Ser editor, hoje Solidariedade dos pares e o "jornal do jornal"
Estar de pé. Como um bravo limoeiro na terra. Um pomar de frutas cítricas. Não temos mais de ser agradáveis quando os burocratas bancários são incentivados a ludibriar clientes com suas armadilhas arrecadatórias e enfeitar seus prontuários.
Nós nos sustentamos com operações a longo prazo. É uma evidência sem contestação. Operações a longo prazo não dizem respeito a parcelamentos mensais de longa duração, em que as prestações são sufocantes, pois contêm a perversa capitalização dos juros. O longo prazo tem a ver com tempo pra semear, produzir, plantar e colher. Tem a ver com sustentabilidade, o que é sabotado por essas prestações infindas que começam a acossar o produtor antes que ele respire. Com a minha sensibilidade apenas, pela lógica vital, sem a formação sofisticada ou deficiente de muitos economistas e de impostores de plantão (que os há em todas as profissões) intuí que o curto prazo dos empréstimos oferecidos seria algo letal, que a sustentabilidade de uma empresa só poderia ocorrer com as operações de longo prazo. Estou de olho, paradoxalmente uma esperança, nesse congresso dos cartões de crédito, C4, em que duas vozes inesperadas dos que deveriam ser advogados do diabo e se tornaram advogados dos anjos, os Srs. Álvaro Musa e Francisco Valim, tocaram no necessário longo prazo para a sustentabilidade econômica, para a vida das empresas, sobretudo dos editores independentes, acrescento eu.
Cartas pedindo livros continuam chegando todos os dias para a formação de bibliotecas. Inclusive de dedicadas mães que resolveram formar bibliotecas para os filhos, fazem edificantes solicitações às editoras, para aumentar o acervo dos filhos. Repito meu jargão: Comprar livros, o consumo necessário. Fazem parte da cesta básica, não do choro. Comprar livros.
Tenho uma máquina móvel dos cartões Visa para vender livros. Portanto, mães, livros são vendidos com cartões de crédito em todos os pontos em que chegamos, em que pretendemos ir com "A Musa Ambulante: Livros ao encontro do leitor".
As Editoras vivem de vender livros. As livrarias vivem de vender livros, os autores, os ilustradores, toda uma cadeia produtiva e distributiva de trabalhadores. Por que temos de doar livros, a única coisa que temos para vender e dela sobreviver, depois de todas as arrecadações e custos? Estamos amarrados a um emaranhado de rapinas e ainda assim estamos de pé nessa atividade: "Fazer livros não têm fim" (frase ouvida de um histórico produtor editorial, Rubens de Barros Lima, que ele atribuía a Nelson Werneck Sodré). Mesmo na era tecnológica. Ainda tudo vira livro, todos os sonhos viram livros, todos os ofícios viram livros. Os chefs criam seus pratos, passam pela Tv e pela web, mas acabam virando livros que os jornais noticiam.
Hoje, na comercialização do livro, existe um fenômeno perverso: a consignação generalizada. Essa perversidade não é adotada pelas Livrarias Cultura, Saraiva em grande parte, Leonardo da Vinci, talvez Fnac (que não prestigia editoras independentes), me lembrem outras casas, se esqueci. No geral nos pedem, por exemplo, R$1.000,00 em consignação e daí a 30 dias nos prestam conta de R$70,00. Mandamos um volume grande de livros para as mais belas lojas, e recebemos um acerto mensal pífio. Somos financiadores de boas livrarias que se expandem, e as editoras esperam e vivem mais da honra de estarem em exposição nos espaços nobres. Isto fazemos em termos corteses, mas editoras sofrem. Não é negócio mútuo, mas adesão a um esquema. Assim tudo na perversidade da Economia, em que todos os contratos são de adesão.
