Saturday, January 30, 2010

Intervalo para contar sobre a busca de um livro no próximo post Publico de Carreirismos e Capim

Carreirismos

Chegamos aonde Esgotaram-se as queixas
Falamos nem somos ouvidos Quem acumulou

arrogância Antes sorria ao próximo
seu entusiasmo na bajulação partida

do anonimato Sua carreira dopou-o
a esta pose erguida O queixo soberbo

Desvincula-se a gentileza Da face antiga
era uma flor. A fama dá o caminho contrário.

A fama só ela é fama Quando é fama
se torna Uma majestade solícita


Capim

Em face de prédio tão feio A minha janela calada
Uma fístula no telhado Derrama-se o engradamento
do sobrado na vila Cercados Quero estradas

Abrir a porta para aonde correr e colher
o imprevisível que se ergue da grama Goiabeira

sozinha Desgarra-se plena
Entrega-se aos braços que apanham-lhe
os frutos Goiabas carregados os galhos

Uma goiabeira sozinha no pasto

Do balde cheio que trouxemos mexeu-se
a goiabada Comungamos com os vizinhos o doce

Labels:

Sunday, January 24, 2010

No aniversário de São Paulo Festa no Rio de Janeiro, na Livraria da Travessa

Hoje, 25 de janeiro, a Livraria da Travessa avança no seu exemplar projeto de aliada da bibliodiversidade. Já vira o destaque que a revista da Associação Nacional de Livrarias -- ANL deu ao fato, entrevistando Rui Campos, o livreiro da Livraria da Travessa (livrarias da Travessa). A revista ANL distingue em box vermelho plantado na foto do Rui, entre livros da loja, a declaração dele, que deveria ser a declaração de todos os livreiros, sobretudo aqueles novos livreiros do interior que abriram franquias e temem qualquer coisa além do óbvio da autoajuda e dos 30 mais vendidos (digo sinceramente que não me preocupo em ler as listas dos mais vendidos, nem sei quais são, que algumas vezes podem ser fruto de jabás e manipulações da vida mais esperta, prefiro a vida inteligente da diversidade dos longsellers aos best-sellers): "SOU A FAVOR DA BIBLIODIVERSIDADE". Um livreiro proclamar isto publicamente é toda a festa. A festa que acontecerá hoje com a inauguração da loja já existente na Rua do Ouvidor, centro do Rio de Janeiro, Travessa do Ouvidor, agora dedicada especialmente aos catálogos das editoras independentes e às editoras universitárias. O público, mesmo o das feiras de livros
, está pedindo diversidade. Eis o material que recebi sobre esta festa no Rio, neste aniversário de São Paulo:



--------------------------------------------------------------------------------
Patrocínio
Petrobras Brasil.gov Lei de Incentivo à Cultura - Ministério da Cultura
--------------------------------------------------------------------------------
home overblog banco de cultura guia agenda perfis overmixter o que é ajuda overmundo.com.br/tag/ digite uma tag
home · agenda · rio de janeiro · travessa 1 – uma livraria para editoras independentes e universitárias. meu painel
publicar colaboração edição colaborativa colaborações recentes
--------------------------------------------------------------------------------
Veja também

--------------------------------------------------------------------------------

Travessa 1 – uma livraria para editoras independentes e universitárias., Rio de Janeiro, RJ · 25/1
Sheila Gomes · Rio de Janeiro (RJ) · 20/1/2010 18:51 · nenhum ·
1
overponto
Livraria da Travessa - RuiTravessa 1 – uma livraria para editoras independentes e universitárias. Grandes livros e muito futuro

Aviso na fachada da primeira Livraria da Travessa, no Centro do Rio, resume a nova filosofia da loja

Desde o final de 2009, a rede de lojas Livraria da Travessa adotou novo perfil em sua loja original, na Travessa do Ouvidor, no Centro do Rio de Janeiro, privilegiando as editoras independentes e universitárias. Nos 250m2 da Travessa 1 já é possível encontrar livros que de uns tempos para cá só eram comprados através de sites especializados. Para comemorar a mudança, está programada uma festa, das 11h30 às 20h, no dia 25 de janeiro, aliando música e literatura.

Bibliodiversidade é o conceito por trás desta mudança estratégica adotada pela Livraria da Travessa. A rede percebeu a crescente e constante demanda por títulos com poder de vendas a curto prazo menores do que os inúmeros Best Sellers que inundam as prateleiras do país. É o reconhecimento da força dos chamados Long Sellers, Forever Sellers ou Slow Sellers (que vendem a longo prazo, sempre ou aos poucos).

