Fazer livros como paixão, não como pragmatismo
Quando a paixão do fazer livros se transforma em pragmatismo.
Somente o pragmatismo pode pautar o ofício do editor? Hoje, muitas vezes, sim Proliferam as distorções,sem permissão ao direito do contraditório.Nesta onda invasora também benéfica que são os editais de compras governamentais de livros, a isonomia é desafiada e sabotada nas pontas, nas bordas das escolhas. Entram aí os vícios. Uma só universidade é encarregada da tarefa, por determinado tempo, da tarefa de compor os acervos. Dentro das universidades há grupos, ligados a editoras locais. A universidade tem uma respeitável editora, que é preterida na hora de editar os Cadernos produzidos em um dos importantes centros de pesquisa. Uma editora particular, que edita a coordenadora das escolhas e também passa a editar os cadernos do centro de reflexão na área de leitura e escrita (os quais, por isenção, impedimento e ética deveriam ser editados pela editora universitária ou outra casa não envolvida diretamente com a compra de livros governamentais das bibliotecas escolares), esta editora particular, entre 15 livros inscritos no PNBE 2010, tem quase uma dezena de livros escolhidos.Entre outros casos menos ou mais emblemáticos. Seriam todos títulos relevantes? Trata-se de pares nossos. E há uma conivência até dos órgãos de classe, por ignorância ou desatenção ao fato, ou, por saber dele, uma nossa querida entidade, combativa em outras situações, cala-se. Não corrige o malfeito, omite sua opinião. Torna-se conivente, em detrimento do grupo e de todas as editoras do mercado, todos os distribuidores, todos os autores, todos os ilustradores, todos os designers, toda a cadeia produtiva do livro, toda a economia do livro, toda a ética da nação vai para o brejo com o acréscimo de omissão da nossa entidade. Em outros tempos liderou, com o apoio de outras entidades, personalidades e profissionais ligados ao livro, ou o dar-se conta pela maioria dos interessados no direito de todos aos mesmos livros exibidos nas vitrines das livrarias, a luta pela volta dos livros de catálogo nas escolhas dos acervos governamentais de livros, abolindo-se, em termos, as receitas prontas e o truncamento de obras clássicas perpetrados pelos mais espertos e os poderosos fazerem caber os livrinhos num programa bem intencionado gerador de livrinhos frankenstein. Vitória à bibliodiversidade e ao princípio da isonomia na produção e para o público-alvo, as crianças e os estudantes dos anos mais avançados. Quem sabe, os professores. Também num programa do Ministério da Cultura, no início dos anos 2000, pouco tempo depois da primeira Primavera dos Livros, tivemos de contestar uma escolha feita por uma entidade muito simpática ao livro, mas que concentrou em uma só lista a totalidade de títulos de duas autoras muito importantes para a renovação da literatura infantil brasileira, violando a isonomia. Um levantamento estatístico foi feito por colega nosso e respeitosamente apresentado. O MinC ouviu. Uma nova lista foi feita, contemplando a bibliodiversidade. As grandes autoras foram nobres,abriram-se à democratização e à universalidade. Bem como a Musa, na ocasião, sem autoelogio, com muitos títulos escolhidos, participamos da reivindicação em prol dos interesses da economia do livro em sua totalidade, pela isonomia e isenção. Na epoca tínhamos o apoio da imprensa cultural, dos cadernos de Cultura, sobretudo do Estadão, infelizmente hoje se omite. O assunto está em pauta. Todos falam dos arranjos das empreiteiras aqui fora, por que não falamos dos arranjos das editoras aqui fora, até de nossos pares, envolvidos nos vícios do patrimonialismo, das cooptações e dos aparelhamentos, e em nossa entidade, nos tornamos coniventes e pragmáticos diante desse gozo público privado espalhado, dentro e fora dela. Temos de continuar defendendo o coletivo e a coletividade nacional em todas as instâncias.
O que temos nós com os maus costumes desse "lobby de almanaque", para usar uma expressão divertida feliz de George Kornis em sua fala em uma das palestras que fez na Primavera dos Livros do Rio de Janeiro, no final de novembro de 2009?
A nossa querida imprensa está preocupada com os arranjos das empreiteiras fora dos ministérios tendo em vista os editais, mas precisam olhar para este sítio relevante que são as escolhas governamentais de livros e seus atores fora das boas intenções dos ministérios. Os resultados são descarados, as cooptações são sutis.
