Ser editor, hoje "Revogar o Estado do medo"
Alberto Dines fez o seu "Jornal dos Jornais", hoje ele tem o programa "Observatório da Imprensa", que vai ao ar pela TV Cultura.
Eu quero fazer, no singular, o meu "jornal do jornal", assim minúsculo, sou letra minúscula, pois ler jornal, no papel, é minha "oração da manhã" de todos os dias. A comensalidade com o mundo. Comungar a palavra dos outros. Deus fala na História?, pergunta geral e certeza para poucos. E o jornal pode ser o veículo que registra a maior parte. O jornal registra a palavra de Deus na História. Não precisa ser confessional. Tudo o que é "confessional" tende a degenerar-se em poeira sectária.
jornal do jornal
"Cartões e Crédito ao Consumidor" Informe publicitário / 5/8/2008
Acho no meio do Estadão este encarte sobre o futuro dos cartões de crédito, que já começou, anunciando-se um congresso do setor chamado C4. Primeiro, não li. Mas um jovem executivo da família, que trabalha na Lyra, me telefonou para que eu guardasse para ele o Caderno. Aí fui ler. E me surpreendi que estão acordando, diante da perversidade destruidora dos modos econômicos atuais, totalmente contraproducentes sobretudo para o consumidor e , por efeito cascata, para a Economia. Como está não dá para ficar. Destaco a entrevista com Álvaro Musa: "É preciso alongar os prazos de retorno se quisermos ser sustentáveis" e, da entrevista, o período final: "Sustentabilidade é, por definição, negócio a longo prazo. Então não se pode pensar em retorno em curto prazo, caso se pretenda ser sustentável"
Já botei o dedo nesta ferida e ela continua sangrando para os pequenos e médios empresários no Brasil. Sobretudo para os editores independentes. Da cultura dos saudosos "papagaios", que não provei, introduziram os CDCs e giros rápidos para pagamentos mensais, enquanto os editores que participamos das compras públicas de livros e "financiamos"com nossas consignações a maior parte das livrarias, somente temos retorno a longo prazo. Todas as obrigações e cobranças nos afogam no curto prazo. E a nossa longa espera tem custos e punições desnecessárias. O contexto não é analisado. Vivemos o desastre e deixamos de fazer o que a Educação e Cultura pedem em geral. Por milagre ou loucura, acabamos fazendo algumas coisas escolhidas pelos programas de Bibliotecas públicas, comunitárias e escolares. Mas temos de esperar, esperar, esperar. Enquanto vamos participando de uma gincana cruel, acorrentados às nossas cadeiras tentando pagar contas de curto prazo quando nossos retornos são de longo prazo. Desequilíbrio maior não há. Isto se chama condenação pelo próprio trabalho, trabalho com relevância social. Imagine, está vindo indiretamente das feras dos cartões de crédito essa constatação que interpreto como a busca do equilíbrio e da sustentação pela adoção do longo prazo como arma para a perenidade dos negócios.
No mesmo Informe Publicitário dos Cartões de Crédito, aparecem os palestrantes do C4 e, em destaque, sob retratos, a opinião de alguns notáveis. Entre eles, surpreendentemente, a fala do presidente do Serasa (esta ameaça sumária sobre os cidadãos) e diretor de operações da Experian para a América Latina. Foi a melhor coisa que li, em termos de mentalidade nova, embora abomine o serasismo vigente, oportunidade de abusos para os agentes do medo econômico de plantão em todos os níveis e instituições, em todas as profissões deterioriradas geradas por esse bicho-papão que não faz medo à inteligência mas aos cidadãos de bem acuados pelo curtíssimo prazo das operações bancárias e todas as suas conseqüências predatórias. Mas este senhor Francisco Valim, com o desafio de presidir uma instituição que causa medo ao povo, fala o inacreditável em termos de sabedoria econômica, fósforo aceso nessas trevas:
"Uma economia saudável depende de um sistema financeiro saudável e vice-versa. As instituições financeiras podem lucrar numa economia perversa (grifo meu), mas por um determinado prazo. Então, isso não é sustentável a longo prazo, e o que todos querem é a permanência. Por isso, o papel das instituições financeiras é obter bons resultados, financiando e gerando bons resultados para toda a economia que, forte e dinâmica, vai criar demanda ao sistema financeiro que representarão mais negócios e lucros."
