora a ter sucesso nas listas de compras para as Bibliotecas Públicas. A primeira Viagem do Elefante, enfim, foi descoberta. E Saramago, embora não saiba, vem dar o seu aval à pequena Musa que quase morreu por causa do seu elefante infante andante. Aprendeu dele a lição: não se deixou comer pelo crocodilo e também arrumou uma tromba, para que dela possam se utilizar todos os editores independentes que acreditam no livro eterno, seja em que suporte for. O livro é antes de tudo o texto do autor. E um Prêmio Nobel tem em sua narrativa uma força de narrar, inimaginável, Kipling e Saramago, dois Prêmios Nobel, dois elefantes de peso, parodiando Diego Barreto Ivo no posfácio de “O Elefante Infante”, “Três Elefantes de Peso”. O terceiro é Carlos Drummond de Andrade.


AGRURAS DO LIVRO “O ELEFANTE INFANTE”

À semelhança de sua fábula narrada na história de Kipling, nosso livro com o sutil projeto gráfico da Raquel Matsushita e as arrojadas ilustrações do Fernando Vilela e a teimosia do projeto de edições em línguas da Musa Editora (esta é uma edição trilíngüe), vem mais por aí, nosso livro “O Elefante Infante” sofreu agruras, apesar de lançado com alegria em evento memorável juntamente com “O Sapo Apaixonado”, do Donizete Galvão, na Casa das Rosas, em junho de 2007.

Mandei para os Suplementos infantis dos jornais. Mandei para o Caderno 2, ninguém percebeu. O suplemento Feminino do Estadão deu o Sapo, mas não pôde colocar o Elefante Infante porque a capa não fotografava bem, assim me disseram. A revista “Nova Escola” deu a notícia, depois de longo tempo, alguma coisa como banquete de crocodilo, e a editora recebeu telefonemas e e-mails.

Inscrevi no PNBE-2007. Mas “O Elefante Infante” foi barrado no próprio IPT que faz a pré-seleção técnica, porque não constava junto ao ano da edição, o primeira edição. Uma regra burocrática capaz de eliminar um texto de um Prêmio Nobel, pois constava do edital do FNDE-MEC, para a pré-seleção chamada controle de qualidade. Isto foi revisto. Pois muitos bons livros foram deixados de fora do programa governamental, impedidos de serem apreciados pelos avaliadores, por causa dessas ressalvas pretensamente técnicas. Mas estava no edital. Nós, os editores independentes, falamos, fomos ouvidos.

Mas, este ano, “O Elefante Infante” não foi para a apreciação dos avaliadores contratados pelo FNDE, porque fui lenta, eu mesma, na inscrição online, o sistema caiu, eu pedi um tempo mais, foram intransigentes, pedi para três pessoas e uma delas encaminhou meu e-mail para a outra: “O que faço com isso?” Eu não queria privilégio, depois eu soube que o sistema ainda continuava até às 20 horas, eu só queria inscrever um elefante de peso. O mesmo aconteceu com o “Sapo Apaixonado”,.

A boa notícia é que em outros programas estão descobrindo o Elefante e o Sapo. E eu só tenho de celebrar tamanha graça, como a que ocorreu com os avaliadores da Prefeitura de Belo Horizonte. Segundo o Emerson, que fez o trabalho para a Musa, pela Acaiaca, ouviu elogios desde o projeto gráfico da Raquel Matsushita e da Marina Mattos, e ao livro inteiro e ouviu a pergunta se não havia mais livros do tipo. O programa Mais Cultura do Ministério da Cultura/Biblioteca Nacional também acolheu “O Elefante Infante” e o Sapo Apaixonado. Além de “Mata Atlântica; vinte razões para amá-la”, da Regina Helena de Paiva Ramos. Já começo a recitar o meu Magnificat , depois dos insultos e de todos os que caçoaram e caçoam dos bons projetos e trabalhos.



Como os Bancos caçoam dos empresários produtivos, e dos editores, não sabiam?

