Thursday, May 01, 2008

O LIVRO É O LUXO

Esta é uma frase já criada. O livro é o luxo. Apesar da amada blogosfera, das apostilas impostoras plagiadoras, das apostilas prévias, de todos os manuscritos e falas, todos querem virar livro. Este objeto eterno, material, palpável, transportável, que dorme conosco, que vive conosco, que repousa conosco em silenciosas estantes.

Eu sei escrever e sei fazer livros. Livros que os outros me trazem e me surpreendem. Não pensem que editar livros é só alegria. Pode virar horror. O editor independente, como eu, para se tornar verdadeiramente independente precisa de tempo. Temos que fazer coisas muito além do curto prazo. Isto não combina com a ansiedade de muitos autores. Com essas premências curriculares e com a simples vaidade. Muitos acabam destratando o editor, batendo panelas, falando qualquer coisa em destemperos de irracionalidade. Não dá para partilhar com ninguém as suas dificuldades de editor independente, o seu projeto de longo prazo, de construir algo sólido, pois todos se comportam como crianças mimadas e malcriadas quando querem porque querem o livro para o evento, mas o tempo necessário seria nosso melhor aliado. Muitas vezes a gente releva, mas eu vejo que, para que possamos nos tornar realmente independentes, temos de deixar que os ratos deixem os nossos navios e que restem os que comungam conosco um projeto editorial consistente e ético, sem flagelações mútuas, na saúde e na doença, na alegria e na adversidade.

O LIVRO É O LUXO e muitas vezes vira objeto de disputa. Mas o Livro é o Luxo sobretudo pela realização que encerra, pois é culminância de um projeto em vida eterna. Ele poderá também andar pela rede como livro, terá um corpo material e alma imortal que circula o seu título, um livro no catálogo do Google, por exemplo. Mas ele pode ser encontrado em uma livraria. Livrarias Cultura, Saraiva, Nobel, Travessa, da Vila, Fnac (esta Fnac baniu os livros da Musa de suas estantes porque o comprador dos pequenos editores, Adão Paz, implicou com o que eu disse sobre sortimento de títulos, já comentei o assunto e repetirei, para que a direção da Fnac tome conhecimento disso, eu não dou esse poder predatório aos meus funcionários em nossa Editora Musa) e todas as livrarias independentes do Brasil, como a sempre belíssima Leonardo da Vinci no Rio de Janeiro, onde luta a dinâmica e esclarecida Milena. Sou grata a ela por prestigiar tanto a Musa, sobretudo quando vamos ao Rio por ocasião da Primavera dos Livros.

Falando em sortimento de títulos, no meu bairro, ouvi de gerente de loja de rede nacional e de referência a novos pontos de venda que se pautam pelo óbvio existente que as pessoas estão cansadas de encontrar os mesmos poucos e escancarados títulos em destaque. São leitores que querem mais, querem ir ao fundo dos catálogos, ver o que há mais de novo, de eterno, puxando a sardinha para os meus pares, o que é que os editores independentes estão fazendo. É por isso que fazemos tanto sucesso em feiras. Parabéns ao público leitor do meu bairro das Perdizes, em São Paulo. Uma gerente de livraria do Centro, ontem me falou desse bom fenômeno: o leitor pede além do óbvio em repetitivo destaque.

Para os que se espantam, eu não tento agradar. Sou meio houseana, de "House", a série da Universal da TV paga, que vejo todos os dias. Pois adoro as irreverências inteligentes, bem fundamentadas do personagem de Hugh Laurie, tenha ele razão ou não tenha razão. Como editora, sou "House", no sentido das indiocincrasias do personagem que adoro, o médico House, e no sentido maior de que sou Casa. Uma Casa Editora. Casa de Livros, o que deveria ser todas as casas, com suas bibliotecas domésticas, originadas da boa freqüência às livrarias, uma obrigação social. Vou repetir a frase do post anterior: "Livros, o consumo necessário." Um bordão para não cair na rua. Um bordão para não levar um tombo na via. Mas um bordão para se ostentar nas ruas e nessa amada blogosfera.

Comentem sobre a frase de hoje, sobretudo os livreiros e amigos do livro.

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