Do jeito que está, não adianta prevenir, alertar sobre este jogo do crédito de curtíssimo prazo contra o jogo dos que nos fazem esperar no longuíssimo prazo, se continuar assim, pequenos e médios empresários brasileiros, sobretudo editores e livreiros independentes (embora tenhamos atividade de relevância educacional e cultural que traz perenidade de conquista e desenvolvimento pessoal e social), todos, a cada dia, encontraremos nossas esperanças mortas e a confiança sempre abalada. Em dias de guerra incruenta. Por isso, minhas noites são manhãs. Hiatos entre o horror de um dia e outro dia, a máquina desalmada da jornada de trabalho.
Encerro com Beth Néspoli, comentando o monólogo teatral de Bonassi, interpretado por César Figueiredo, peça que "aborda os conflitos do escritor que vive do seu ofício": "No palco, César Figueiredo interpreta um escritor literalmente amarrado pelo pé à sua cadeira de trabalho. Bem, ele próprio a ela se prendeu. Movido pelas contas a pagar? Ou por outras carências e desejos?"
Tanto as contas a pagar (aguilhão medonho) como outras carências e desejos impedidos de nascer pelos atos "assassinos" dos agentes econômicos que, em vez de soluções às empresas e consumidores, estão mais preocupados com os seus prontuários do que em atender bem, oferecer soluções que gerarão lucros, em vez de matar o cliente por erros crassos de burocracia. Ninguém é punido, somente o cliente. E buscar reparação e justiça custa caro. Requer tempo, como sair em busca do velocino de ouro, se estamos amarrados às nossas cadeiras.
Que as verdadeiras princesas detectem cada ervilha debaixo de seus colchões e as retirem para que tenhamos um sono melhor e nossos sonhos de humanidade prosperem. Nossa escolha é entre a vida e a perversidade econômica. Creio que este C4 sobre cartões, com algumas vozes (outros comentários sob os retratos são bem prosaicos e dentro do status quo), contribuirá para localizar alguma ervilha incômoda e retirá-la, para acordarmos melhor para o dia de trabalho, no longo prazo, vida sustentável. Contra a cultura da morte, generalizada. O medo generalizado.
Fecho com o ouro da frase do presidente da OAB Cezar Brito,:
bem sob o retrato, no alto da primeira página do Estadão, 5 de agosto de 2008:
"O que propomos é revogar no Brasil o Estado do medo. Ficamos raciocinando sempre pela lógica do medo." Destaque triplo: aspas, negrito e itálico. Ainda vou comentar essa frase, por que a destaquei com ouro?
Eu quero fazer, no singular, o meu "jornal do jornal", assim minúsculo, sou letra minúscula, pois ler jornal, no papel, é minha "oração da manhã" de todos os dias. A comensalidade com o mundo. Comungar a palavra dos outros. Deus fala na História?, pergunta geral e certeza para poucos. E o jornal pode ser o veículo que registra a maior parte. O jornal registra a palavra de Deus na História. Não precisa ser confessional. Tudo o que é "confessional" tende a degenerar-se em poeira sectária.
jornal do jornal
"Cartões e Crédito ao Consumidor" Informe publicitário / 5/8/2008
Acho no meio do Estadão este encarte sobre o futuro dos cartões de crédito, que já começou, anunciando-se um congresso do setor chamado C4. Primeiro, não li. Mas um jovem executivo da família, que trabalha na Lyra, me telefonou para que eu guardasse para ele o Caderno. Aí fui ler. E me surpreendi que estão acordando, diante da perversidade destruidora dos modos econômicos atuais, totalmente contraproducentes sobretudo para o consumidor e , por efeito cascata, para a Economia. Como está não dá para ficar. Destaco a entrevista com Álvaro Musa: "É preciso alongar os prazos de retorno se quisermos ser sustentáveis" e, da entrevista, o período final: "Sustentabilidade é, por definição, negócio a longo prazo. Então não se pode pensar em retorno em curto prazo, caso se pretenda ser sustentável"
Já botei o dedo nesta ferida e ela continua sangrando para os pequenos e médios empresários no Brasil. Sobretudo para os editores independentes. Da cultura dos saudosos "papagaios", que não provei, introduziram os CDCs e giros rápidos para pagamentos mensais, enquanto os editores que participamos das compras públicas de livros e "financiamos"com nossas consignações a maior parte das livrarias, somente temos retorno a longo prazo. Todas as obrigações e cobranças nos afogam no curto prazo. E a nossa longa espera tem custos e punições desnecessárias. O contexto não é analisado. Vivemos o desastre e deixamos de fazer o que a Educação e Cultura pedem em geral. Por milagre ou loucura, acabamos fazendo algumas coisas escolhidas pelos programas de Bibliotecas públicas, comunitárias e escolares. Mas temos de esperar, esperar, esperar. Enquanto vamos participando de uma gincana cruel, acorrentados às nossas cadeiras tentando pagar contas de curto prazo quando nossos retornos são de longo prazo. Desequilíbrio maior não há. Isto se chama condenação pelo próprio trabalho, trabalho com relevância social. Imagine, está vindo indiretamente das feras dos cartões de crédito essa constatação que interpreto como a busca do equilíbrio e da sustentação pela adoção do longo prazo como arma para a perenidade dos negócios.
