Wednesday, October 14, 2009

13 de outubro Sai o resultado do PNBE-2010

Sai, no dia 13 de outubro, sétimo aniversário da morte de meu pai, Roberto Musa da Costa, o resultado do PNBE-2010, o melhor estruturado programa de distribuição de livros para a Biblioteca da Escola no Brasil. Modelo virtuoso que será passado a estados e municípios brasileiros, após reunião em Brasília numa aliança supraministerial, envolvendo as pessoas comprometidas com a ampliação da leitura e acesso ao livro no Brasil. Todos querem virar livro de papel, embora anunciemos a presença do livro eletrônico, que conviverá com o livro de papel, mas não o desbancará. No Brasil, nem chegamos ao acesso ao livro de papel. Nem ao desejo de se ter uma estante em casa para abrigar livros, ao lado de estatuetas e outras quinquilharias. O livro no espaço doméstico ou na cesta básica, estamos ainda longe disso. Voltemos ao PNBE-2010.

250 títulos selecionados. A virtude do programa ainda está permeada pelo vício da concentração de muitos títulos em uma só editora, ia dizendo casa editora, mas nem todas as editoras são casas editoras. São fábricas ao gosto do freguês. Atendem à indústria curricular acadêmica com edições em penca, não dando conta, outros centros de publicações apressadas se abrem. Editar livros não se faz por linha de montagem. Cada vez mais digo não à pressa, cada vez mais quero ser casa editora, fazer o livro no tempo que o livro pedir.

250 título selecionados e o vício da concentração agora paira também entre as editoras pequenas, sabotando a diversidade e a universalidade que certa vez, na Libre, reivindicamos para o programa. Não sabemos quem são os avaliadores que não se dão conta (há os selos visíveis) dessa concentração. Parece que editoras são escolhidas ou acolhidas, não livros. Salvo exceções, naturalmente.

Que a virtude do PNBE-2010 como programa não seja sabotada pelo modismo das escolhas e pelo comprometimento de avaliadores por casas que os editam, que a literatura não seja substituída pelo pedagogismo e pelo sentimentalismo piegas das narrativas fáceis e dos pseudopoemas alegrinhos. Há exceções, istorepito, mas os melhores livros de todos os catálogos de todas as editoras, grandes e pequenas, associadas e não associadas, não podem ser atropelados pelo mediano e pelos modismos temáticos e de gênero sem atenção ao conteúdo artístico e literário. A literatura e arte têm de ser regra, não exceção nas escolhas para esses bons programas. Produzir livros em penca para programas governamentais apenas confunde, quem será capaz de garimpar no areal a gema preciosa, quem recolherá do pedregulho cada diamante literário, que passa longe de escrevinhações descartáveis? A literatura não é uma imensa pedagogia, ou melhor, um imenso pedagogismo.

Meu Deus, quando se tocará com o bom livro o coração médio dos avaliadores? Há exceções, mas a média é média, mediana. Tocar com o bom livro o coração médio do público médio, este deve ser nosso talento de editores independentes, ou não. Cultura de volta à Educação, um dos lemas da Musa, ele vale tanto quanto o outro lema: Livros como seres vivos.

Estou despeitada, sim, brava, sim, particularmente brava: não sei como os avaliadores do Mec não conseguiram ver este livro essencial para as crianças, que a Musa teve a felicidade de editar: "O Elefante Infante", de Rudyard Kipling, Prêmio Nobel de 1907, apesar de Saramago, outro Prêmio Nobel ter publicado no ano passado "A viagem do elefante". Ninguém vê o "meu" elefante, Drummond viu o seu elefante. Será que de tanto falar, caí numa lista negra? Virei persona não grata ao escrever "blasfêmias" neste blog, que escrevo para 0 comments, mas há leitores, pois me escrevem? O Ministério da Cultura, por meio de seus sensíveis avaliadores, viu e soube apreciar o meu Elefante Infante de Kipling, escrito em artística linguagem clara, para Josephine, sua filha de 8 anos, e para todas as crianças do mundo que a cada ano fazem 8 anos, livro ao gosto dos adultos também. Mas adultos com muita sensibilidade.Tenho a esperança morta, mas não desisto. Não desisto também de pensar no coletivo, porque a concentração de títulos mesmo em editoras pequenas denota patologia, um vício prejudicial à bibliodiversidade.

Posso ser castigada, mas não posso deixar de dizer o que tenho a dizer sobre virtudes e vícios de programas do livro. Que a imprensa nos ajude a estirpar os vícios. Como já nos ajudou. Mas baixamos a guarda e a concentração persiste, o modismo atrai mais que a literatura essencial.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home