Sunday, June 14, 2009

Ser editor, hoje Sede de Justiça e outras notícias

Quartim de Moraes tem coluna sobre mercado editorial no Estadão
Com o primeiro texto fiquei surpresa e alegre. Certa vez ele mandara importante contribuição sobre práticas do mercado editorial para a Folha, quando se discutia cobrança de jabá para ocupar com pilhas de livros as rodas das grandes livrarias, seu artigo foi ignorado. Neste sábado, 13 de junho, deparo-me novamente com Quartim escrevendo na segunda página do Estadão, sobre mercado editorial. Tenho de celebrar, inclusive escrevendo para a coluna de leitores no Estadão. Muitas coisas foram mudadas para nas compras governamentais de livros porque o caderno 2 do Estadão deu voz para os pequenos editores. Agora somos nós que temos de cobrar de nossos próprios pares, nós nos tornamos lobos uns dos outros, porque nos associarmos não nos dá o direito de nos comportarmos com complacência com a violação de princípios éticos. O princípio da isonomia é uma coisa, mas adotarmos cegamente o corporativismo complacente é o fim de nosso ideal originário.

Caro amigo Quartim, você me mandou um e-mail com seu novo e-mail, quando incorporou sua Conex à Ediouro. Mas eu o perdi. Mande-me novamente. Quero escrever-lhe para parabenizá-lo. Você sumiu da Libre, e nos faz muita falta. Sua voz ainda nos é necessária e eu fico perguntando, "onde estão as neves de antanho?", não é saudosismo, mas sede diária de justiça, que as suas oportunas intervenções na área do nosso ofício editorial ajuda a aplacar. Com sua coluna no Estadão, que espero que dure, você volta a ser nossa voz, na atividade editorial de criação, não apenas de um mercado tocado pela demanda. Com nossos livros, somos mais editores de oferta do que de demanda. Queremos criar público. Somos editores de criação. Fale sempre, Quartim estou celebrando sua coluna no Estadão.

Superstições: Contra elas preciso me tratar. Preciso mesmo é perder a intuição para o avistamento do horror. Numa madrugada dessas, via Apocalypse Now, e aquela expressão diante da exorbitância do crime sem limites, "o horror, o horror". cada vez que uma cobra surge na tela da televisão, na página inicial do provedor da internet, ou figura no jornal, para mim é um aviso. Se sonho com cobra é um aviso, vai chegar má notícia. E uma ação alheia que me derruba no chão, pelo menos até eu me levantar, chega. Estou acreditando em superstições, mas não quero acreditar. Penso em levar isto para uma análise. Como na canção interpretada pela Susan Boyle, "transformam nossos sonhos em vergonha".

Hoje não consigo comentar o horror da "receptação" indevida entre os editores. Um mesmo tradutor vende a tradução do mesmo livro duas vezes e acha um receptador (gravíssimo porque o receptador conhece quem tem a edição da tradução em catálogo, e fazemos parte de uma entidade cujo objetivo é a inovação pioneira em ações louváveis). Outro editor manda fazer um trabalho e um dos revisores vende parte desse trabalho a outra editora. Tudo isso foi veiculado no nosso grupo de discussão na rede. Ninguém se comoveu. No meu caso, o do tradutor, fui ridicularizada pela sócia "violadora" por pedir ética, mas recebi apoios por vias diretas e transversais. Talvez seja uma questão equivocada o ser "político" com seus associados, por complacência ou corporativismo ou por corporativismo complacente. Precisamos de um Código de Ética, na Libre. A Câmara Brasileira do Livro, exemplarmente, tem seu Código de Ética para os associados, nos mandou impresso e o ostenta em seu site (www.cbl.org.br). Parabenizo a CBL, da qual também sou associada. Mas quando nos daremos conta, os pequenos editoes associados e ousados? Quando vamos nos pronunciar contra o malfeito denunciado pela Editora Contraponto aos seus pares, no grupo, e não falamos nada? Como não nos solidarizamos com livrarias e editoras que fecharam, nomes e renomes entre associados e do mercado editorial? Há as clássicas vozes que se levantam, mas não há respaldo do conjunto, mas precisamos dasensibilização dos atuais dirigentes. Temos de nos pautar pela justiça contextualizada não pela complacência "político corporativa".

A equação mais malsã, no caso de quem vende a tradução do mesmo livro duas vezes, é formada por esses termos: mercenário, oportunista, desleal, inconsequente, antiprofissional, inconsciente, bajulador do suposto poderoso do momento, o herói sedutor sem ética e sem caráter, capaz de enganar os santos entronizados nos altares, com o seu discurso sentimental. Isto é mais possível quando o demônio tem talento. E receptador entre nossos pares que não se importa com os pares, vendo a vantagem antes do princípio.