Entenda-se por bibliodiversidade a saudável e necessária variedade de títulos à disposição dos leitores. É a diversidade cultural aplicada ao mercado editorial, hoje concentrado pela superprodução que favorece a predominância e visibilidade de alguns grandes grupos editoriais.

Para marcar tal mudança, a Travessa 1 programou um dia inteiro de festa. Na segunda-feira, dia 25 de janeiro, as atividades terão início às 11h30, com a atriz Betina Kopp declamando poemas. Ao meio-dia, os livreiros antigos da livratria farão uma ‘lavagem’ da estátua do músico e compositor Pixinguinha, situada quase na porta da loja. Logo em seguida haverá uma apresentação de chorinho com o grupo Flor na Lapela e, às 17h30, bate-papo informal com Carlos Monte, ex-diretor da Portela e autor do livro “A Velha Guarda da Portela”, da editora Manati; e Nei Lopes, compositor, cantor e escritor, com trabalhos associados à cultura africana. O encerramento da comemoração será show do trio Subindo a Ladeira.

O projeto é um investimento da Livraria da Travessa e de dois aliados de peso: a LIBRE (Liga Brasileira de Editoras) e a ABEU (Associação Brasileira das Editoras Universitárias). As duas associações reúnem mais de 200 pequenas e médias editoras, efetivamente agentes e defensoras da diversidade editorial.

O atendimento especial – marca registrada da Travessa – aliado ao olhar diferenciado para o que acontece no mercado editorial fará da Travessa 1 o espaço ideal para a difusão de novas ideias, agitação cultural e pluralidade do setor.



PROGRAMAÇÃO DIA 25 DE JANEIRO DE 2010

11h30 – Poemas por Betina Kopp
12h – Lavagem da estátua de Pixinguinha
12h30 – Chorinho com o grupo Flor na Lapela
17h30 – Bate-papo com Carlos Monte e Nei Lopes
19h – Show do trio Subindo a Ladeira


tags: Rio de Janeiro RJ shows-e-festivais


onde fica
TRAVESSA 1
Endereço: Travessa do Ouvidor, 17 – Centro – Rio de Janeiro
Telefone: 3231-8015
Funcionamento: segunda a sexta, das 10h às 19h

quando ir
25/1/2010, às 11:30h
quanto custa
Gratuito
website
www.armazemcomunica.com.br / www.twitter.com/armazemcomunica
contato
Assessoria de Imprensa – Armazém Comunicação
Telefones: 21. 3874-7111 / 2294-8929
Atendimento: Sheila Gomes – sheila@armazemcomunica.com.br





enviar versão para impressão

Nenhum comentário até agora



--------------------------------------------------------------------------------


Adicione seu comentário: para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.









--------------------------------------------------------------------------------
Creative Commons
sobre termos de uso privacidade créditos expediente bugs realização: Instituto Overmundo

Leio a revista Piauí

Passo pela banca da Dona Matilde, na esquina da Rua Bartira com Cardoso de Almeida, e ela me reservou a revista Piauí.

Gosto também de ler Caros Amigos, não contraditoriamente,sou heterodoxa? Não me enquadro, não assino contratos de adesão (embora as regras bancárias nos obriguem a eles, ou melhor, as regras insuportáveis da vida financeira dos cidadãos, que não nos deixam margem de manobra, um se correr o bicho pega, se parar o bicho come), apenas tento preservar minha visão crítica e procurar abrir meus olhos de justiça. Quando o direito triunfará? Resumindo. Sou leitora de jornais e revistas, desde menina. As bancas (de revistas) me atraem, como um passeio. Já mantive conta corrente numa grande banca da avenida Paulista com a Pamplona, quando morava lá. Por mais que neguemos, nossa vida financeira de classe média piorou, eu economizo meus objetos de desejo em palavra impressa. Leio também na internet, mas não substitui o prazer do papel na mão, dormir com a revista e retomar sua leitura na madrugada. As visitas ficam lendo minhas revistas e os homens da minha família se sentam na sala com elas diante dos olhos, entretidos na longa leitura.

Eu leio a revista Piauí.Assunto especial hoje deste post. Neste número de janeiro senti falta dos poemas publicados.

