Sunday, June 01, 2008

Ser editor, hoje

Ser editor, hoje. Ser editor independente, hoje. Ser pequeno editor independente, hoje.

Não podemos abrir a porta para qualquer um. Mesmo para aqueles que chegam com flores nos braços e promessas nos lábios. Só podemos abrir a porta para aquele que prove aquilo que se diz no poema de Emily Dickinson (não vou citar literalmente, agora, os versos,mas direi o sentido): "Quem sou eu? --- Ninguém. Quem é você? -- Ninguém. -- Então, somos um par."

Só podemos acolher aqueles com quem nos tornamos um par, porque um editor vive de acordos mútuos, na alegria e nas provações. Com a reciprocidade sadia sempre podemos estabelecer acordos, um poderá enxergar o lado do outro e acolhê-lo, mesmo que tenhamos de arrancar espinhos. Mas todos erramos em nossas avaliações e nada é linear.

Ser editor não é prestação de serviço, é projetar algo, é comungar projetos e ter o tempo para programá-los, apesar das intempéries do mercado editorial, pois vivemos ainda em uma sociedade do pré-consumo do livro. As compras governamentais são interessantes; estão, no plano federal e no Estado de São Paulo, mais abertas à diversidade e a isonomia já existe. Mas há grande caminho a percorrer, ainda tudo funciona como uma gincana cruel, na hora curta da inscrição, sobremaneira. Porque o tempo é insuficiente. Vi livrarias tradicionais fechando, editoras minguando, se o governo fizesse com essas casas e seus acervos compras de livros para pagar seus débitos tributários, como está fazendo em outras áreas, elas teriam se salvado. O centro da cidade de São Paulo despojou-se das melhores casas. O que se vê não é o estímulo ao hábito de comprar livros, mas ao de doar livros. Como poderão editores e livreiros pagarem seus fornecedores e tributos, se uma Biblioteca Nacional de Brasília, que custou milhões, com suas estantes vazias, espera também por doações das editoras? Comprar livros, um hábito necessário. Eu dizia, o consumo necessário, mas é óbvio que o hábito saudável leva ao consumo necessário dos livros.

Ser editor é aprender a não transigir. Ser editor cultural ou de criação, não apenas publicador atendente de demandas fáceis e fúteis, é sobretudo criar demandas até o inesperado.

Ser editor é fechar as portas aos oportunistas e caprichosos. Não se faz o que o outro quer, mas o que desejamos, juntos, fazer. Ser editor não é estar atrás do balcão, embora gostemos de colocar nossos umbigos diante de uma mesa cheia de livros. "Livros na mesa", como uma boa ceia.

Ser editor é nos darmos ao respeito, como gostamos de respeitar. É conquistar a liberdade. Em vez de nos escravizar. Por isso, mais do que nunca, ser editor é termos a prudência de trancar portas, abri-las somente para um par, de par em par. Mas como reconhecer um par?

(Continua) Aceito sugestões.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

People should read this.

6:40 PM  

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