Tuesday, February 24, 2009

Ser editor, hoje Carnaval

Aqui estou
no centro do planeta fictício,
onde não se fazem canções de exílio.

Estes são os primeiros versos de um poema que eu fiz, quando ainda era alegre e desocupada, no final dos anos 1980, em homenagem ao desfile da Mangueira, no ano em que ela foi campeã. Não consegui procurar o poema. Passei o carnaval trabalhando, querendo botar a vida em ordem, as coisas em ordem, não cheguei nem perto.

Hoje eu repito estes versos, eu os repetirei sempre diante dos desfiles da Mangueira, diante de todos os desfiles da Mangueira, diante da Mangueira.

"Eu não tinha este rosto de hoje", um tanto transtornado pelas visões do inferno que são o mundo dos negócios, pela constatação de que não há defesa possível nem justiça, que a democracia é algo fora, um céu que nos protege mas ainda encobre milhares de focos de pequenas ditaduras em seus buracos sob o verniz da superfície, em que ocupam o poder absoluto os síndicos e toda gama de diretorias, desde as sindicais e todas mais, as funcionais, as cartoriais. O cotidiano é um enfrentamento a pequenos ditadores. Enfrentamos a tirania dos pais e a tirania dos filhos. A tirania dos maridos e também de algumas mulheres. A tirania dos bancários, dos burocratas, de tudo tudo que se aproveita da desinformação do interlocutor cassando-lhe os direitos básicos. Diante disso, aqui embaixo, sob o céu que nos protege, temos de levar aos nossos porões a democracia, aos nossos escritórios, aos nosssos condomínios, não somente aos perigosos grotões do Brasil profundo. Não há democracia na vida da cidade e nos negócios, os espertos constroem todos os impedimentos, acham meios de sabotar até pagamentos de contas, para que possam ganhar mais. Abusam de toda inteligência.

Já que evoquei Cecília Meireles "Eu não tinha este rosto de hoje..." vou citá-la em versos abaixo, que a liberdade que me resta, embora todos os desmandos. Quem pode nos tirar a liberdade, se o livre-arbítrio é presente de Deus e até Deus o respeita, nunca tirando-o do homem, assim continuo falando, a Mangueira continua cantando:

Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa,
Não sou alegre nem sou triste
Sou poeta.

Em nome da liberdade, convido-os a ler e reler Cecília Meireles. O que faço sempre, e sempre estou de olho na Mangueira, ouvindo o timbre inconfundível da voz do Cartola, voz da Mangueira:

Aqui estou
no centro do planeta fictício
Onde não se fazem canções de exílio.

Minha visão da Mangueira, daquele desfile quando ela foi campeã. Desfilando ao amanhecer.

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