Ficamos arrumando saídas. A Primavera dos livros foi a grande saída das editoras independentes. Vivemos um pré-história de ouro, totalmente de inclusão. Fundou-se a Libre, outras pessoas chegaram, mas a nossa agregação corre o perigo de tornar-se desagregação, se não cuidarmos da solidariedade entre os pares. Nós nos juntamos para agirmos sob uma nova mentalidade, não para raciocinarmos em termos de exclusão de pares aderindo a uma estéril burocracia. Todos devem ser chamados a participar da Primavera. Se alguns têm problemas, devem ser resolvido de forma sábia que leve à inclusão não à exclusão da participação. Criar meios de solução. Lamento muitas ausências, quem se importa? Eu me importo. A Livraria Duas Cidades ainda tem seu acervo, é sócia fundadora, quem foi buscá-la de volta? Alguns editores morreram no caminho (Marlene Barbosa, da Beca; Nelson dos Reis, da Nova Alexandria; Evanildo Bechara (o filho), da Lucerna; Alcides (da Íbis), estes, em 2007; José Luis, da Angra, há mais tempo). É preciso homenageá-los. Há ainda aqueles bravos companheiros que deixaram a entidade, por uma razão ou outra. Isto não pode ser considerado natural. A Libre não pode se tornar uma simples financeirização do raciocínio. A Primavera dos Livros precisa recuperar a agregação originária, do contrário trai-se a si mesma. A Hedra saiu, mas foi na Editora Hedra que se deu a grande agregação, onde nos juntávamos todos. Sempre fomos uma grande assembléia geral. Onde está o Paulo Antero Barbosa, marido da Marlene; onde estão Claudia (seu papel agregador foi fundamental). Cadê Aluízio, Ivana, Martha, hoje a discreta Camila, a delicada Isabela, onde ficou perdida a nossa face que conclamava a todos com atos agregadores. Hoje é outro tempo, gente que trabalha e aperfeiçoou muita coisa, mas não podemos perder a humanidade nem a solidariedade. Quando em compra do Ministério da Cultura para o programa Uma Biblioteca em cada Município detectou-se concentração de títulos, autores, editoras e repetição de acervos, fizemos, ou melhor, Paulo Antero fez um levantamento e nós reivindicamos para o proveito de todos a modificação em virtude da ausência de isonomia. No edital do Mec, este ano, sobre obras para necessidades especiais, nenhuma informação passou pela rede. Aonde chegamos? Temos de compartilhar as informações, não os segredos de nossa programação de títulos, as informações que alimentem o princípio da isonomia. A CBL já tem um código de ética, eu me preocupo que a Libre, como membro da pré-história, não tenha um código de ética ainda. Um editor, meu par, como se fosse se fosse algo natural para sua sócia não se preocupar com escrúpulos ou ética elementar, se apossou de um título traduzido do catálogo da Musa numa negociação impertinente com macunaíma.
A Bienal se inicia. Queria estar lá, como estive muitas vezes, algumas vezes em conjunto. Mas o preço dos estandes crescem para os pequenos editores que lidam com o curto prazo nas despesas e o longo prazo para a concretização de seus negócios. A complexidade é muito maior, por isso precisamos ser mais solidários. Há muita gente trabalhando, mas não basta.
O "jornal do jornal" fica para depois
Citei os livros dos chefs de cozinha, com matéria no Suplemento Feminino do Estadão. Tenho de citar o Aliás, que tem coisas boas para ler, sobretudo a coluna do José de Souza Martins.
E o UOl (o "jornal do jornal "se estende à web) me encanta e comove com a chamada sobre o filme "Lemon Tree", história da mulher palestina, Salma Zidane, que luta para que seus limoeiros permaneçam de pé. A minha história, hoje. A história dos pequenos editores independentes, hoje. Precisamos ser mais solidários, insisto. Estarmos além da simples financeirização do mundo. Participar das Primaveras é uma forma de recuperação, para que quem sabe com essas migalhas muitas editoras permaneçam vivas. A sustentabilidade para todos. Responsabilidade nossa, os que fazemos a Primavera dos Livros.
Nós nos sustentamos com operações a longo prazo. É uma evidência sem contestação. Operações a longo prazo não dizem respeito a parcelamentos mensais de longa duração, em que as prestações são sufocantes, pois contêm a perversa capitalização dos juros. O longo prazo tem a ver com tempo pra semear, produzir, plantar e colher. Tem a ver com sustentabilidade, o que é sabotado por essas prestações infindas que começam a acossar o produtor antes que ele respire. Com a minha sensibilidade apenas, pela lógica vital, sem a formação sofisticada ou deficiente de muitos economistas e de impostores de plantão (que os há em todas as profissões) intuí que o curto prazo dos empréstimos oferecidos seria algo letal, que a sustentabilidade de uma empresa só poderia ocorrer com as operações de longo prazo. Estou de olho, paradoxalmente uma esperança, nesse congresso dos cartões de crédito, C4, em que duas vozes inesperadas dos que deveriam ser advogados do diabo e se tornaram advogados dos anjos, os Srs. Álvaro Musa e Francisco Valim, tocaram no necessário longo prazo para a sustentabilidade econômica, para a vida das empresas, sobretudo dos editores independentes, acrescento eu.
Cartas pedindo livros continuam chegando todos os dias para a formação de bibliotecas. Inclusive de dedicadas mães que resolveram formar bibliotecas para os filhos, fazem edificantes solicitações às editoras, para aumentar o acervo dos filhos. Repito meu jargão: Comprar livros, o consumo necessário. Fazem parte da cesta básica, não do choro. Comprar livros.
Tenho uma máquina móvel dos cartões Visa para vender livros. Portanto, mães, livros são vendidos com cartões de crédito em todos os pontos em que chegamos, em que pretendemos ir com "A Musa Ambulante: Livros ao encontro do leitor".
As Editoras vivem de vender livros. As livrarias vivem de vender livros, os autores, os ilustradores, toda uma cadeia produtiva e distributiva de trabalhadores. Por que temos de doar livros, a única coisa que temos para vender e dela sobreviver, depois de todas as arrecadações e custos? Estamos amarrados a um emaranhado de rapinas e ainda assim estamos de pé nessa atividade: "Fazer livros não têm fim" (frase ouvida de um histórico produtor editorial, Rubens de Barros Lima, que ele atribuía a Nelson Werneck Sodré). Mesmo na era tecnológica. Ainda tudo vira livro, todos os sonhos viram livros, todos os ofícios viram livros. Os chefs criam seus pratos, passam pela Tv e pela web, mas acabam virando livros que os jornais noticiam.
