Tuesday, May 06, 2008

"Pedir um carro para a Volkswagen"

Todos os dias pequenas e grandes editoras recebem comoventes cartas de pessoas abnegadas que pedem livros para bibliotecas que fundaram em suas comunidades. Mesmo os funcionários de grandes empresas e universidades particulares fazem isso. Livro é para pedir, para dar, não é para ser comprado, julgam todos os consumidores de celulares de ponta, mesmo entre as chamadas classes C e D. Sempre por isso e por motivo mais nobre (o relacionar-se com livros) criei a frase: "Comprar livros, o consumo necessário". Leio no jornal que os publicitários estão voltando à sala de aula. Para se reciclar, não em qualquer sala de aula, mas nos centros universitários de excelência no mundo. Não basta mais a frivolidade e o estrelismo. Uma das justificativas é de que vivemos em uma sociedade pós-consumo. Todos temos tudo e trocamos produtos usados por novos em vez de comprá-los em primeira mão. Isto não vale para o ramo do livro nem para todos. O bom livro, este luxo eterno e insusbstituível, está na sociedade pré-consumo.

Fui a uma reunião promovida pela Liga Brasileira de Editoras -- Libre, a cada primeira segunda-feira do mês (esta caiu no dia 5 de maio), na Livraria da Vila da Fradique Coutinho, e o palestrador da noite nos jogou algo que guardei sobremaneira: "Vocês precisam criar demandas". Como editoras independentes, em geral atuamos como editores de oferta. Fica o desafio muito interessante: Como criar demandas para as nossas ofertas? É paradoxal, um oxímoro, mas tem sentido.

Criei o projeto "A Musa Ambulante: Livros ao encontro do Leitor". Usei um doblô da Fiat para fazer o carro piloto. Está na Internet e todos podem ver em http://www.musaambulante.com.br/ Não vou descrever o projeto outra vez aqui. Basta ir ao Google e escrever Viva Leitura, estamos lá.

Aqui chego à mendicância de livros, quando a obrigação é "comprar livros, o consumo necessário". Uma colega bem-humorada sugere responder: " Por que você não vai pedir um carro para a Volkswagen?"

Ela me deu uma idéia. Se a Fundação Volkswagen está patrocinando sérias promoções culturais, como o Corredor Literário da Paulista, evento que deu espaço para a Musa Ambulante, com toda honra ficar exposta no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, já estivemos estacionados até na Globosat, no pátio da Avenida Brasil, numa promoção para funcionários, em Mauá e no interior de Minas, em São Bento do Sapucaí, na Praça da Cultura, onde a Secretária Municipal de Turismo e Cultura acolheu com sensibilidade o projeto, o Estadão fotografou e publicou a foto do carro no Caderno 2 (espaço nobre) para cobrir uma promoção para as crianças na calçada da Rua Cardoso de Almeida, num sábado em que o jornalista Chicolelis lançou para as crianças o livro da Alis Editora "Pra fora, Rex!", a revista Nova Escola de abril colocou o projeto também com a foto do carro em sua página de indicação de livros, por que não? A Musa Ambulante está pedindo um carro para a Volkswagen, para operacionalizar o projeto de leitura, capaz de valorizar qualquer imagem. Pode ser qualquer montadora. Mesmo a Fiat, que recebeu publicidade de graça e sequer nos notou. Existe a Casa Fiat. Atemorizam-me leis burocráticas de incentivo à Cultura e não tenho nenhuma energia para sair de pires na mão. Conheço escritórios que trabalham, tive um projeto aprovado, que ainda não desisti dele, mas não tenho energia para enfrentar a insenbilidade do marketing empresarial para a inovação.

Vejam vocês, é sério: "A Musa Ambulante está pedindo um carro para a Volkswagen", seguindo a boa idéia resposta sugerida por uma dama do livro para responder aos pedintes contumazes e eventuais (gostaria de publicar o nome dela, que tem grande capacidade de trabalho e faz lindos livros para crianças, Ione Meloni Nassar, da Mercuryo Jovem), que acredita no projeto. Mas o projeto precisa se operacionalizar e ele não se restringe a vender livros. Ele estimula a freqüência às livrarias e bibliotecas e a formação de bibliotecas domésticas e comunitárias. Levar o livro à sociedade de consumo. Tirá-lo do pré-consumo. Ir além de nosso pequeno mundo da alienação esclarecida. Todos precisam ler e bem, ler bons livros. Como criar demandas além da auto-ajuda simplesmente? Provar literatura, a verdadeira ajuda, geradora de conhecimento além das informações ralas. Pisar fundo no acelerador de um carro cheio de livros ao encontro do leitor, em pontos móveis de cultura.

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