No mesmo Informe Publicitário dos Cartões de Crédito, aparecem os palestrantes do C4 e, em destaque, sob retratos, a opinião de alguns notáveis. Entre eles, surpreendentemente, a fala do presidente do Serasa (esta ameaça sumária sobre os cidadãos) e diretor de operações da Experian para a América Latina. Foi a melhor coisa que li, em termos de mentalidade nova, embora abomine o serasismo vigente, oportunidade de abusos para os agentes do medo econômico de plantão em todos os níveis e instituições, em todas as profissões deterioriradas geradas por esse bicho-papão que não faz medo à inteligência mas aos cidadãos de bem acuados pelo curtíssimo prazo das operações bancárias e todas as suas conseqüências predatórias. Mas este senhor Francisco Valim, com o desafio de presidir uma instituição que causa medo ao povo, fala o inacreditável em termos de sabedoria econômica, fósforo aceso nessas trevas:
"Uma economia saudável depende de um sistema financeiro saudável e vice-versa. As instituições financeiras podem lucrar numa economia perversa (grifo meu), mas por um determinado prazo. Então, isso não é sustentável a longo prazo, e o que todos querem é a permanência. Por isso, o papel das instituições financeiras é obter bons resultados, financiando e gerando bons resultados para toda a economia que, forte e dinâmica, vai criar demanda ao sistema financeiro que representarão mais negócios e lucros."
Do jeito que está, não adianta prevenir, alertar sobre este jogo do crédito de curtíssimo prazo contra o jogo dos que nos fazem esperar no longuíssimo prazo, se continuar assim, pequenos e médios empresários brasileiros, sobretudo editores e livreiros independentes (embora tenhamos atividade de relevância educacional e cultural que traz perenidade de conquista e desenvolvimento pessoal e social), todos, a cada dia, encontraremos nossas esperanças mortas e a confiança sempre abalada. Em dias de guerra incruenta. Por isso, minhas noites são manhãs. Hiatos entre o horror de um dia e outro dia, a máquina desalmada da jornada de trabalho.
Encerro com Beth Néspoli, comentando o monólogo teatral de Bonassi, interpretado por César Figueiredo, peça que "aborda os conflitos do escritor que vive do seu ofício": "No palco, César Figueiredo interpreta um escritor literalmente amarrado pelo pé à sua cadeira de trabalho. Bem, ele próprio a ela se prendeu. Movido pelas contas a pagar? Ou por outras carências e desejos?"
Tanto as contas a pagar (aguilhão medonho) como outras carências e desejos impedidos de nascer pelos atos "assassinos" dos agentes econômicos que, em vez de soluções às empresas e consumidores, estão mais preocupados com os seus prontuários do que em atender bem, oferecer soluções que gerarão lucros, em vez de matar o cliente por erros crassos de burocracia. Ninguém é punido, somente o cliente. E buscar reparação e justiça custa caro. Requer tempo, como sair em busca do velocino de ouro, se estamos amarrados às nossas cadeiras.
Que as verdadeiras princesas detectem cada ervilha debaixo de seus colchões e as retirem para que tenhamos um sono melhor e nossos sonhos de humanidade prosperem. Nossa escolha é entre a vida e a perversidade econômica. Creio que este C4 sobre cartões, com algumas vozes (outros comentários sob os retratos são bem prosaicos e dentro do status quo), contribuirá para localizar alguma ervilha incômoda e retirá-la, para acordarmos melhor para o dia de trabalho, no longo prazo, vida sustentável. Contra a cultura da morte, generalizada. O medo generalizado.
Fecho com o ouro da frase do presidente da OAB Cezar Brito,:
bem sob o retrato, no alto da primeira página do Estadão, 5 de agosto de 2008:
"O que propomos é revogar no Brasil o Estado do medo. Ficamos raciocinando sempre pela lógica do medo." Destaque triplo: aspas, negrito e itálico. Ainda vou comentar essa frase, por que a destaquei com ouro?
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