Saturday, December 12, 2009

A. P. Quartim de Moraes, enquanto medito sobre seu artigo no Estadão, "Mais uma na ferradura", sobre a cadeia livreira

publico poemas, ainda tento fazer um texto sobre a pesada censura ao Estadão, agora apadrinhada pelo Supremo, coerente ao apagão geral de valores em todas as instãncias (advocatícias, judiciais, pessoais, editoriais, morais, governamentais, privadas, tudo pautado pelo mais baixo denominador comum, bem abaixo das grosserias do que chamamos mediocridades) e, por escala, de primeira instância para cima, sentenças pautadas em pseudotecnicismos do direito, que nos brindam com justificativas falsas. Com exceção dos bons advogados, letrados além do mediano em literatura e humanidades e conhecedores do direito em termos de reciprocidade, essas justificativas falsas povoam as respostas daqueles que procuramos em busca dos direitos e sempre vêm com elas a sabotar nossos direitos mais básicos. Por que então procurar um advogado, se nos devolve a tarefa da defesa? Fez-se tudo, para nada? Censura ao Estadão, ficamos todos na mão. Celebração dos malfeitos. Aindo cobro da imprensa que fale o suficiente, a imprensa fala de menos. Ela deve ao mercado do livro no Brasil muitas e muitas matérias, não falo de registros de saídas de livros, falo de aprimoramento das relações na cadeia livreira. Discutir o mercado editorial, em reportagens a fundo, sem medo de prejudicar interesses e cooptações várias.Os desequilíbrios gerados no seu funcionamento privado/ privado, sobretudo público/privado. No ramo do livro, está acontecendo algo, que promove o total desequilíbrio entre exigências às editoras e a mais cabal insensibilidade com relação ao problema das impressões de livros. Não entendem que não podemos fazer baixas tiragens, para entregas a granel. Se as editoras fizeram a tiragem toda, para obterem viabilidade econômica, ameaçam suspender o programa. Mas ninguém suspende programas, onde as escolhas foram viciadas e há provas espalhadas pela própria internet.

Como saiu um edital às pressas, para o PNBE-2010, bom para todos, mas com inscrições em cima da hora, eu gostaria de inscrever um livro e falei a um dos meus colaboradores terceirizados e de outras boas editoras, ele falou: "Não se preocupe, haverá cartas marcadas." Vou inscrever o que tenho. Porque boas pessoas que conheço entraram numa gincana cruel para fazer livros depressa e inscrever. Eu tenho meus livros de catálogo e os apresentarei. Abomino gincanas. Não fomos nós que reivindicamos e fomos atendidos pelo Ministro da Educação e pelo FNDE para que nossos livros de catálogo fossem acolhidos? Nossos projetos para todos também para as crianças das bibliotecas escolares públicas. Um dono de gráfica disse que eu deveria seguir certas editoras e cortar a orelha dos meus livros, as belas orelhas com a presença de evocações a Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Repetiríamos a tragédia de Van Gogh?. Aqui sempre evoco Caetano: "Luxo para todos", nem que seja o luxo frugal de arte gráfica despojada, mas arte de designer de ponta. Nada pior do que o designer médio, a poluição embusteira.

Os poemas dos meus "Diários", não ia escrever sobre o que acima escrevi e quero detalhar, mas adiantei, agora, poemas para mulheres, especialmente, pois os ignorantes caçoam de nós, caluniam, sim, eu não me dava conta, mas são poemas que não se pretendem de gênero ou instrumentais, têm a condição humana, são apenas poemas sozinhos:

Burka*


Véus subalternos Debaixo dos véus
os cabelos emudecem Panos crus
Opaco do rude Tecidos com mãos
de sangue Adaga empunhada
contra o frágil Não reage a mulher

Disfarça-se o mundo Oculto enigma
do rosto Pernas invisíveis do andar

Compõe-se uma vida Mistérios
chorosos Estupros e o limbo

Cidades feitas de poeira Tirá-las
das conchas São belas As pérolas

do Afeganistão e meninas As papoulas
rubras sob azuis O mundo para nós

Aqui ou acolá Confinadas no harém


* Fui visitar o ateliê da minha amiga artista plástica, Laura Cardoso, e deparei com um quadro grande, "Burka", uma mulher com uma burca. Quero comprá-lo, mas como um editor pode ter dinheiro em meio a tantas distorções e vícios de ofício, perpetrados por pares e autoridades?


Mês

Medo do tempo que passa e a conta
laça Só o contimento descansa-nos
O compromisso é mais forte Andemos


Aniversário

Surpreende-nos a sintaxe Tecemos
com palavras os mitos Desovam-se
estrelas Luzes ao infinito no céu

Uma abóbada escura Que o azul abarca
Espera-se o nascer do sol Ao massacre
do dia pleno, desejo crepúsculos Esta noite

Em tua ceia Velas iluminam a refeição

A festa, um pingente de lâmpada
balança sobre a mesa Cadeiras ao redor
O arrimo eucarístico das mãos Eles chegaram

O bolo e seu artifício Fogos da idade

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