Meu blog chora (continuação) O preço do livro e a punição dos editores
Todos reclamam do preço do livro. Gritam contra os editores. Não somos os editores, culpados.
Mas a desinformação sobre o ofício de editor que sabota a necessidade de baixar os custos, que não conseguimos, com influência de cada fator abaixo, cada exigência descabidamente "inocente" que pune apenas os editoras e, por tabela, exclui economicamente o leitor. Vou enumerar aleatoriamente, mas são cada tópico uma chamada à reflexão geral sobre o mercado do livro, que não pode se ater a notícias efusivamente ufanistas epidérmicas, porque regulamentar procedimentos de forma justa é preciso. Tudo se desequilibra na ponta do editor e daqueles que compõem o processo de edição: os trabalhadores do livro, no âmbito da criação, da produção, da divulgação e da comercialização.
Eis a sabotagens por desinformação, inconsciência e desconsideração à vida real na cadeia do livro:
1.Tiragens baixas aumentam o preço do livro. Mas em bons programas governamentais, com entregas a granel, como o excelente "Mais Cultura" do Ministério da Cultura, tivemos de fazer a tiragem toda com o compromisso de manter nossos preços durante um ano. Muitas editoras estamos com os livros nos armazéns da gráfica e não recuperamos nossos investimentos para fazer novos livros. O mercado editorial é composto, na sua maioria, por editoras pequenas e independentes. Aqui não pode prevalecer a lei do mais forte. Tem de haver justiça para todos, ninguém quer privilégios (embora as regras favoreçam os mais fortes, ou, os mais espertos), precisamos entregar nossos livros feitos. Boatos circulam, os livros feitos não serão mais entregues. Contamos com seu discernimento, ministro Juca Ferreira.
2. Selos em quatro cores: Um programa de Prefeitura que nos encomendou tiragem alta de um livro no ano passado, neste ano nos pediu o mesmo livro em tiragem bem mais baixa. Antieconômica, com a exigência, em nova ortografia. Embora tenhamos estoque, tivemos de fazer o livro, às pressas, já no fim do ano, quando os empenhos são liberados e a negociação com as gráficas fica difícil, por causa da concentração de pedidos. Os programas, em geral, nos pedem impressão de selos nas capas. Para um livro com capa em duas cores, um selo exigido em quatro cores, aumenta o custo gráfico do livro, que é reorçado em 4 cores e o preço aumenta.
O selo em 4 cores é ônus para o editor.
3. Descontos: As taxas de comercialização saltaram sobremaneira. Os programas governamentais em pequenas ou grandes tiragens exigem percentuais altos de descontos. SE prestigiamos os distribuidores locais que fazem o bom trabalho junto a livreiros e prefeituras, esta taxa de comercialização salta aos 65% de desconto sobre o preço de capa. Se ocorresse em escala, seria menos penoso, isto ocorre em baixas tiragens. Deveria haver uma regra, uma consideração conforme a tiragem.
4. Adesão ao Simples: As editoras inscritas no Simples não foram beneficiadas com a propalada isenção fiscal.
5. Contribuição de 1% para o Fundo Nacional de Leitura. A ele as editoras universitárias, que não ostentam o risco dos empresários do mundo real do livro, aderiram alegremente. Mas há estudos sérios, como o dos pesquisadores do BNDES, professores George Kornis e Fábio Sá Earp (guardem esses nomes), já ouvidos pelo SNEL, pela CBL e sobretudo presenças marcantes em reflexões patrocinadas pela Libre, durante encontros no evento "Primavera dos Livros". Seu estudo chegou ao MinC, mas no dizer do próprio George Kornis, seus estudos teriam de ser remetidos para análises a especialistas universitários, para que fossem criticados ou validados. Pelo seu aprofundamento e sofisticação, uma simples análise técnica de rotina burocrática não basta. Este 1%, passando por todas os componentes da cadeia do livro (edição, distribuição, livrarias) criam uma escala em que 0 1% se soma a outros por centos, e temos como resultado o viciado não o virtuoso. Aprendi na última Primavera do Rio, com o George Kornis, que o livro em economês do BNDES, em economês mesmo, é BEM DE MÉRITO. Nem os carolas do livro atentam para isso. Nem nossos pares, salvo exceções. Há, por outro lado, continuando meu aprendizado com George Kornis, os chamados BENS DE DEMÉRITO, como cigarros, bebidas, etc. Por isso o estudo sugere, quem deve sustentar o Fundo Nacional de Leitura é o dinheiro das contribuições dos BENS DE DEMÉRITO, não do BEM DE MÉRITO, que é o livro, nesta sociedade de pré-consumo de livros, que é a brasileira. De bons livros, sobretudo.
