Saturday, December 05, 2009

O livro desprezado em ruidosas celebrações Ser editor, hoje

Para a vida editorial, para a chamada economia do livro, não basta bajular o produto livro. Temos é de ir fundo nos problemas de seus atores, desde a concepção do texto pelo autor, todo o trabalho de edição em todas as fases necessárias, incluindo-se a divulgação e comercialização (não basta pegar um texto, mandar para a gráfica imprimir, tal desleixo atropelando etapas necessárias à finalização de uma edição mataria fisicamente o livro, roubando-lhe corpo e alma), até obtermos a figuração final da aparência única, o objeto exposto de preferência na vitrine ou numa estante de boa livraria, grande ou pequena, em meio à diversidade de bons títulos. Cria-se o surpreendente. Que livros sejam comprados (precisamos consumir livros, não só individualmente, levá-los para casa ou para doá-los para nossa comunidade). Persistem os pedidos de livros às editoras para a formação de bibliotecas comunitárias ou empresariais, inclusive algumas patrocinadas por empreiteiras. Sugiro publicamente que convoquem os cidadãos locais a comprarem livros das livrarias, dos distribuidores e das editoras para doarem a esses pontos geridos por abnegados. Os abnegados que criam bibliotecas poderiam aumentar as edições pelas editoras, que escolheram publicar os livros além dos modismos dos best-sellers e da autoajuda e das demais restrições repetitivas em todos os pontos do mercado, têm o dever de pedir aos conterrâneos que comprem livros para doar, como as sacolas de gêneros alimentícios que apresentam nas campanhas comunitárias de combate à fome ou caritativas.
O público quer variedade, graças a Deus os frequentadores de feiras estão cobrando. No Brasil, repito, o livro está ainda na era do pré-consumo. Por falta de estímulo, por falta de oferta e sobretudo por desprezo. Paga-se por um cinto, exibe-se um celular (isto em todas as classes sociais, A, B, C, D e E), mas quando chega a hora do livro pede-se de graça ao editor, que paga sim impostos,tem compromissos trabalhistas e custos fixos elevados, é obrigado a assimilar o preço dos estandes nas feiras, até nas feiras universitárias que cobram muito e na hora do intervalo alocam ônibus do shopping center local para levar congressistas às suas lojas, deixando a feira de livros que promoveram às moscas no precioso intervalo, sem se dar conta que exigem descontos e cobraram muito pelos estandes (uma boa feira universitária se faz com boas mesas de livros, como a Festa do Livro da Usp), aguentar a troca de favores na ponta das escolhas governamentais de livros, que promove a concentração agora em editoras pequenas que editam coordenadores de formação de acervos e cadernos de órgãos universitários a estes relacionados (eu estava distraída e um dos meus pares que faz pesquisas e levantamentos na área chamou-me a atenção, e eu vi, quando um vendedor me apresentou cadernos de um órgão, desses que fazem congressos, reflexões válidas outras equivocadas e dão as cartas), aí eu relacionei com o que me disseram, perdi a voz, é mais grave do que parece, mas na área do livro só há lugar para ufanismos inúteis, queremos ver é um funcionamento justo em todas as pontas. Voltando aos pedidos diários de doações, que se tornam mais numerosos do que os de compras,vamos mendigar celulares às companhias telefônicas como mendigamos livros? COMPRAR LIVROS, O CONSUMO NECESSÁRIO. Acordemos para isso, nos dois sentidos, por acordo tácito entre os cidadãos e pelo despertar da nação.

Soluções para o livro. Elas não nascem de meras celebrações, muitas vezes de pseudoconquistas. Precisamos consolidar virtudes, sem que os vícios aflorem nas pontas. E os obstáculos se tornem menores na viabilização dos programas governamentais de livros.

Qual a personalidade federal poderá convocar a nação brasileira a consumir livros? Ao mesmo tempo que carros, celulares e produtos da linha branca? Consumir livros inclusive para doar às bibliotecas comunitárias e empresariais é a caridade necessária.Com livros pode-se fazer a caridade gestada nos corações, por que não? Um livro em seu coração, para doá-lo, vivo.

LIVRO É BEM DE MÉRITO. Isto é linguagem de Economês, aprendi com Jorge Kornis,economista do BNDEs, na Exposição que fez da pesquisa sobre mercado do livro no Brasil, na Primavera dos Livros do Rio de Janeiro. Há os chamados BENS DE DEMÉRITO. Registrarei aqui o que anotei durante sua fala. O que ouviu-se e falou-se nesta Primavera do Rio é assunto para muitos dias, melhor assunto para muito tempo, assunto para todo o tempo.

Agora tenho lágrimas nos olhos. Meus olhos se enchem inteiramente de lágrimas. Esgotados todos os recursos. Queremos fazer o certo. Você faz o certo. Ninguém aceita a inteligência. Boicotam-na. Esgotados todos os recursos, repito. Geram-nos a impotência. Diante do óbvio a ser feito. Solapam as soluções criando casos,pior, exibindo a plena cegueira (a gente vê a sujeira dessa tragédia da cegueira que é de todos nós, não escapam advogados, ninguém, na tela do cinema do filme de Fernando Meireles).Ficamos à espera. Com a esperança morta. Matam qualquer possibilidade, matando-nos de cansaço. Desisto dos demônios. Saio à procura de Deus, da Nossa Senhora das Graças no quadro na parede do quarto da tia Tininha esmagando a serpente com o frágil calcanhar, dos verdadeiros santos católicos que eu enxergava frente aos altares das igrejas de Minas, os forros com afrescos pintados hoje apagados da matriz de Virgínia. Quero Natal agora e não entregar livros pedidos de última hora, embora seja bom estar num programa federal, estadual ou municipal. Quero meu presépio do Menino Jesus, "deus nos cueiros", uma expressão de um Auto de Natal de Santa Teresinha. Quero fazer livros para entregar, não hoje,com o punhal às costas, quando a cidade para, o trânsito nos tranca, o dinheiro durante o ano foi contigenciado pelos tesouros e agora ou entramos em "A Noite dos Desesperados" e competimos na dança com Jane Fonda ou seremos mortos, como somos todos os dias. Porque aqui é o Brasil real, em que somos partícipes de uma gincana cruel. Boas livrarias fecharam, isto poderia facilmente ser impedido. Se não houvesse o hábito burocrático de nos mandar a todos para o inferno. Mas não caímos. Os que tombam pelo caminho, gostaríamos que caminhassem conosco. Neste Natal, uma trégua para tirar férias.

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