Tenho grande respeito por João Moreira Salles. Não é respeito gratuito. Desde que o vino programa Sempre um Papo falando do processo de elaboração das longas reportagens com o tempo necessário, sem a pressão da fábrica (aí me lembro do professor Damasco Penna, proclamando a edição de um livro no tempo devido: "Isto aqui não é uma fábrica, mas Casa Editora -- Maison é expressão cara aos franceses, Maison Chanel, Maison d'Éditrice --). Nem preciso enumerar as longas e grandes reportagens que li com prazer de querê-las ainda mais longas. Foram feitas com tempo, fruto de uma saudável postura editorial.

Neste número de janeiro, li antes de todas as matérias, o depoimento da Ana Luisa Escorel, "A menina e a mãe", sobre Gilda de Mello e Souza. Já lera outro depoimento da Ana Luisa, em número anterior, sobre o pai, Antonio Candido. Um depoimento mais caloroso, sobre a mãe, mais cerimonioso, com toques de humor. Ana Luisa Escorel, uma esplêndida designer, dona da editora independente Ouro Sobre Azul, eu a conheço da Primavera dos Livros e da Libre -- Liga Brasileira de Editoras. Por ter opinião própria e visão crítica e olhos de justiça, ela se afastou do evento Primavera, mas não deixou a Libre. Vem reeditando a obra de Antonio Candido, que prestigia a editora da filha. Ana Luisa é muito amiga da minha amiga, Maria Antonia Pavan de Santa Cruz, a nobreza em pessoa, livreira e editora da Duas Cidades. Pessoas que precisam ser lembradas. Fazem a diferença entre o nobre e o ignóbil em termos de relações humanas, particularmente entre pares.

Destaco da memória de Ana Luisa Escorel sobre a mãe: "A mãe trabalhava bastante. (...)e, volta e meia, aceitava tarefas como a tradução de peças para teatro e ensaios, publicados em revistas acadêmicas ou de cunho cultural. Tarefas às quais se aplicava em ritmo pausado, construindo texto e ideias num tempo dilatadíssimo para atender à grande exigência interior de precisão e limpeza formal."(grifo meu) Esta citação vem ao encontro da questão do tempo necessário que busco para editar um livro, a revista Piauí para elaborar a longa reportagem, e assim reivindicamos a paz em nosso trabalho, sem sermos atropelados pela patologia da pressa. Urgência é outra coisa. Isto está coerente com o meu posto de ontem neste blog, Livros de catálogo, sabotados ou amputados para atender aos editais das compras governamentais de livros.

Leio a matéria da Daniela Pinheiro "A Verde", sobre a Marina Silva. Queria mais. Da grandeza da Marina, só não assimilo uma coisa: como ela foi virar evangélica? Um mistério para mim, que significa um desequilíbrio entre o arrojado e o primitivo. Uma contradição, eu fico interrogando, a minha vontade é ser bem politicamente incorreta. No catolicismo ela poderia ter encontrado o que procurava, se era católica. Por que não se despiu dos que promovem as distorções católicas. Terá ela encontrado a preciosa acolhida e generosidade entre os fiéis da Assembleia de Deus? Mesmo assim não entendo.

João Moreira Salles me surpreende como homem sensível de bom-caráter pelas entrevistas que dá sobre seu trabalho de documentarista. Eu o vi outro dia, no Canal Brasil, falando sobre a montagem de Santiago
Neste último número da Piauí, João Moreira Salles (que tem muito de uma ancestralidade mineira que conheço ou identifico e consigo entender), publicou a matéria escrita por ele mesmo, "Artur tem um problema: Como se forma um grande matemático." Li com total interesse. Primeiro que a Musa publica uma coleção "Musa Educação Matemática". Que agora acho restrita. Queria que fosse apenas, "Musa Matemática". Não vou reproduzr aqui tudo o que li e aprendi sobre o que é ser de verdade um matemático. Nesta minha ânsia pelo tempo necessário ao fazer meu trabalho, achei consolações e validações que vou citar, da fala de Artur Ávila, 30 anos, matemático brasileiro, veiculada nesta reportagem documentário escrito de João Moreira Salles, para a Piauí de janeiro:

