TRIAGENS
Sei que visitam o meu blog. Poucos deixam comentários por escrito. Por que não escrevem? Escrevam. Ficaremos todos felizes, eu muito mais.
Wilton Chaves já disse em seu comentário: Livro virou objeto de última necessidade. Por mais que celebrem o livro com a retórica dos eventos, ele diz a verdade.
O que vale mesmo é parar, pegar, folhear e comprar um livro. Visitar livrarias. Jamais se fiar em falsas estatísticas. Em ufanismos indiscretos. Nada disso importa. O que importa é ler um bom livro de um bom autor, muito longe dos 30 mais vendidos, um vício mecânico de rebanhos. Temos de garimpar os fundos de catálogo, lá estão os livros à espera de leitores na sua diversidade. Tem muita gente lendo porcaria e difundindo a porcaria como se fosse hábito de boa leitura. Da porcaria pode-se passar ao bom livro. Só por exceção. Como regra, é uma falácia. Quem lê porcaria vai continuar na mesma a vida inteira, porque seu discernimento está esgotado (sic) ou embotado.
Por isso, hoje, temos de prestigiar muito as chamadas editoras independentes, as livrarias independentes. O sortimento de títulos. A diversidade além da obviedade. A Mostra de Cinema de São Paulo é um exemplo, ela nos traz o inusitado, os filmes fora de fórmulas do mundo inteiro.
Mas o título deste post, Triagens, era para falar de outra coisa, era para contar sobre a burrice burocrática que barra no baile a obra-prima de um Prêmio Nobel, por causa de um pequeno número. É tão chocante que ainda não consegui escrever a respeito. Com nomes aos bois.
Falar de livro, mesmo em carta para grande jornal, não dá certo. Nem a Folha, nem o Estadão publicam comentários a respeito de matérias sobre livros e mercado editorial publicadas por eles mesmos em suas páginas. Escrevi para a Folha, ignoraram. Outros amigos escreveram, ignoraram. Nesta semana o Estadão trouxe matéria sobre compra de livros para o Ensino Médio, não entrevistou as editoras independentes, mandei carta (e-mail), cumpri o rito pedido pelo fórum dos leitores, ignoraram. Livro tem de ser notícia. O princípio da isonomia nos programas governamentais de compra de livros já está degringolando. Já está se operando uma triagem criminosa contra os bons autores por causa de norminhas burocráticas. O FNDE contratou o IPT para a triagem, o IPT se vê obrigado a rejeitar livros bons, por detalhes bobos impostos pelo FNDE, e bons livros não seguem seu caminho para a chamada avaliação pedagógica. Uma obra-prima para crianças, de autoria de um Prêmio Nobel, foi retida. É tradição editorial não se colocar o número da edição quando se trata de primeira edição. E este detalhe, não presente na obra inscrita (para o FNDE é regra colocar a menção, não importa que o livro já circule) boicota a avaliação do livro bem-editado. Fica-se sabendo meses depois. Segundo o IPT, bastava uma simples carta para flexibilizar a norminha burocrática, mas não foi pedida a nenhum editor. Foram muitíssimos casos, livros bons barrados no baile. Boa pauta para o Estadão, a Folha, o Globo, a Veja, a IstoÉ, a Carta Capital, a Época, o Jornal do Brasil, O Valor Econômico, a Gazeta Mercantil. Quem se habilitaria, mas sabendo ouvir as pessoas certas?
Tenho horror a leis de incentivo, a gincanas burocráticas (nem sou indisciplinada), pois não suporto nada que faça a alegria da mediocridade competitiva. Precisamos de mecenato de reconhecimento não de incentivos cruéis que tiram autores e artistas de seu labor para para se humilharem diante daqueles que nos desprezam.
Mandem comentários.
Ninguém pode esquecer a matéria de capa da revista Carta Capital sobre as compras de livros governamentais. Há muitos desdobramentos nela, que podem fazer prosseguir a discussão gerando novas matérias. Entrevistem os editores independentes, os livreiros independentes, pequenos, médios, alguns grandes, aí saberão como "as serpentes andaram" (este é um verso de Cecília Meireles). Amém.
Wilton Chaves já disse em seu comentário: Livro virou objeto de última necessidade. Por mais que celebrem o livro com a retórica dos eventos, ele diz a verdade.
