Ser editor, hoje A tão esperada lista do PNBE 2009
No mês em que se comemora o Dia da Criança sai a esperada lista das obras selecionadas pelo FNDE-MEC, Programa Nacional Biblioteca da Escola, para as últimas séries do Ensino Fundamental (300 obras) e para o Ensino Médio (300 obras), num universo de inscrições de mais de 2.000 títulos. É um programa que merece ser celebrado e repetido, mas ainda há que aperfeiçoá-lo, livrando-o dos vícios, em prol da democracia, da isonomia e da literatura.
Obras literárias de primeira linha foram escolhidas, ao lado de textos medianos e predominância mais do critério pedagógico do que do literário. O instrumental sempre atropela o literário, na média dos casos. Temos de celebrar as obras verdadeiramente literárias escolhidas sobretudo para o Ensino Médio. E há textos literários de sobra nos catálogos das editoras que ficaram de fora. Prevalece sempre a temática, a camisa-de-força dos gêneros (muitas vezes poemas escolhidos nem são poesia, são lirismos fáceis, muitas vezes temos de lembrar Mario de Andrade em frase aos seus interlocutores candidatos a poeta, em 1930: "Você chegou ao lirismo, mas ainda não chegouà poesia" e eu acrescento que há versos edificantes nos livros infantis que nem ao lirismo chegaram). Repetindo, prevalece a temática, o gosto médio, a adaptação em lugar do texto genuíno dos clássicos. Muitos grandes nomes escreveram obras-primas para as crianças, para as suas, para as dos outros e as do mundo, em termos de atualidade e posteridade. Não basta uma história, mas a diferença está no modo de contá-la, a palavra artística para formar o gosto das crianças e do jovem leitor. Há bons autores brasileiros escrevendo e que escreveram e voltaram em reedições, como a Cacy Cordovil, com seus contos em "Ronda de Fogo", livro originalmente publicado pela grande José Olympio, nos anos 1930, celebrado pela crítica, e que voltou pela Musa 57 anos depois. É um livro sutil, com capa de Diana Mindlin, a ilustração de Santa Rosa, por licença concedida, ainda presente na capa. Cacy foi a primeira musa de Vinícius de Morais, ainda menina os dois estudaram no mesmo colégio do Rio de Janeiro. Ele escreveu para ela o primeiro poema. Isto está relatado por José Castello em "O poeta da paixão", biografia de Vinícius. Contos ótimos para deleite do Ensino Médio. O que há de melhor é que um dos contos de Cacy, deste livro, "A Carta", foi escolhido, por um dos maiores escritores da atualidade brasileira, para fazer parte da antologia dos Cem melhores contos brasileiros. Esta é uma homenagem à memória de Cacy Cordovil, continuarei insistindo para que os programas governamentais, como os bons críticos literários enxergaram bem, enxerguem o seu livro. "Ronda de fogo", contos.
Aproveito a deixa: livros infantis não precisam ser berrantes, nem nas cores, nem no apelo, mas sutis. Nos textos, o instrumental não pode atropelar o literário, nem o edificante se fingir de literatura. A temática somente vale se for tratada com linguagem de genuíno escritor. Mas quem irá enxergar a sutileza, se estamos cegos e só nos apegamos ao óbvio? Ir além do óbvio, todos nós, de forma mais ampla. Os critérios pedagógicos não podem atropelar os literários. Saramago já disse que quando morrerem todas as ciências, só restará a literatura. Preciso encontrar a frase exata, para citá-la literalmente.
O mais grave, que o FNDE precisa corrigir, e isto já vem da formação de outros acervos e foi parcialmente corrigido, é a questão da concentração de títulos em um grupo editorial ou editora isoladamente. Tínhamos, no edital do PNBE 2009, um número como teto para a inscrição, se não me falha a memória 15 para cada categoria, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em cláusula justa. Por que na escolha não se sugeriu um teto para as editoras e grupos editoriais? Teto como via de mão única somente para inscrição perpetua o vício de acervos anteriores da concentração de títulos. Mesmo que a Musa tivesse sido uma das editoras felizardas com escolha de mais de uma dezena de títulos, eu faria esta observação. Quando lutamos pela isonomia, pela democratização e pela adoção de livros de catálogo, a Musa estava no programa, quando outros não estavam. PNBE 2010, ver a mão dupla, limite para inscrição e limite para número de obras escolhidas de cada editora. Assim, outras poderão entrar e a bibliodiversidade vai se tornando realidade, deixando de ser apenas bandeira.