6. Concentrar no fim do ano a liberação dos empenhos: Quando um empenho é liberado todos gostamos, mas compaixão é preciso, para que o contigenciamento de verbas não se concentre na área da Cultura, sobretudo "punindo" com a espera os editores de livros. O princípio da reciprocidade precisa ser exercitado nas compras governamentais de livros, prevalece a adesão pura e simples. Sem políticas claras, que norteiem todas as compras, tornando-as economicamente sadias para todas as partes, continuaremos, a cada fim de ano, reféns de gincanas cruéis.
7. Editais com tempo insuficiente para inscrição Os editais de compras governamentais são bem-vindos. De repente, um edital no fim do ano, quem esperava para março o edital do PNBE 2011, teve a grata surpresa de vê-lo em dezembro. Quem deixou sua programação da área para produzir novos livros de catálogo, nos três primeiros meses do ano, foi pego de surpresa, com a expiração do tempo de inscrição em dezembro. Por que não marcar para março,se a amostra já deve estar de acordo com o Novo Acordo Ortográfico? O prazo da lei é 2012, por que nos obrigar a produzir amostras que punem economicamente os editores. Amostras iguais poderiam muito bem serem inscritas na ortografia ainda vigente, exigindo-se atualização, para entrega dos livros efetivamente selecionados para o programa, ou para os programas.
8. O desprezo ao princípio da isonomia Todas as regras burocráticas, que não ferem a qualidade do livro, punem o pequeno empresário, as pequenas editoras independentes. Portanto, os livros de catálogo estão sendo sabotados, embora não existam mais os critérios dos livrozinhos frankensteins mediante receituário. Teoricamente, receituários não existem, mas quem domina os chamados feudos de leitura e escrita (nunca devem se tornar feudos os bons propósitos dos trabalhos de leitura e escrita, eu prefiro o pessoal da Teoria da Literatura, com sua visão mais ampla, como vários com a sensibilidade agudamente literária de um Alcir Pécora, por exemplo), na prática opta por formatos, receitas, fórmulas básicas, cooptações de coleguinhas que os editam em penca, e os bons livros de catálogo são "queimados" vivos. Não podem entrar, embora poucas palavras deles tenham um acento a mais e isto possa ser corrigido para as tiragens encomendadas.
Deixo aqui, se alguém ler este post, a sugestão para que me ajudem a encontrar os vícios implícitos que fazem aumentar o preço do livro, e enumerá-los. Sobretudo os fatores que criam o desequilíbrio econômico para o exercício do ofício de editor. A taxa de comercialização pesa, mas há sutilezas patologicamente crônicas. Celebremos as compras governamentais, municipais, estaduais e federais, mas que elas se aprimorem em suas formalidades até o justo mercadológico. O livro possa chegar a todos os leitores, com incentivo aos editores, incentivos, não privilégios, hoje configurados nas pontas das escolhas, por coordenadores locais cooptados. Precisamos de nomes nacionais de todos os estados e áreas, em cada programa.
E vamos todos ouvir direito o que tem a nos dizer os nada carolas George Kornis e Fábio Sá Earp. A alegria só é alegria quando vem do fundo, chega de ufanismos epidérmicos.
O FNDE criou regras para as escolhas dos livros didáticos, sem a interferência dos chamados detentores dos direitos autorais. Um avanço. Aguardamos o mesmo avanço para os chamados PNBEs, Programa Nacional Biblioteca da Escola, em que o universo de escolhas se expanda, não cometa mais o erro dessa concentração em pequenas casas também. Será que alguns livrinhos didáticoliterários chamados Confeccionar poemas ou pintar contos são literatura de verdade para crianças. Nem tudo é literatura infantil, muitos livrinhos não passam de escrevinhações pueris. Infantil é uma coisa, pueril é outra. Apesar das boas intenções, somos dominados pela puerilidade geral.
