Saturday, October 17, 2009

Notícias de Frankfurt, Fernanda Montenegro, Barack Obama

Acompanhamos a feira pelos enviados especiais, Ubiratan Brasil (Estadão), Marcos Strecker ((Folha). A notícia que abriga as notícias é que a maior feira de livros de todas, famosa em todo o mundo, é que esta é uma edição econômica. Mas as fotos que ilustram a matéria mostram que não deixou de ser bela. "Funcionária ajeita ´parede´de livros na Feira de Frankfurt, é legenda da Ilustrada para uma inusitada foto de Michael Probst/ Associated Press. Fiquei olhando encantada, gosto de ver retratos, numa extensão semântica para designar qualquer fotografia. Parede de livros, uma parede de livros é o que deve existir em cada casa. Essas paredes disseminadas criarão público para as editoras, compostas por bons livros em todas as suas plataformas: em papel e as digitais, ou mistas, um livro digital pode estar casado com um livro de papel, para que seu leitor deguste os dois meios. Uma parede de livros significa a biblioteca doméstica, tomada por uma estante cheia. Livros são boa companhia, há aqueles que nunca serão descartáveis. Os não-livros são descartáveis.

Vou citar Gilles Lapouge na mesma página do Caderno 2 deste sábado, no seu artigo "Chineses à parte, feira é de dois gigantes americanos -- Google e Amazon dominam o maior combate cultural de hoje": "...Sem que se possa culpar a internet, o hábito da leitura está regredindo. Na França, a ´não-leitura´ é generalizada. Mesmo entre os 'quadros superiores' , as pessoas que nunca leem nada são cada vez mais numerosas. Além disso, elas leem cada vez menos romances e literatura, e cada vez mais 'não-livros' (manuais, livros ilustrados...).

Entendo que a 'não leitura' é a proliferação do descartável. Do meramente descartável. Daquilo que tem prazo de validade e não é feito para crescer e viver conosco. Mas só para vender, vender depressa (aqui faço uma remissão ao poema 'Com usura', de Ezra Pound, na tradução de Augusto e Haroldo de Campos. Descartável também, não-leitura ou não livro, é certa literatura infantil que se apossa do nome e somente pode ser taxada literatura pueril. Há muito não-livro nas escolhas governamentais de livro, porque nos habituamos à não-leitura. Deixamos passar o diamante e levamos para casa o cascalho. Cobro mais uma vez com a sugestão de pauta: O modismo nas escolhas governamentais de livros. Quando passaremos à leitura, saindo do engessamento? Uma nova sugestão ao FNDE: que mandemos os livros destinados ao ensino fundamental, sem classificações intermediárias e os acervos sejam tirados do melhor que enviamos, porque podemos erroneamente inscrever num módulo o que caberia melhor em outro.

Ubiratan Brasil entrevistou Saramago, de quem gosto e discordo no tocante à Igreja Católica. Quer queiramos ou não, como disse João Ubaldo Ribeiro, nós, os deste lado do mundo, a grande maioria, somos culturalmente católicos. Entre todos os pecados da Igreja, como não admirar Cristo em toda a sua glória presente nas manifestações artísticas admiráveis no Vaticano e em todas as catedrais e bibliotecas monásticas? Isto é mais que patrimônio de uma religião, mas de toda a humanidade. O mesmo prazer estético nos lega as crenças orientais. Deus está dentro do homem, como presença mais do que como invenção.

Ubiratan Brasil participou da coletiva com os Prêmios Nobel, e também anotou respostas de Herta Müller, Nobel de 2009, uma delas destaco: "Para enfrentar o sofrimento, um dos caminhos encontrados é transformar a fome em um companheiro, porque está sempre presente." Entendi o drama humano desta declaração, mas acrescento a fome de boa leitura, que são as verdadeiras obras literárias, deve ser sempre nossa companheira e sempre ser saciada com a boa literatura. Ainda não foi abolido o Prêmio Nobel de Literatura. Pois que conquistemos novos públicos para a escrita literária, a leitura sobrepujar a não-leitura vigente por pragmatismo carreirista.

Viagem no feriado, dia santo de Nossa Senhora Aparecida, feriadão no Brasil, fui visitar minha mãe em Minas. Lá, há livros sobre as mesas. Havia um livro de Barack Obama, publicado pela Editora Gente, e eu o li inteiro. Era o relato autobiográfico de Obama, desde seus tempos de menino, passando pela sua iniciação como organizador popular em Chicago e o relato de sua viagem à África de sua metade de origem. Pude ouvir Obama, e ter uma visão mais adequada da África. Antes da viagem ao abril a página do UOL, deparei-me com a notícia: Barack Obama recebe o Prêmio Nobel da Paz. Estou celebrando. Torço por Obama e sei que sua luta tem como palco a boca do monstro. Ele precisa da perseverança de todos os nossos apoios. Ele não é um chefe mercenário. Agradeceu o prêmio com modéstia, sem falsa humildade.

Fernanda Montenegro faz 80 anos. A matéria sobre ela no Caderno 2 lhe faz justiça. É uma unanimidade nacional. A unanimidade só não é burra quando estamos diante da integridade. Reconhecimento a Fernanda Montenegro, atriz.

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