25 de fevereiro
Diego voltou a São Paulo. Sentiu falta da cidade. Ele assumirá o site da Musa. Escreveu um posfácio para O Elefante Infante, doRudyard Kipling, livro que a Musa publicará em breve, com ilustrações do Fernando Vilela, projeto gráfico da Raquel Matsushita.
Nenhum apoio bancário. Continuo com a minha campanha, Banco Mínimo, recursos próprios. Banco mata. A automação bancária, com arrastão perpetrado diuturnamente na conta dos clientes, sem aviso prévio, é criminosa. Um dos crimes do momento. Roubam a alma, roubam a vida das empresas, os gerentes são hoje apenas acólitos do chamado sistema on-line, internet banking. Vendedores de produtos bancários, autômatos, não podem fazer negócios que contemplem a reciprocidade: O que é bom para mim deve ser bom para você, Negócio bom é bom para as partes. Mas os gerentes devem cumprir metas e têm medo de perder o emprego. Está na hora de nos levantarmos contra essa sem-cerimônia do roubo incruento, mas é sem dúvida o mais cruento, uma violência incruenta que nos quebra por dentro, não mata o corpo, mata a alma de quem trabalha. Tortura os empresários. O meu nome estava no letreiro do Banco do Brasil, que faz propaganda enganosa, na verdade nunca está ao lado de seus clientes. Isto vale também para os demais bancos oficiais, e para os paticulares, por que não? Banco mata.
Mas, o que vale é a palavra do poeta, "antena da raça":
Canto 45
Com Usura
Com usura nenhum homem tem casa de boa pedra
blocos lisos e certos
que o desenho possa cobrir,
com usura
nenhum homem tem um paraíso
pintado na parede de sua igreja
harpes et luthes
ou onde a virgem receba a mensagem
e um halo se irradie do entalhe,
com usura
ninguém vê Gonzaga seus herdeiros e concubinas
nenhum quadro é feito para durar e viver connosco,
mas para vender, vender depressa,
com usura, pecado contra a natureza,
teu pão é mais e mais feito de panos podres
teu pão é um papel seco,
sem trigo do monte, sem farinha pura
com usura o traço se torna espesso
com usura não há clara demarcação
e ninguém acha lugar para sua casa.
Quem lavra a pedra é afastado da pedra
O tecelão é afastado do tear
COM USURA
a lã não chega ao mercado
a ovelha não dá lucro com a usura
A usura é uma praga, a usura
embota a agulha nos dedos da donzela
tolhe a perícia da fiandeira. Pietro Lombardo
não veio da usura
Duccio não veio da usura
nem Pier della Francesca, nem Zuan Bellini veio
nem Usura pintou "La Callunia".
Angelico não veio da usura; Ambrogio Praedis não veio,
Nenhuma igreja de pedra lavrada, com a inscrição: Adamo me fecit.
Nenhuma St Trophime
Nenhuma Saint Hilaire,
Usura enferruja o cinzel
Enferruja a arte e o artesão
Rói o fio no tear
Mulher alguma aprende a urdir o ouro em sua trama;
A usura é um câncer no azul; o carmesim não é bordado,
O esmeralda não encontra um Memling.
Usura mata a criança no ventre
Detém o galanteio do moço
Ela
trouxe paralisia ao leito, jaz
entre noivo e noiva
CONTRA NATURAM
Putas para Elêusis
Cadáveres no banquetea
a comando da usura.
(Ezra Pound, Poesia, tradução conjunta de Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari. S. Paulo, Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1983, p. 191-192.)
Nenhum apoio bancário. Continuo com a minha campanha, Banco Mínimo, recursos próprios. Banco mata. A automação bancária, com arrastão perpetrado diuturnamente na conta dos clientes, sem aviso prévio, é criminosa. Um dos crimes do momento. Roubam a alma, roubam a vida das empresas, os gerentes são hoje apenas acólitos do chamado sistema on-line, internet banking. Vendedores de produtos bancários, autômatos, não podem fazer negócios que contemplem a reciprocidade: O que é bom para mim deve ser bom para você, Negócio bom é bom para as partes. Mas os gerentes devem cumprir metas e têm medo de perder o emprego. Está na hora de nos levantarmos contra essa sem-cerimônia do roubo incruento, mas é sem dúvida o mais cruento, uma violência incruenta que nos quebra por dentro, não mata o corpo, mata a alma de quem trabalha. Tortura os empresários. O meu nome estava no letreiro do Banco do Brasil, que faz propaganda enganosa, na verdade nunca está ao lado de seus clientes. Isto vale também para os demais bancos oficiais, e para os paticulares, por que não? Banco mata.