Mas a desinformação sobre o ofício de editor que sabota a necessidade de baixar os custos, que não conseguimos, com influência de cada fator abaixo, cada exigência descabidamente "inocente" que pune apenas os editoras e, por tabela, exclui economicamente o leitor. Vou enumerar aleatoriamente, mas são cada tópico uma chamada à reflexão geral sobre o mercado do livro, que não pode se ater a notícias efusivamente ufanistas epidérmicas, porque regulamentar procedimentos de forma justa é preciso. Tudo se desequilibra na ponta do editor e daqueles que compõem o processo de edição: os trabalhadores do livro, no âmbito da criação, da produção, da divulgação e da comercialização.
Eis a sabotagens por desinformação, inconsciência e desconsideração à vida real na cadeia do livro:
1.Tiragens baixas aumentam o preço do livro. Mas em bons programas governamentais, com entregas a granel, como o excelente "Mais Cultura" do Ministério da Cultura, tivemos de fazer a tiragem toda com o compromisso de manter nossos preços durante um ano. Muitas editoras estamos com os livros nos armazéns da gráfica e não recuperamos nossos investimentos para fazer novos livros. O mercado editorial é composto, na sua maioria, por editoras pequenas e independentes. Aqui não pode prevalecer a lei do mais forte. Tem de haver justiça para todos, ninguém quer privilégios (embora as regras favoreçam os mais fortes, ou, os mais espertos), precisamos entregar nossos livros feitos. Boatos circulam, os livros feitos não serão mais entregues. Contamos com seu discernimento, ministro Juca Ferreira.
2. Selos em quatro cores: Um programa de Prefeitura que nos encomendou tiragem alta de um livro no ano passado, neste ano nos pediu o mesmo livro em tiragem bem mais baixa. Antieconômica, com a exigência, em nova ortografia. Embora tenhamos estoque, tivemos de fazer o livro, às pressas, já no fim do ano, quando os empenhos são liberados e a negociação com as gráficas fica difícil, por causa da concentração de pedidos. Os programas, em geral, nos pedem impressão de selos nas capas. Para um livro com capa em duas cores, um selo exigido em quatro cores, aumenta o custo gráfico do livro, que é reorçado em 4 cores e o preço aumenta.
O selo em 4 cores é ônus para o editor.
3. Descontos: As taxas de comercialização saltaram sobremaneira. Os programas governamentais em pequenas ou grandes tiragens exigem percentuais altos de descontos. SE prestigiamos os distribuidores locais que fazem o bom trabalho junto a livreiros e prefeituras, esta taxa de comercialização salta aos 65% de desconto sobre o preço de capa. Se ocorresse em escala, seria menos penoso, isto ocorre em baixas tiragens. Deveria haver uma regra, uma consideração conforme a tiragem.
4. Adesão ao Simples: As editoras inscritas no Simples não foram beneficiadas com a propalada isenção fiscal.
5. Contribuição de 1% para o Fundo Nacional de Leitura. A ele as editoras universitárias, que não ostentam o risco dos empresários do mundo real do livro, aderiram alegremente. Mas há estudos sérios, como o dos pesquisadores do BNDES, professores George Kornis e Fábio Sá Earp (guardem esses nomes), já ouvidos pelo SNEL, pela CBL e sobretudo presenças marcantes em reflexões patrocinadas pela Libre, durante encontros no evento "Primavera dos Livros". Seu estudo chegou ao MinC, mas no dizer do próprio George Kornis, seus estudos teriam de ser remetidos para análises a especialistas universitários, para que fossem criticados ou validados. Pelo seu aprofundamento e sofisticação, uma simples análise técnica de rotina burocrática não basta. Este 1%, passando por todas os componentes da cadeia do livro (edição, distribuição, livrarias) criam uma escala em que 0 1% se soma a outros por centos, e temos como resultado o viciado não o virtuoso. Aprendi na última Primavera do Rio, com o George Kornis, que o livro em economês do BNDES, em economês mesmo, é BEM DE MÉRITO. Nem os carolas do livro atentam para isso. Nem nossos pares, salvo exceções. Há, por outro lado, continuando meu aprendizado com George Kornis, os chamados BENS DE DEMÉRITO, como cigarros, bebidas, etc. Por isso o estudo sugere, quem deve sustentar o Fundo Nacional de Leitura é o dinheiro das contribuições dos BENS DE DEMÉRITO, não do BEM DE MÉRITO, que é o livro, nesta sociedade de pré-consumo de livros, que é a brasileira. De bons livros, sobretudo.