Hoje procuro não receber mais originais que estão sendo examinados por outro editor, até que ele diga não.
O que eu digo, não se trata da natural dança das cadeiras Mas regras éticas que aprendi, inclusive entre os editores internacionais. Mesmo com edições esgotadas de grandes nomes por longos anos, a editora estrangeira só aceitava novo contrato com outra editora, com carta de reversão de direitos assinada pela primeira casa. São rituais éticos civilizados. Pela minha experiência ultimamente, prevalece a defesa do predador, mesmo não contando com quem possa entender este caso de imediato, tal a alienação complacente geral, não desisto de denunciá-lo ao vento. E me solidarizo com qualquer relato desse jaez, além dos dois fatos aqui relatados. Contei hoje esta história por e-mail a um editor da área cultural do jornal. Será que ele me responderá?

Wednesday, June 10, 2009

"MAIS CULTURA", ser editor, hoje Carta aberta ao Presidente da República e ao Ministro da Cultura Juca Ferreira

Eu já clamei, clamarei novamente, hoje. Falaria de feiras de livros neste posto. Mas preciso escrever esta

Carta Aberta ao Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e ao Ministro da Cultura Juca Ferreira

O programa "Mais Cultura" do Ministério da Cultura é uma beleza. Contempla a diversidade dos catálogos das pequenas e grandes editoras, ainda não dando conta de tudo, mas avança.

Mas a sua implantação penaliza os editores, sobretudo os pequenos editores. Repito, para tornar a edição economicamente viável, temos de imprimir a tiragem toda encomendada, honrar custos gráficos e de produção. As entregas se fazem por pequenas etapas. Naturalmente que nossos fornecedores gráficos não nos dão um ano para pagar. Temos de segurar o preço de capa dos livros, mas os custos gráficos sobrem (papel aumenta, falam-nos de dissídios, os Correios sobem suas tarifas sem nenhum pudor). Tudo conspira jogando-nos custos administrativos inimagináveis, automáticos, e bravamente os editores fazem seus livros para que sejam entregues. Sempre se repete a notícia do contingenciamento das verbas do Ministério da Cultura. Por quê?

Queria argumentar, com o PNBE-FNDE-MEC, isto não acontece. Editores entregam todos os livros e recebem todos os livros, apesar do aumento dos custos gráficos e demais custos. Todos os fornecedores raciocinam como se não houvesse uma planilha de custos na confecção do livro, se vamos receber do governo, temos de entregar tudo. É o desequilíbrio total. Fazer tudo no curto prazo e entregar no longo prazo, aos picadinhos.

Sei que o senhor Ministro da Cultura é um homem de sensibilidade, gostaria que olhasse sobretudo para os pequenos editores, pioneiros na arte de fazer livros. Inovadores em suas edições. Já é truismo que as inovações editoriais, as revelações de futuros consagrados autores originam-se em Casas pequenas. Apiedai-vos dos editores, senhor Ministro Juca Ferreira! Apiedai-vos do Ministério da Cultura, senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Essa minhas mal-escritas linhas são realmente um grito de socorro para que possamos fazer mais livros, criar empregos, ter mais vida, humanizar as comunidades mais longínquas, tornando possível o objetivo do programa "Mais Cultura" em toda a sua dimensão educacional civilizatória:

"Contribuir para que o livro, sobretudo o de literatura, ocupe lugar de destaque no cotidiano do brasileiro."

Não deixem morrer, senhor Presidente da República, e senhor Ministro da Cultura, a paixão pela bibliodiversidade dos pequenos editores, de todos os editores. Não somos espertos, somos crentes no poder universal do livro e da leitura democratizados. Apiedai-vos de nós, descontigenciando as verbas do livro.

Monday, June 01, 2009

De Susan Boyle a escolhas governamentais de livros

A mulher mais feia
pode ser mais bela
que a mulher bonita

Estes são três versos de um livro que vou publicar, de minha autoria: "Viagem aos peitos de Babá", porque quando eu era adolescente descobri um conto de Aníbal Machado "Viagem aos seios de Duília", daí a paródia do meu título. Era um segredo editorial, que resolvi revelar, por causa de Susan Boyle.

Eu me tornei fã de Susan Boyle, estou entre os milhões que ouviram, ouvem e ouvirão sua voz nos seus vídeos espalhados pela rede mundial. Se ela perdeu a final do programa de calouros, porque o modismo de misturar atrações díspares como prática viciosa do entretenimento falou mais alto. O público médio pode acertar, mas no geral tem apenas critério de rebanho ou não tem nenhum critério. Susan não precisava mais ganhar o programa de calouros, embora cada admirador que a verdadeiramente ama torcesse para sua vitória na sua aparição repaginada, já não como uma caloura, mas como uma profissional que não queremos mais abandonar. Comprarei seu disco.

Susan não foi descoberta naquele palco. Ir ao programa foi sua grande cartada, pois tentava se apresentar e nunca era vista.

Envelheceu e engordou, adquiriu antes dos 50 uma aparência de 60. Ao cantar tornou-se jovem e bela, pois transfigurou-se em iluminação aos nossos olhos incrédulos e todos aplaudem. Virou uma tigresa vitoriosa, como disse o jurado Simon Cowell.