Seja minha editora, seja meu par, seja minha mãe, seja meu pai, meu irmão, meu tio, meus amados, nunca podemos ser coniventes e lenientes. Não vamos acusar fulano ou sicrano, mas cabe a qualquer entidade do livro, à imprensa, ao cidadão fazer parar essa ofensiva gerada também por certo alpinismo acadêmico, incitado a publicar qualquer coisa a qualquer preço, fazer currículo, o que não acontece com os verdadeiros intelectuais.
Não podemos ser coniventes com aquele tradutor que vende a tradução de um mesmo livro duas vezes e encontra o receptador num par editor. Precisamos urgente de um código de ética, nesse apagão ético universal nacional.Entra governo, sai governo. Findam-se legislaturas, iniciam-se novas legislaturas. A questão é suprapartidária, é municipal, estadual, nacional, educacional, cultural. Não faço essa reflexão para o aprimoramento profundo por minha causa (não sou excluída dos programas do livro, apenas não entendo quando obras-primas são preteridas em bibliotecas escolares e há o privilegiar de escrevinhações no lugar da palavra artística, a temática justificando a ausência literária no texto),tenho livros escolhidos em bons programas, mas isto não me deixa cega ou adepta de um pragmatismo ético. Há que se discutir profundamente a questão do livro e seus programas, inclusive batendo forte na tecla das doações amplamente solicitadas aos editores, quando empreiteiras são regiamente pagas em construções e reformas dos prédios e na hora de reabastecer os acervos, livros são pedidos aos editores. Como eles irão produzir e cumprir seus compromissos monetários? Pagar as tarifas postais, que sobem a cada hora, e às vezes nem reajustamos nossos livros? Enviar pelos correios um livro, mesmo por opções supostamente mais em conta, pode custar mais caro que um livro. Como resistir a todos os desequilíbrios juntos? Não podemos mais ser editores independentes? Temos de nos aliar a outras atividades para nos sustentarmos? Na rede da Libre iniciou-se uma saudável discussão sobre doações de livros pelos sofridos editores. Aos poucos somos ouvidos, mas queremos ser ouvidos profundamente. Pelo verde, pelo amarelo, pelo vermelho, pelo azul, PROFUNDAMENTE (esta expressão de Manuel Bandeira), que parodio no outro verso: "Eu faço livros como quem morre."
Somente o pragmatismo pode pautar o ofício do editor? Hoje, muitas vezes, sim Proliferam as distorções,sem permissão ao direito do contraditório.Nesta onda invasora também benéfica que são os editais de compras governamentais de livros, a isonomia é desafiada e sabotada nas pontas, nas bordas das escolhas. Entram aí os vícios. Uma só universidade é encarregada da tarefa, por determinado tempo, da tarefa de compor os acervos. Dentro das universidades há grupos, ligados a editoras locais. A universidade tem uma respeitável editora, que é preterida na hora de editar os Cadernos produzidos em um dos importantes centros de pesquisa. Uma editora particular, que edita a coordenadora das escolhas e também passa a editar os cadernos do centro de reflexão na área de leitura e escrita (os quais, por isenção, impedimento e ética deveriam ser editados pela editora universitária ou outra casa não envolvida diretamente com a compra de livros governamentais das bibliotecas escolares), esta editora particular, entre 15 livros inscritos no PNBE 2010, tem quase uma dezena de livros escolhidos.Entre outros casos menos ou mais emblemáticos. Seriam todos títulos relevantes? Trata-se de pares nossos. E há uma conivência até dos órgãos de classe, por ignorância ou desatenção ao fato, ou, por saber dele, uma nossa querida entidade, combativa em outras situações, cala-se. Não corrige o malfeito, omite sua opinião. Torna-se conivente, em detrimento do grupo e de todas as editoras do mercado, todos os distribuidores, todos os autores, todos os ilustradores, todos os designers, toda a cadeia produtiva do livro, toda a economia do livro, toda a ética da nação vai para o brejo com o acréscimo de omissão da nossa entidade. Em outros tempos liderou, com o apoio de outras entidades, personalidades e profissionais ligados ao livro, ou o dar-se conta pela maioria dos interessados no direito de todos aos mesmos livros exibidos nas vitrines das livrarias, a luta pela volta dos livros de catálogo nas escolhas dos acervos governamentais de livros, abolindo-se, em termos, as receitas prontas e o truncamento de obras clássicas perpetrados pelos mais espertos e os poderosos fazerem caber