6. Concentrar no fim do ano a liberação dos empenhos: Quando um empenho é liberado todos gostamos, mas compaixão é preciso, para que o contigenciamento de verbas não se concentre na área da Cultura, sobretudo "punindo" com a espera os editores de livros. O princípio da reciprocidade precisa ser exercitado nas compras governamentais de livros, prevalece a adesão pura e simples. Sem políticas claras, que norteiem todas as compras, tornando-as economicamente sadias para todas as partes, continuaremos, a cada fim de ano, reféns de gincanas cruéis.
7. Editais com tempo insuficiente para inscrição Os editais de compras governamentais são bem-vindos. De repente, um edital no fim do ano, quem esperava para março o edital do PNBE 2011, teve a grata surpresa de vê-lo em dezembro. Quem deixou sua programação da área para produzir novos livros de catálogo, nos três primeiros meses do ano, foi pego de surpresa, com a expiração do tempo de inscrição em dezembro. Por que não marcar para março,se a amostra já deve estar de acordo com o Novo Acordo Ortográfico? O prazo da lei é 2012, por que nos obrigar a produzir amostras que punem economicamente os editores. Amostras iguais poderiam muito bem serem inscritas na ortografia ainda vigente, exigindo-se atualização, para entrega dos livros efetivamente selecionados para o programa, ou para os programas.
8. O desprezo ao princípio da isonomia Todas as regras burocráticas, que não ferem a qualidade do livro, punem o pequeno empresário, as pequenas editoras independentes. Portanto, os livros de catálogo estão sendo sabotados, embora não existam mais os critérios dos livrozinhos frankensteins mediante receituário. Teoricamente, receituários não existem, mas quem domina os chamados feudos de leitura e escrita (nunca devem se tornar feudos os bons propósitos dos trabalhos de leitura e escrita, eu prefiro o pessoal da Teoria da Literatura, com sua visão mais ampla, como vários com a sensibilidade agudamente literária de um Alcir Pécora, por exemplo), na prática opta por formatos, receitas, fórmulas básicas, cooptações de coleguinhas que os editam em penca, e os bons livros de catálogo são "queimados" vivos. Não podem entrar, embora poucas palavras deles tenham um acento a mais e isto possa ser corrigido para as tiragens encomendadas.
Deixo aqui, se alguém ler este post, a sugestão para que me ajudem a encontrar os vícios implícitos que fazem aumentar o preço do livro, e enumerá-los. Sobretudo os fatores que criam o desequilíbrio econômico para o exercício do ofício de editor. A taxa de comercialização pesa, mas há sutilezas patologicamente crônicas. Celebremos as compras governamentais, municipais, estaduais e federais, mas que elas se aprimorem em suas formalidades até o justo mercadológico. O livro possa chegar a todos os leitores, com incentivo aos editores, incentivos, não privilégios, hoje configurados nas pontas das escolhas, por coordenadores locais cooptados. Precisamos de nomes nacionais de todos os estados e áreas, em cada programa.
E vamos todos ouvir direito o que tem a nos dizer os nada carolas George Kornis e Fábio Sá Earp. A alegria só é alegria quando vem do fundo, chega de ufanismos epidérmicos.
O FNDE criou regras para as escolhas dos livros didáticos, sem a interferência dos chamados detentores dos direitos autorais. Um avanço. Aguardamos o mesmo avanço para os chamados PNBEs, Programa Nacional Biblioteca da Escola, em que o universo de escolhas se expanda, não cometa mais o erro dessa concentração em pequenas casas também. Será que alguns livrinhos didáticoliterários chamados Confeccionar poemas ou pintar contos são literatura de verdade para crianças. Nem tudo é literatura infantil, muitos livrinhos não passam de escrevinhações pueris. Infantil é uma coisa, pueril é outra. Apesar das boas intenções, somos dominados pela puerilidade geral.
2 Comments:
I'm appreciate your writing skill.Please keep on working hard.^^
Genial post and this mail helped me alot in my college assignement. Thank you as your information.
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