Tuesday, September 22, 2009

Eu queria escrever como Arnaldo Jabor

Hoje no Estadão

"Devo pedir champanhe ou cianureto?"

Lendo o jornal, às vezes recorto os artigos e reservo, como faço também com escritos de Roberto da Mata e outras matérias (entrevistas e artigos assinados). Eu coleciono expressões de Arnaldo Jabor: "E como meu trabalho é ver o mal do mundo, um dia a depressão bate." Pois é, Arnaldo Jabor, estou cansada de ver o mal do mundo através do meu ofício de editor/editora. A depressão já me bateu. Apenas eu tenho a "arrogância" de escrever, que já me disseram, é altivez. Jabor é um homem deprimido, mas altivo. Tem o humor inteligente da expressão certeira: "celebridades brega", "passos-de-ganso de manequim" (hoje se diz modelo, essa aspiração generalizada de mães geralmente frívolas para suas filhas espichadas, espichada é um termo antigo, da minha avó, para as meninas da família muito crescidas). E é preciso ler até o fim esta crônica que recortei, em que vale sim nossa "esperançazinha démodé e iluminista de articulista do 'bem', impotente diante do cinismo vencedor de criminosos políticos."

Estou cansada, Arnaldo Jabor, das patologias pseudolegais, aonde a democracia não chega. As pontas soltas em que são cometidas todas as malignidades financeiras contra o cidadão desinformado, a lei é violada com a própria lei. Uma Justiça do Trabalho, que por ser politicamente correta permite a extorsão e a mentira de um funcionário que pega um advogado na rua, e mente. Não há juízes quase, há justiça burocrática. Há advocacia burocrática, mesmo nos melhores escritórios. Contraditoriamente, gosto de advogados e de consultá-los. Mas ninguém pode com a mentira, nem com o reino dos predadores, em que os dragões querem todas as donzelas por dia, as que nasceram e as que não nasceram e as que ainda nascerão. A democracia precisa chegar aos capilares da sociedade. Veja a dificuldade de se derrubar uma liminar que permite a perpetuação da censura a um grande jornal, O Estado de S.Paulo, em cujo Caderno 2 Jabor escreve, fico no meu grito surdo, como tirar a vitória constante dos predadores no Brasil. A democracia, política e econômica, tem de alcançar as pontas soltas para o mal de cada dia. Queremos o grande pão necessário, da vida, da cultura, da mesa posta para a alegria, não me refiro ao marketing de fachada e ao gozinho piegas que substitui a verdade. As distorções transformam as ações em patologias pseudolegais. O cinismo brega. Quero um código de ética para todos os ofícios. Para o meu ofício, entre muitos pares burocratas, poucos visionários com a sensibilidade ácida do Jabor que me consola com suas crônicas picantes. Nem preciso concordar com elas na totalidade dos ditos. Obrigada, Arnaldo Jabor.

Agora posso escrever o que não tinha forma, para uma louca sã, como muitos e eu:

Visão do Mal

Sou louca sem enlouquecer
Às vezes queria enlouquecer

A lucidez me arrasa
A cegueira deprime-me
a ver no escuro

Ainda tenho os cinco sentidos

Longe o conforto na "demência sã"

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