"Não tinha ideia do que era fazer matemática. Olhei e disse: é isso." 'A competição não lhe agradava mais.' "Lá tudo tem solução, e a graça da matemática é a incerteza: você pode gastar anos lutando contra alguma coisa que talvez nunca se resolva." 'A pressa também o incomodava. Matemáticos não precisam tomar decisões urgentes e nenhum deles é forçado a provar uma conjectura até o fim do mês.' Matemática é feita com tempo, não existe a pressão. E eu gosto de refletir", 'diz Artur'. '(...) A única obrigação de Artur é produzir Matemática.' '(...)Para a maioria das pessoas, a utilidade da matemática parece óbvia: pontes, projeções econômicas, algoritmos de computador. Boa parte dos matemáticos acha essas aplicações desinteressantes.' '(...)Matemáticos falam não só em beleza, mas também em bom gosto, que definem como capacitade de detectar o que é importante. Desde muito cedo Artur mostrou ter uma percepção aguda para os grandes problemas. Elon Lages Lima [outro matemático] acha que essa é a maior qualidade dele: "(...) A gente existe para resolver o que nunca foi resolvido antes". Leiam a matéria inteira, nesta Piauí de janeiro.

Tudo isto vem ao caso, e forço a barra, na real solução para a entrada dos verdadeiros livros de catálogo, no conteúdo e na forma gráfica, nos acervos dos programas governamentais. Não estou falando da diferença entre uma edição mais cara em capa dura e a versão em brochura. Estou falando de um livro inteiro que pode ser saboreado primeiro pelo olhar através da vitrine de uma livraria ou em uma banca de feira literária como um objeto do desejo, democratica e universalmente satisfeito, um luxo para a degustação de todos.

Saturday, January 23, 2010

Livros de Catálogo ou "materiais feitos de uma hora para outra" para atender aos editais das compras do governo?

Tenho pensado nisso há dias. Venho ruminando essa história desde que postulou-se a ideia do receituário das mentes "pedagocistas" (respeito os pedagogos, não o pedagocismo) para que obras de literatura fossem adaptadas a formatos predeterminados.

Em certa época, após reuniões e reuniões em comissões que combatiam o receituário carola em nome da difusão da leitura entre as casas carentes do universo escolar brasileiro, celebramos a volta dos livros de catálogo às compras governamentais, uma reconquista cuja voz mais alta ecoou a partir de editores da Libre. Mas havia uma comissão na CBL, coordenada pela Rosely Boschini, que insistia nesse justo retorno ao sortimento dos catálogos, um direito usurpado às crianças mais carentes da escola pública, sem acesso às livrarias, na companhia dos pais. Uma forma de exclusão. O principal argumento, pois, era que o livro de catálogo, não a fórmula simplificada e muitas vezes de gosto indigente, constitui direito de todas as crianças, ricas e pobres, da escola particular e da escola pública, da cidade e da roça, do Sudeste e do Nordeste, do Sul e do Norte, todas as crianças têm direito à edição cuidadosa de mercado, as mesmas que figuram nas vitrines das melhores livrarias. Estou falando do luxo do bom gosto, que pode estar também no despojamento inteligente. Sobre a atração de um bonito livro aos olhos de toda criança (todas as crianças são público-alvo de um belo livro feito para elas), lembro-me de um artigo escrito, li em uma revista sobre leitura, se não me engano, em que o autor falava de um menino pobrezinho contemplando um belo livro através da vitrine de uma livraria da cidade, aonde seus pais, como os pais de outras crianças, não o levavam. O texto nos conduzia ao mesmo direito que este menino tinha, como todos os meninos, independentemente de sua classe social, de folhear e ler o bonito livro. Um livro bonito é para todos. Quem assinou este artigo foi o professor Percival de Brito, que contraditoriamente apoiava a fórmula restritiva do falecido programa "Literatura em Minha Casa".Independente disso, é um dos mais sensíveis avaliadores da boa literatura para crianças no Brasil. É a boa influência que os avaliadores da prefeitura que acham que o autor da literatura nacional ou universal não é conhecido se eles não o conhecem. Nunca ouviram falar. Desinformações a corrigir.

Havia também o problema de clássicos truncados para caberem no número de páginas estipulado pelo programa. Decepar trechos das narrativas mais conhecidas, isto eu vi.

A violação do princípio da isonomia, a diversidade e a universalidade de títulos e autores comprometida. Ilustradores insatisfeitos. Tanto se fez que fomos recebidos por dois ministros. As nossas reivindicações examinadas e atendidas. Voltaram os livros de catálogo aos programas governamentais.

