Saturday, April 26, 2008

Comprar livros: o consumo necessário e O preço do pãozinho

Criei esta frase. Para o projeto A Musa Ambulante.É uma frase minha, como outras frases que crio, como gosto de dar nomes. Não confundir nomes com rótulos, dar nomes com rotular. Mas esta frase precisa ser assimilada por todos. Ela é de direito comum a todos.

Não existe neste Brasil de mentalidade rala, falo de forma generalizada, conheço as grandes exceções, o hábito de comprar livros. Comprar livros não faz parte dos itens diários de consumo. Livro deveria andar com a sacola do pão. Ontem, vejo nos jornais televisivos, que caiu o consumo do pão, o consumo do pãozinho. Eu fiquei triste, porque também tenho economizado nas minhas idas à padaria. Com a desculpa da alta do trigo tudo está subindo nas padarias a proporções ilimitadas. Há padarias do meu bairro das Perdizes, um oásis privilegiado (porque podemos andar nas ruas como numa cidade do interior com ares de metrópole e o Tuca na porta, ou cultura na porta), que sobem preços a cada semana, cada dia, cada hora. E percebemos que há cartel. Que será do livro se estamos economizando no pão? Aqui é o Brasil real. E quem foi ao Paraíso de Brasília não se dá conta disso. O Brasil real se aperta cada vez mais, sobretudo entre os pequenos empresários, os médios empresários, esta classe média que se espreme entre a vaidade, a alienação, as prestações impagáveis do imóvel financiado (em todos os edifícios as placas desesperadas, "Vende-se"), porque aos valores prometidos no tamanho inicial das prestações foram inseridos outros, de macabras manobras, e os leilões são anunciados pela Caixa Econômica Federal, em todas as cidades médias do Brasil, num exagero de abusosque o instituto da chamada alienação fiduciária permite; ela incentiva todos os abusos para confiscar a casa dos outros, mesmo que se tenha pago todas as prestções e deixado uma sem pagar, o que é válido também para os carros. Isto é um circo "internacional" para assegurar o exercício de o credor cobrar, o que impede o devedor de pagar. Impedir o devedor honesto de pagar também é crime, tirando-lhe os meios de fazê-lo. Estou horrorizada com as preços do pãozinho e com as placas de "vende-se" em todos os edifícios do meu bairro, até nos postes com proprietários oferecendo venda urgente divulgando um celular. Há aqueles que colocam faixas, enfrentando a proibição da lei da cidade limpa. Se economizamos no pãozinho, como iremos convidar os amigos para jantar, o rito da nossa eucaristia doméstica?

Quem irá comprar livros? Livros são para comprar, o consumo necessário, para que nos alimentemos por dentro, criando nossa consciência, saindo dessa alienação de escravo, algo muito diferente de sermos servidores sociais em beneficio civilizatório. Comprar livros é um ato de civilização.

Ia me esquecendo, era para dizer lá em cima. Entrei na tradicional papelaria da Rua Turiaçu (sic) e a proprietária estava dizendo que nunca atravessou tempos tão difíceis. Lá o movimento é constante e aparentemente não há razões para lamentação. Eu entrei na conversa, é o Brasil real, que ninguém enxerga. Ninguém ouve o que temos vergonha de contar, a classe média com a dignidade perdida

Tenho de concordar com Frei Betto, com quem nem sempre concordo por causa das suas muitas dicotomias, "precisamos conquistar a democacia econômica". Não há mais a chamada exploração econômica, ela exacerbou-se pela tortura econômica. A automação está a serviço do confisco a galope, mas a reparação é demorada para as vítimas, a grande maioria.

Quem irá comprar livros, o consumo necessário?

2 Comments:

Blogger Sah Elizabeth said...

"Comprar livros, o consumo necessário". Brilhante frase!

Que ela se espalhe aos quatro ventos, caia nas terras profundas de muitas mentes, germine a vontade de conhecer nos corações e frutifique em ações de busca e encontro dos melhores meios para vigorar o conhecimento.

Um grande abraço,
Sucesso!

12:10 PM  
Blogger Ana Cândida Costa said...

Obrigada, Sah Elizabeth. Uma visita inesperada a sua. Estimulante mesmo, pois precisamos consumir livros como nunca, se quisermos passar da era das informações diluídas para a verdadeira era do Conhecimento.

Um abraço,

Ana Cândida

6:07 AM  

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