Diante de sua figura no palco eu me sinto orgulhosa e emocionada. Choro de alegria. Susan Boyle não é uma descoberta de um programa de calouros, simplesmente, mas comparecendo a ele, tornou-se um insight, provocou um insight em todo o mundo. Foi descoberta. E isto é tudo, ela é uma cantora profissional e esperamos que receba o tratamento de estrela com luz própria para que possamos tê-la em discos e turnês.

Tudo me faz lembrar a história de Abraão, que ouvi de Irmã Josefina na aula de religião. Abraão tinha 100 anos quando nasceu seu filho Isaac, o início de sua grande descendência, mais numerosa que as areias do mar e as estrelas do céu. Ele viu o dia e riu, e o riso de Abraão foi o nascimento de Isaac na velhice dos pais: Abraão e Sara. Ele esperou contra toda a esperança. Tornou-se os pai dos crentes. Na época, meio criança e já adolescente eu não entendia o que era esperar contra toda esperança. Começo a entender, por outros fatos e este de Susan Boyle, não há idade para se rir quando vemos o nosso dia, embora os tempos sejam difíceis e os obstáculos, a pedra de Drummond está sempre no meio do caminho. Os espíritos-de porco e desmancha-prazeres sabotam tudo. Susan Boyle transcendeu todo o burocratismo do marketing do entretenimento, ela foi ela mesma e a temos. Que ninguém nos roube Susan Boyle de volta ao anonimato. E não é uma celebridade instantânea no sentido lato, ela é um insight da nossa cegueira média que se tornou iluminação.

O que tem tudo a ver com as escolhas de livros para os programas governamentais. Temos de transformar nossa cegueira em insight. O politicamente correto domina os critérios ao lado de modismos de poesia confundida com mensagens edificantes. Além do jogo de interesses defendidos pelo marketing médio das editoras mais pragmáticas e economicamente potentes, que querem instrumentalizar tudo a seu favor. Se for preciso truncar um clássico, vamos truncar para caber no receituário do livrinho do "Literatura em Minha Casa", que graças a Deus foi tarde na forma que tinha. O importante é que os livros de catálogo chegassem às bibliotecas escolares e comunitárias, e estão chegando. E mesmo às casas, se houvesse verbas para isso. Hoje o Estadão traz matéria com opiniões diferentes, que relato outra hora. Destaco o que disse Ana Maria Machado, não para concordar totalmente. Ela fala que as escolhas precisam se pautar pelas listas prontas de instituições prestigiosas e respeitadas como o Instituto Brasil Leitor e da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Não basta. A repetição de acervos do Mec foi gerado pela consulta única a essas listas. Concentração de autores e títulos, portanto, embora as referências sejam bem-vindas, precisamos sempre ir além, na busca do que não estamos enxergando. Como editor, hoje, tenho procurado fazer os que os outros editores não estão fazendo, buscando títulos e autores, sejam clássicos ou modernos, inéditos ou desaparecidos dos catálogos. Se um autor seu faz sucesso, todos correm atrás dele, muitas vezes violando-se a ética entre os pares. O critério do bem escrever sempre tem de prevalecer e a capacidade de descobrir Susan Boyle ou reconhecê-la quando canta, tudo o que possa ultrapassar o instantâneo do programa de calouros. Susan Boyle ultrapassou. Um bom autor e um bom livro podem não estar em uma lista. Em obras de ficção e poesia, prevalecer literatura, sem que o modismo e o politicamente correto lancem sua mão pesada. Bibliodiversidade. Eu também me espantava com os cartazes espalhados pelo colégio, enquanto vadiava pelos pátios e corredores, como aquele cartaz da Irmã Emerenciana para as suas catequistas: "Cada criança é um ser inédito, uma palavra de Deus que não se repete mais."
Eu queria saber o que era inédito. Cherchez le dictionnaire. Cada livro é um ser inédito, cada escolha, desde o editor, é uma escolha inédita, uma palavra de Deus que não se repete mais. Também Susan Boyle. Quem diria, eu que que rejeitei as freiras, escrevendo que elas eram ingênuas, já fora do colégio, estou homenageando-as. Irmã Josefina era outro papo. Por causa dela, bibliotecária, saí dos infanto-juvenis para a literatura universal de qualidade, autores brasileiros e estrangeiros. Embora meu pai nos comprasse grandes livros em casa.

Meu próximo assunto serão as feiras de livros que espocam por toda parte e junto com elas espocam as berrantes mercadorias dos vendedores porta-a-porta, livros que não são livros, mas quinquilharias impressas, vendidas a R$1,99. Embora haja muitos bons livros que não são vendidos, alguns divulgados como consolo à participação custosa por causa dos preços dos estandes, alimenta-se o público com o anódino dos papéis pintados que não podem alimentar espíritos nem intelectos, mas como atrair a atenção para aqueles livros que editados ainda são seres inéditos, cada qual uma palavra de Deus que não se repete mais? Livros de fundo, os fundamentos de todas as boas bibliotecas.