Seja com falta de apoio, como é o caso dos bancos oficiais, com suas cabeludas armadilhas contra os pequenos empresários, sobretudo contra editoras. E, ironicamente, mantêm centros culturais e confiscam o dinheiro das contas e aplicações dos clientes, quando estes pedem negociações para tocar a produção. Quando vejo, como hoje, a oferta do Banco do Brasil e Caixa para financiar casas para funcionários, mediante desconto de parcelas do financiamento em conta, como qualquer empréstimo consignado, vejo claríssima armadilha, como todas do modus operandi dos bancos: uma espécie de penhora online com o salário dos incautos e o faturamento das empresas. Gosto de ler cartas de leitores no São Paulo Reclama, em uma delas o leitor reclamava justamente dessa automação desenfreada que “capta” automaticamente o dinheiro das contas dos clientes para cobrir empréstimos, tirando-lhes o direito de negociar. Aí devolvem cheque com fundo, estornam débitos automáticos de conta de luz e telefone, não querem saber. A automação, por este lado, que rouba tudo do cliente, é um desastre. Penhora online sem apreciação judicial. Os bancários fizeram greve, não me solidarizei mais com eles, porque eles são os próprios acólitos dessa anomalia. E não venham falando que existem contratos, não são contratos sociais, mas contratos de adesão, onde imperam cláusulas abusivas.

Quando Drummond era vivo, creio que nas comemorações dos seus 80 anos,
Ao saber que Drummond pagou pela edição de seu primeiro livro, “Alguma poesia”, um banco colocou um anúncio dizendo mais ou menos assim, que se o tivesse procurado, seria diferente. Hoje quem merece mecenato são os esportes. Só editores têm faro para bons livros, poucos ou um só recebem apoio de bancos, mas bancos se fazem sócios.

Tenho outros projetos, será que precisarei de um banco como sócio?

AH, Sergio Augusto, quando comecei a ler seu artigo no Caderno 2 de hoje

CRISE? COMPRE UM LIVRO E SE DIVIRTA

Pensei que você estivesse falando do Espetáculo do Livro, não do verdadeiro mercado do livro.

De todo o dito, fico com isso que já é nosso, entre os editores independentes, o que vale mesmo é trabalhar os livros de fundo de catálogo, sem data de validade. Acrescento que vai aumentando o número de amigos do livro, o relacionar-se com bons livros, mas ainda estamos na fase do pré-consumo do livro, neste Brasil emergente e de emergentes toscos e rudes. Há pós-consumo talvez somente na enxurrada dos livros instantâneos promovidos pela ansiedade de executivos dos grandes conglomerados. Mas isto nada tem a ver com ser editor e ter faro para o inesperado que nos cega e ao mesmo tempo nos abre os olhos como a passagem de um relâmpago. Não vou discorrer aqui sobre o mercado editorial, seus vícios e virtudes. Há gente que tem diagnosticado bem. Como este seu artigo, estou guardando e o sublinhei bastante. O pior é que precisamos de dinheiro para tocar nossos sonhos de edição, e não são poucos bons livros à espera. Seria bom que os próprios livros dessem retorno imediato, trabalhamos com o longo prazo, enquanto esse “mercado” que felizmente agoniza nos impôs o curto-prazismo, não há mais papagaios nos bancos, só CDCs. Queria ser do tempo dos papagaios.
O melhor mesmo é banco mínimo e uma pitada de mecenato, não leis de incentivo, mas mecenato conforme andamos certa época recebendo do Ministério da Cultura da Espanha, para fazer traduções.


3. Fofoca editorial na coluna da Sonia Racy (Direto da Fonte):

“CONCENTRAÇÃO
Fechado acordo entre a distribuidora de livros Superpedido e dez editoras independentes. Ele transfere todo o estoque das editoras independentes para o galpão da Superpedido, que passa a controlar a venda nas livrarias. Intenção? Aumentar em 20% a participação dessas casas editoriais e reduzir os gastos. O fato promete comentários, hoje à noite, na entrega do Prêmio Jabuti.”

Aqui vai meu comentário. Esta notícia não circulou na Libre. A diretoria nos deve esta informação. A Musa Editora acaba de mandar todo o seu estoque para o galpão da Distribuidora Acaiaca. E a minha esperança é de esta pequena teimosa casa editora alcançar o Brasil, Brasília, O Espírito Santo, O Sul, o interior de São Paulo, Minas Gerais e o Norte Nordeste. São Paulo e Rio nos acolhe as melhores livrarias, com Elefante Infante e Sapo Apaixonado em seus portais e sites. Temos de celebrar sempre a Livraria Cultura, que compra livros, não se sustenta com consignações que nós, pobres pequenos, temos de financiar. Não há capital para o estoque de livros, mas para os móveis e demais itens de montagem, a decoração moderna, mas os bons livros são eternos.

Tenho mais a comentar. Por hoje basta. Falar de livros não tem fim. Outra paródia, segundo Rubens de Barros Lima, o histórico produtor da antiga Companhia Editora Nacional a autêntica Casa Editora, “Fazer livros não tem fim”, e ele repetia sempre esta frase que atribuía a Nelson Werneck Sodré.