O que vale mesmo é parar, pegar, folhear e comprar um livro. Visitar livrarias. Jamais se fiar em falsas estatísticas. Em ufanismos indiscretos. Nada disso importa. O que importa é ler um bom livro de um bom autor, muito longe dos 30 mais vendidos, um vício mecânico de rebanhos. Temos de garimpar os fundos de catálogo, lá estão os livros à espera de leitores na sua diversidade. Tem muita gente lendo porcaria e difundindo a porcaria como se fosse hábito de boa leitura. Da porcaria pode-se passar ao bom livro. Só por exceção. Como regra, é uma falácia. Quem lê porcaria vai continuar na mesma a vida inteira, porque seu discernimento está esgotado (sic) ou embotado.
Por isso, hoje, temos de prestigiar muito as chamadas editoras independentes, as livrarias independentes. O sortimento de títulos. A diversidade além da obviedade. A Mostra de Cinema de São Paulo é um exemplo, ela nos traz o inusitado, os filmes fora de fórmulas do mundo inteiro.
Mas o título deste post, Triagens, era para falar de outra coisa, era para contar sobre a burrice burocrática que barra no baile a obra-prima de um Prêmio Nobel, por causa de um pequeno número. É tão chocante que ainda não consegui escrever a respeito. Com nomes aos bois.
Falar de livro, mesmo em carta para grande jornal, não dá certo. Nem a Folha, nem o Estadão publicam comentários a respeito de matérias sobre livros e mercado editorial publicadas por eles mesmos em suas páginas. Escrevi para a Folha, ignoraram. Outros amigos escreveram, ignoraram. Nesta semana o Estadão trouxe matéria sobre compra de livros para o Ensino Médio, não entrevistou as editoras independentes, mandei carta (e-mail), cumpri o rito pedido pelo fórum dos leitores, ignoraram. Livro tem de ser notícia. O princípio da isonomia nos programas governamentais de compra de livros já está degringolando. Já está se operando uma triagem criminosa contra os bons autores por causa de norminhas burocráticas. O FNDE contratou o IPT para a triagem, o IPT se vê obrigado a rejeitar livros bons, por detalhes bobos impostos pelo FNDE, e bons livros não seguem seu caminho para a chamada avaliação pedagógica. Uma obra-prima para crianças, de autoria de um Prêmio Nobel, foi retida. É tradição editorial não se colocar o número da edição quando se trata de primeira edição. E este detalhe, não presente na obra inscrita (para o FNDE é regra colocar a menção, não importa que o livro já circule) boicota a avaliação do livro bem-editado. Fica-se sabendo meses depois. Segundo o IPT, bastava uma simples carta para flexibilizar a norminha burocrática, mas não foi pedida a nenhum editor. Foram muitíssimos casos, livros bons barrados no baile. Boa pauta para o Estadão, a Folha, o Globo, a Veja, a IstoÉ, a Carta Capital, a Época, o Jornal do Brasil, O Valor Econômico, a Gazeta Mercantil. Quem se habilitaria, mas sabendo ouvir as pessoas certas?
Tenho horror a leis de incentivo, a gincanas burocráticas (nem sou indisciplinada), pois não suporto nada que faça a alegria da mediocridade competitiva. Precisamos de mecenato de reconhecimento não de incentivos cruéis que tiram autores e artistas de seu labor para para se humilharem diante daqueles que nos desprezam.
Mandem comentários.
Ninguém pode esquecer a matéria de capa da revista Carta Capital sobre as compras de livros governamentais. Há muitos desdobramentos nela, que podem fazer prosseguir a discussão gerando novas matérias. Entrevistem os editores independentes, os livreiros independentes, pequenos, médios, alguns grandes, aí saberão como "as serpentes andaram" (este é um verso de Cecília Meireles). Amém.
1 Comments:
Olá!
Aguardava novos posts em seu blog, sou um dos seus leitores. Li e concordo com tudo que você escreve sobre o mercado editorial.Temos afinidades pelo tema, você por ser uma editora e comercializar livros,muitas vezes vai ao cerne das questões dos livros e eu por ter atuado no mercado de livros.Formação de leitores neste país é muito complicado, os que conseguem ler, apenas um pequeno segmento, cada vez mais fracionado por outros tipos de produtos culturais oferecidos, permanecem com leitores, visitam livrarias,disponibilizam uma grana para comprar ótimos autores, são informados, mas os outros, por onde andam? Aqui no Rio não sei como será daqui a alguns anos, como se formarão leitores se forem alunos de escolas municipais, que basta não saber ler que serão aprovados.Se esta clientela municipal por razões individuais passam à léguas de distância das livrarias, das mais luxuosas acredito que será mais ainda.Seu blog pra mim é leitura obrigatória, daí que arrolei o seu blog no meu, que aproveito para fazer um convite do meu.Trato de assuntos pertinentes ao livro. Um grande abraço e muito obrigado por mencionar o meu nome em seu texto.
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