Mas, o que vale é a palavra do poeta, "antena da raça":
Canto 45
Com Usura
Com usura nenhum homem tem casa de boa pedra
blocos lisos e certos
que o desenho possa cobrir,
com usura
nenhum homem tem um paraíso
pintado na parede de sua igreja
harpes et luthes
ou onde a virgem receba a mensagem
e um halo se irradie do entalhe,
com usura
ninguém vê Gonzaga seus herdeiros e concubinas
nenhum quadro é feito para durar e viver connosco,
mas para vender, vender depressa,
com usura, pecado contra a natureza,
teu pão é mais e mais feito de panos podres
teu pão é um papel seco,
sem trigo do monte, sem farinha pura
com usura o traço se torna espesso
com usura não há clara demarcação
e ninguém acha lugar para sua casa.
Quem lavra a pedra é afastado da pedra
O tecelão é afastado do tear
COM USURA
a lã não chega ao mercado
a ovelha não dá lucro com a usura
A usura é uma praga, a usura
embota a agulha nos dedos da donzela
tolhe a perícia da fiandeira. Pietro Lombardo
não veio da usura
Duccio não veio da usura
nem Pier della Francesca, nem Zuan Bellini veio
nem Usura pintou "La Callunia".
Angelico não veio da usura; Ambrogio Praedis não veio,
Nenhuma igreja de pedra lavrada, com a inscrição: Adamo me fecit.
Nenhuma St Trophime
Nenhuma Saint Hilaire,
Usura enferruja o cinzel
Enferruja a arte e o artesão
Rói o fio no tear
Mulher alguma aprende a urdir o ouro em sua trama;
A usura é um câncer no azul; o carmesim não é bordado,
O esmeralda não encontra um Memling.
Usura mata a criança no ventre
Detém o galanteio do moço
Ela
trouxe paralisia ao leito, jaz
entre noivo e noiva
CONTRA NATURAM
Putas para Elêusis
Cadáveres no banquetea
a comando da usura.
(Ezra Pound, Poesia, tradução conjunta de Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari. S. Paulo, Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1983, p. 191-192.)
posted by Ana Cândida Costa at 3:13 PM
6 Comments:
Usura usual...
Desmesura atual...
Loucura do mal...
Seu comentário sobre a prática bancária me fez lembrar o bordão de um dos Safra: "Pra sair, o negócio tem que ser bom para os dois: para mim e para o meu irmão". Aliás, eles brigaram...
Como anda a imagem dos bancos?
"Nem parece banco" - Publicidade de um grande banco, querendo dizer que tem vergonha de ser o que é!
Eis sua auto-imagem!
cara Ana,
entrei hj em seu site para indicar o novo livro da MUSA:
Olhar, saber, representar...
a um grande amigo meu: talentoso arquiteto da USP (além de exímio pintor e desenhista), e estudioso da relação arte e perspectiva.
Percorri seu blog e li vários textos seus: fiquei feliz em conhecer este espaço para refletir e opinar sobre o mercado editorial.
No entanto, me surpreendi em não ver menção de minha co-autoria no projeto gráfico do Elefante Infante.
Gostaria que soubesse: apesar de trabalhar há mais de 15 anos no mercado editorial, em projetos de diversos livros e revistas, este livro é um projeto pelo qual tenho especial carinho e do qual adorei ter participado. Enfim, um filho que tenho orgulho em abraçar e apresentar.
um forte abraço.
Querida Marina, (Marina Mattos)
Vou lhe fazer justiça fazendo dois posts: um, no breviario.org, outro, no anacandocha opinião própria. Desde já anuncio que você é a grande parceira artística da Raquel Matsushita, ambas designers, a quem devo essas maravilhas que são "O Sapo Apaixonado, do Donizete Galvão e "O Elefante Infante", do Rudyard Kipling, leitura obrigatória para pais e filhos, professores e alunos e ainda poucos se deram conta. Acho que ainda não divulgamos o suficiente. Os projetos gráficos valorizaram os textos de forma originalíssima, com a matéria-prima dos textos literários ilustrados por Mariana Massarani e Fernando Vilela, uma reunião de artistas do designer, da ilustração e da literatura. Obrigada a todos. Aguardem os posts.
Querida Marina, (Marina Mattos)
Vou lhe fazer justiça fazendo dois posts: um, no breviario.org, outro, no anacandocha opinião própria. Desde já anuncio que você é a grande parceira artística da Raquel Matsushita, ambas designers, a quem devo essas maravilhas que são "O Sapo Apaixonado, do Donizete Galvão e "O Elefante Infante", do Rudyard Kipling, leitura obrigatória para pais e filhos, professores e alunos e ainda poucos se deram conta. Acho que ainda não divulgamos o suficiente. Os projetos gráficos valorizaram os textos de forma originalíssima, com a matéria-prima dos textos literários ilustrados por Mariana Massarani e Fernando Vilela, uma reunião de artistas do designer, da ilustração e da literatura. Obrigada a todos. Aguardem os posts.
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