Hoje, na comercialização do livro, existe um fenômeno perverso: a consignação generalizada. Essa perversidade não é adotada pelas Livrarias Cultura, Saraiva em grande parte, Leonardo da Vinci, talvez Fnac (que não prestigia editoras independentes), me lembrem outras casas, se esqueci. No geral nos pedem, por exemplo, R$1.000,00 em consignação e daí a 30 dias nos prestam conta de R$70,00. Mandamos um volume grande de livros para as mais belas lojas, e recebemos um acerto mensal pífio. Somos financiadores de boas livrarias que se expandem, e as editoras esperam e vivem mais da honra de estarem em exposição nos espaços nobres. Isto fazemos em termos corteses, mas editoras sofrem. Não é negócio mútuo, mas adesão a um esquema. Assim tudo na perversidade da Economia, em que todos os contratos são de adesão.
Ficamos arrumando saídas. A Primavera dos livros foi a grande saída das editoras independentes. Vivemos um pré-história de ouro, totalmente de inclusão. Fundou-se a Libre, outras pessoas chegaram, mas a nossa agregação corre o perigo de tornar-se desagregação, se não cuidarmos da solidariedade entre os pares. Nós nos juntamos para agirmos sob uma nova mentalidade, não para raciocinarmos em termos de exclusão de pares aderindo a uma estéril burocracia. Todos devem ser chamados a participar da Primavera. Se alguns têm problemas, devem ser resolvido de forma sábia que leve à inclusão não à exclusão da participação. Criar meios de solução. Lamento muitas ausências, quem se importa? Eu me importo. A Livraria Duas Cidades ainda tem seu acervo, é sócia fundadora, quem foi buscá-la de volta? Alguns editores morreram no caminho (Marlene Barbosa, da Beca; Nelson dos Reis, da Nova Alexandria; Evanildo Bechara (o filho), da Lucerna; Alcides (da Íbis), estes, em 2007; José Luis, da Angra, há mais tempo). É preciso homenageá-los. Há ainda aqueles bravos companheiros que deixaram a entidade, por uma razão ou outra. Isto não pode ser considerado natural. A Libre não pode se tornar uma simples financeirização do raciocínio. A Primavera dos Livros precisa recuperar a agregação originária, do contrário trai-se a si mesma. A Hedra saiu, mas foi na Editora Hedra que se deu a grande agregação, onde nos juntávamos todos. Sempre fomos uma grande assembléia geral. Onde está o Paulo Antero Barbosa, marido da Marlene; onde estão Claudia (seu papel agregador foi fundamental). Cadê Aluízio, Ivana, Martha, hoje a discreta Camila, a delicada Isabela, onde ficou perdida a nossa face que conclamava a todos com atos agregadores. Hoje é outro tempo, gente que trabalha e aperfeiçoou muita coisa, mas não podemos perder a humanidade nem a solidariedade. Quando em compra do Ministério da Cultura para o programa Uma Biblioteca em cada Município detectou-se concentração de títulos, autores, editoras e repetição de acervos, fizemos, ou melhor, Paulo Antero fez um levantamento e nós reivindicamos para o proveito de todos a modificação em virtude da ausência de isonomia. No edital do Mec, este ano, sobre obras para necessidades especiais, nenhuma informação passou pela rede. Aonde chegamos? Temos de compartilhar as informações, não os segredos de nossa programação de títulos, as informações que alimentem o princípio da isonomia. A CBL já tem um código de ética, eu me preocupo que a Libre, como membro da pré-história, não tenha um código de ética ainda. Um editor, meu par, como se fosse se fosse algo natural para sua sócia não se preocupar com escrúpulos ou ética elementar, se apossou de um título traduzido do catálogo da Musa numa negociação impertinente com macunaíma.
A Bienal se inicia. Queria estar lá, como estive muitas vezes, algumas vezes em conjunto. Mas o preço dos estandes crescem para os pequenos editores que lidam com o curto prazo nas despesas e o longo prazo para a concretização de seus negócios. A complexidade é muito maior, por isso precisamos ser mais solidários. Há muita gente trabalhando, mas não basta.
O "jornal do jornal" fica para depois
Citei os livros dos chefs de cozinha, com matéria no Suplemento Feminino do Estadão. Tenho de citar o Aliás, que tem coisas boas para ler, sobretudo a coluna do José de Souza Martins.
E o UOl (o "jornal do jornal "se estende à web) me encanta e comove com a chamada sobre o filme "Lemon Tree", história da mulher palestina, Salma Zidane, que luta para que seus limoeiros permaneçam de pé. A minha história, hoje. A história dos pequenos editores independentes, hoje. Precisamos ser mais solidários, insisto. Estarmos além da simples financeirização do mundo. Participar das Primaveras é uma forma de recuperação, para que quem sabe com essas migalhas muitas editoras permaneçam vivas. A sustentabilidade para todos. Responsabilidade nossa, os que fazemos a Primavera dos Livros.
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