Sunday, April 13, 2008

Editores Independentes: da idade da razão à ofensiva?

Hoje o título que dou ao meu post é o título de um livro, de autoria de Gilles Colleu: Editores Independentes: da idade da razão à ofensiva? Publicado pela Libre -- Liga Brasileira de Editoras, durante a Primavera dos livros 2007, ocorrida nos jardins do Palácio do Catete no Rio de Janeiro. Gilles Colleu veio para o lançamento. Ouvi-lo falar, naquela noite com poucas pessoas no auditório, foi um divisor de águas. Onde estavam os editores independentes da Primavera que não deixaram seus estandes para ouvi-lo ou sequer compareceram ao evento, enviando seus representantes? Gilles Colleu provoca a nossa consciência, ou seja, convoca-nos à conscientização do que é, nessa barbárie de leis fazendo o escárnio das leis, tornarmo-nos cada qual um editor independente. Não basta a proclamação que eu mesma fiz, do alto da minha soberbia barata, porque tenho de confessar, sofro de soberba crônica, embora queira ser humilde, mas não com a falsa humildade daquele vilão amanuense criado por Charles Dickens (foge-me o nome do personagem): "Eu sou uma editora independente." A Musa ainda não se tornou uma editora independente. Preciso ter escolha e hoje não tenho muita escolha, pois estou acossada por "devoradores".

Falando em devoradores, a Musa Editora lançou, nesta sexta-feira, 11 de abril, na Casa das Rosas, na Avenida Paulista, o romance político-policial, Devoradores, de Astolfo Araújo, o cineasta de Ibrahim do Subúrbio e sobretudo um dos editores, junto com Wladyr Nader e Hamilton Trevisan, da revista literária Escrita, que revelou desde os anos 1970 até os 1980 muitos dos escritores brasileiros hoje consagrados na mídia. Conta a história de uma vingança, cujo motivo sanguinário, está num evento ocorrido na Guerra Civil Espanhola, e um dos descendentes do anarquista atingido está entre os militantes da esquerda brasileira. A ação inicia-se desde os finais do governo João Goulart, passando por 1968, o ano que não se findou até os nossos dias. Os que sobreviveram hoje trocam e-mails e o delegado Marques, um obcecado, ainda tenta estabelecer a conexão entre os vários crimes. O livro tem projeto gráfico da Entrelinha Design, da Raquel Matsushita e da Marina Mattos, e estampa na capa uma obra do mestre espanhol Goya: Saturno devorando um de seus filhos, obra hoje exposta no Museu do Prado, Madri. Devoradores é uma boa escolha da Musa. Garantimos que será também boa escolha para os leitores, sobretudo os que gostam de obras políticas e romances policiais. Nas relações tremendas entre anarquistas e comunistas stalinistas e, na aparência bucólica do Condomínio Mutirão, a pergunta: "Quem matou Rúbio, Liana, o político Raposo, o que faz a ponte da esquerda com Brasília? "O criminoso vive entre nós."

Dois livros, um sobre o ofício de editor, o outro, sobre a militância, do sonho ao poder. Do sonho ao crime.

O sonho acabou? Gilles Colleu mostra que não, apesar de vivermos a financeirização do mundo. Há os editores de demanda, ele diz, e há os editores de oferta ou criação. Os de demanda se pautam pelo que o médio e o baixo médio querem, o mercado mais bobo (mais bobo é expressão minha) determina. Os editores de criação lançam livros que querem, livros para surpreender o público. Livros para durar, aqueles livros que podem crescer e viver conosco. Passam longe da farra consumista, querem ser lidos e relidos.

Espero que a imprensa, Folha, Estadão, Jornal do Brasil, Veja, Época, Isto É e O Globo, Valor Econômico e Gazeta Mercantil, acordem para o livro de Gilles Colleu: Editores Independentes: da idade da razão à ofensiva? E tomem conhecimento de Devoradores, do Astolfo Araújo, cujo primeiro capítulo já consta para leitura no site da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br/).

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