Nesta Semana da Criança, no Dia da Criança, recomendo a leitura de dois belíssimos livros do catálogo da Musa:
O Elefante Infante, de Rudyard Kipling
Tradução de Adriano Messias
Ilustrações de Fernando Vilela
Projeto gráfico de Raquel Matsushita e Marina Mattos
Em todas as boas livrarias do País (Procurem na Cultura, Travessa e Saraiva e nas livrarias independentes, que pequenas livrarias dedicadas ao público infantil também só enxergam o óbvio, nada além, mas há aquelas que enxergam, belíssimas exceções)
O Sapo Apaixonado
Donizete Galvão
Ilustrações de Mariana Massarani
Projeto gráfico de Raquel Matsushita e Marina Matos
Também nas boas livrarias do país, com os mesmos comentários
Já foram livros indicados como presente de Natal e no hot site dos mesmos estão os detalhes. Hot site dentro do site: http://www.musaeditora.com.br/
Obras literárias de primeira linha foram escolhidas, ao lado de textos medianos e predominância mais do critério pedagógico do que do literário. O instrumental sempre atropela o literário, na média dos casos. Temos de celebrar as obras verdadeiramente literárias escolhidas sobretudo para o Ensino Médio. E há textos literários de sobra nos catálogos das editoras que ficaram de fora. Prevalece sempre a temática, a camisa-de-força dos gêneros (muitas vezes poemas escolhidos nem são poesia, são lirismos fáceis, muitas vezes temos de lembrar Mario de Andrade em frase aos seus interlocutores candidatos a poeta, em 1930: "Você chegou ao lirismo, mas ainda não chegouà poesia" e eu acrescento que há versos edificantes nos livros infantis que nem ao lirismo chegaram). Repetindo, prevalece a temática, o gosto médio, a adaptação em lugar do texto genuíno dos clássicos. Muitos grandes nomes escreveram obras-primas para as crianças, para as suas, para as dos outros e as do mundo, em termos de atualidade e posteridade. Não basta uma história, mas a diferença está no modo de contá-la, a palavra artística para formar o gosto das crianças e do jovem leitor. Há bons autores brasileiros escrevendo e que escreveram e voltaram em reedições, como a Cacy Cordovil, com seus contos em "Ronda de Fogo", livro originalmente publicado pela grande José Olympio, nos anos 1930, celebrado pela crítica, e que voltou pela Musa 57 anos depois. É um livro sutil, com capa de Diana Mindlin, a ilustração de Santa Rosa, por licença concedida, ainda presente na capa. Cacy foi a primeira musa de Vinícius de Morais, ainda menina os dois estudaram no mesmo colégio do Rio de Janeiro. Ele escreveu para ela o primeiro poema. Isto está relatado por José Castello em "O poeta da paixão", biografia de Vinícius. Contos ótimos para deleite do Ensino Médio. O que há de melhor é que um dos contos de Cacy, deste livro, "A Carta", foi escolhido, por um dos maiores escritores da atualidade brasileira, para fazer parte da antologia dos Cem melhores contos brasileiros. Esta é uma homenagem à memória de Cacy Cordovil, continuarei insistindo para que os programas governamentais, como os bons críticos literários enxergaram bem, enxerguem o seu livro. "Ronda de fogo", contos.
Aproveito a deixa: livros infantis não precisam ser berrantes, nem nas cores, nem no apelo, mas sutis. Nos textos, o instrumental não pode atropelar o literário, nem o edificante se fingir de literatura. A temática somente vale se for tratada com linguagem de genuíno escritor. Mas quem irá enxergar a sutileza, se estamos cegos e só nos apegamos ao óbvio? Ir além do óbvio, todos nós, de forma mais ampla. Os critérios pedagógicos não podem atropelar os literários. Saramago já disse que quando morrerem todas as ciências, só restará a literatura. Preciso encontrar a frase exata, para citá-la literalmente.
O mais grave, que o FNDE precisa corrigir, e isto já vem da formação de outros acervos e foi parcialmente corrigido, é a questão da concentração de títulos em um grupo editorial ou editora isoladamente. Tínhamos, no edital do PNBE 2009, um número como teto para a inscrição, se não me falha a memória 15 para cada categoria, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em cláusula justa. Por que na escolha não se sugeriu um teto para as editoras e grupos editoriais? Teto como via de mão única somente para inscrição perpetua o vício de acervos anteriores da concentração de títulos. Mesmo que a Musa tivesse sido uma das editoras felizardas com escolha de mais de uma dezena de títulos, eu faria esta observação. Quando lutamos pela isonomia, pela democratização e pela adoção de livros de catálogo, a Musa estava no programa, quando outros não estavam. PNBE 2010, ver a mão dupla, limite para inscrição e limite para número de obras escolhidas de cada editora. Assim, outras poderão entrar e a bibliodiversidade vai se tornando realidade, deixando de ser apenas bandeira.
Nesta Semana da Criança, no Dia da Criança, recomendo a leitura de dois belíssimos livros do catálogo da Musa:
O Elefante Infante, de Rudyard Kipling
Tradução de Adriano Messias
Ilustrações de Fernando Vilela
Projeto gráfico de Raquel Matsushita e Marina Mattos
Em todas as boas livrarias do País (Procurem na Cultura, Travessa e Saraiva e nas livrarias independentes, que pequenas livrarias dedicadas ao público infantil também só enxergam o óbvio, nada além, mas há aquelas que enxergam, belíssimas exceções)
O Sapo Apaixonado
Donizete Galvão
Ilustrações de Mariana Massarani
Projeto gráfico de Raquel Matsushita e Marina Matos
Também nas boas livrarias do país, com os mesmos comentários
Já foram livros indicados como presente de Natal e no hot site dos mesmos estão os detalhes. Hot site dentro do site: http://www.musaeditora.com.br/
0 Comments:
Post a Comment
<< Home