os livrinhos num programa bem intencionado gerador de livrinhos frankenstein. Vitória à bibliodiversidade e ao princípio da isonomia na produção e para o público-alvo, as crianças e os estudantes dos anos mais avançados. Quem sabe, os professores. Também num programa do Ministério da Cultura, no início dos anos 2000, pouco tempo depois da primeira Primavera dos Livros, tivemos de contestar uma escolha feita por uma entidade muito simpática ao livro, mas que concentrou em uma só lista a totalidade de títulos de duas autoras muito importantes para a renovação da literatura infantil brasileira, violando a isonomia. Um levantamento estatístico foi feito por colega nosso e respeitosamente apresentado. O MinC ouviu. Uma nova lista foi feita, contemplando a bibliodiversidade. As grandes autoras foram nobres,abriram-se à democratização e à universalidade. Bem como a Musa, na ocasião, sem autoelogio, com muitos títulos escolhidos, participamos da reivindicação em prol dos interesses da economia do livro em sua totalidade, pela isonomia e isenção. Na epoca tínhamos o apoio da imprensa cultural, dos cadernos de Cultura, sobretudo do Estadão, infelizmente hoje se omite. O assunto está em pauta. Todos falam dos arranjos das empreiteiras aqui fora, por que não falamos dos arranjos das editoras aqui fora, até de nossos pares, envolvidos nos vícios do patrimonialismo, das cooptações e dos aparelhamentos, e em nossa entidade, nos tornamos coniventes e pragmáticos diante desse gozo público privado espalhado, dentro e fora dela. Temos de continuar defendendo o coletivo e a coletividade nacional em todas as instâncias.
O que temos nós com os maus costumes desse "lobby de almanaque", para usar uma expressão divertida feliz de George Kornis em sua fala em uma das palestras que fez na Primavera dos Livros do Rio de Janeiro, no final de novembro de 2009?
A nossa querida imprensa está preocupada com os arranjos das empreiteiras fora dos ministérios tendo em vista os editais, mas precisam olhar para este sítio relevante que são as escolhas governamentais de livros e seus atores fora das boas intenções dos ministérios. Os resultados são descarados, as cooptações são sutis.
Seja minha editora, seja meu par, seja minha mãe, seja meu pai, meu irmão, meu tio, meus amados, nunca podemos ser coniventes e lenientes. Não vamos acusar fulano ou sicrano, mas cabe a qualquer entidade do livro, à imprensa, ao cidadão fazer parar essa ofensiva gerada também por certo alpinismo acadêmico, incitado a publicar qualquer coisa a qualquer preço, fazer currículo, o que não acontece com os verdadeiros intelectuais.
Não podemos ser coniventes com aquele tradutor que vende a tradução de um mesmo livro duas vezes e encontra o receptador num par editor. Precisamos urgente de um código de ética, nesse apagão ético universal nacional.Entra governo, sai governo. Findam-se legislaturas, iniciam-se novas legislaturas. A questão é suprapartidária, é municipal, estadual, nacional, educacional, cultural. Não faço essa reflexão para o aprimoramento profundo por minha causa (não sou excluída dos programas do livro, apenas não entendo quando obras-primas são preteridas em bibliotecas escolares e há o privilegiar de escrevinhações no lugar da palavra artística, a temática justificando a ausência literária no texto),tenho livros escolhidos em bons programas, mas isto não me deixa cega ou adepta de um pragmatismo ético. Há que se discutir profundamente a questão do livro e seus programas, inclusive batendo forte na tecla das doações amplamente solicitadas aos editores, quando empreiteiras são regiamente pagas em construções e reformas dos prédios e na hora de reabastecer os acervos, livros são pedidos aos editores. Como eles irão produzir e cumprir seus compromissos monetários? Pagar as tarifas postais, que sobem a cada hora, e às vezes nem reajustamos nossos livros? Enviar pelos correios um livro, mesmo por opções supostamente mais em conta, pode custar mais caro que um livro. Como resistir a todos os desequilíbrios juntos? Não podemos mais ser editores independentes? Temos de nos aliar a outras atividades para nos sustentarmos? Na rede da Libre iniciou-se uma saudável discussão sobre doações de livros pelos sofridos editores. Aos poucos somos ouvidos, mas queremos ser ouvidos profundamente. Pelo verde, pelo amarelo, pelo vermelho, pelo azul, PROFUNDAMENTE (esta expressão de Manuel Bandeira), que parodio no outro verso: "Eu faço livros como quem morre."