Livros de catálogo, podemos celebrar em parte. Há novos subterfúgios e cooptações. Livros de catálogo, direito de todos receber, direito do editor de mostrá-los e vendê-lo. Livros de catálogo, neles está o papel do editor que não podemos negar. Sem livros de catálogo, que tornam visível o perfil da editora, o juízo e talento do editor, não há mais editor. A autoedição não se sustenta como projeto continuado. Não há mais ofício da edição, sem o catálogo saído da paixão do editor, seu projeto e assinatura. É a negação do ofício e da autoria. É a sabotagem do trabalho do ilustrador e a negação do designer. Não há mais livro, nem sua singular autonomia. Um livro não repete outro livro. Um editor não pode repetir outro editor. Um autor que encontra seu público, mesmo em termos de posteridade, tem de ter seu texto lido integralmente. Cabe ao leitor fazer seus saltos, para voltar depois, não ao pseudoeditor truncar a escritura para seguir a receita. À edição de um livro não se aplica o conceito do genérico (remédios são fórmulas). Editar livro é projetar a criação, tanto do editor, como do autor, como do ilustrador, como do designer, mesmo o gráfico, todos os atores presentes na feitura do livro que, no seu aspecto material, revela a Casa que o editou. Há um selo do editor. E o público conhece ou deve ser levado a conhecer, pois todos merecem a integridade do objeto único multiplicado numa tiragem, cópias e um só livro para cada um.

Livros de catálogo, sempre. Por que elegi este tema hoje? Pela leitura matinal da Folha e do Estadão. Na Folha, parei na matéria: "SP admite ter de usar professor reprovado". Ao lado dessa matéria, existia uma pequena entrevista: "pesquisador diz que resultado é constrangedor". Gosto de ler essas pequenas entrevistas complementares às matérias. Encontro nelas pérolas notáveis, que me trazem insights às minhas matutações editoriais e leiturais. O entrevistado é o pesquisador da USP, Ocimar Alavarse. O que me interessou mesmo foi ele ter dito, à última pergunta: "Como melhorar o corpo docente da rede?"

Resposta dele: "... Para os que estão na rede é preciso dar cursos. Como SP está fazendo isso? Com materiais feitos de uma hora para outra(grifo meu), cheios de erros, e ainda acusando o professor de não saber nada."

Com materiais feitos de uma hora para outra. Esta é a verdadeira pérola que me interessa. Materiais feitos de uma hora para outra. Não é mal só de São Paulo. É contágio nacional. Todos os programas governamentais de livros estão nos levando a essa idéia. Correr para fazer livros para inscrições. Barateá-los, como se certas práticas barateassem os livros de catálogo. Por que nesta fase de transição para a Nova Ortografia não podemos apresentar o mostruário com a antiga, e imprimir com a nova, os livros selecionados? Criam desequilíbrios para a vida do editor. Enchem-nos de acessórios para piorar as edições. E todos saem fazendo livros às pressas para inscrever em programas da hora, embora livros de catálogo apressados, não livros no seu tempo gestados. Para serem apresentados. Já disse neste blog, não vou enlouquecer como Van Gogh, cortando orelhas dos livros do catálogo. (Muitas vezes estas orelhas são deliciosamente escritas) e seguindo supostas receitas hoje nem dadas, mas somos sempre mais realistas que o rei. Um gráfico arrogante se ofereceu para eu adaptar algumas de minhas edições, pois a editora tal, muito prática, estava fazendo "cortes" para seus livros destinados às crianças recebedoras de livros do governo. Esta editora, competente e esperta, faz dois tipos de edição, uma para os pais que podem acompanhar suas crianças às livrarias, outra para as crianças do governo. Configura-se aqui um privilégio e uma exclusão. Isto é sério. Questão de dinheiro, para aumentar o lucro. Há mesmo um desequilíbrio, uma punição aos editores. De nós são exigidos descontos altíssimos, que muitas vezes o processo de escala pelas grandes tiragens nem cobrem. Pagamos direitos autorais e tarifas escandalosas aos Correios, elevadas a toda hora. Como são elevados os custos gráficos.

Crianças sem direito aos mesmos livros das outras crianças? Não, não faço duas edições distintas. Posso até fazer em caracteres ampliados a edição de um conto, mas aí é outro livro, com o mesmo cuidado para todos. Em todas as vezes que a Musa teve livros selecionados em programas governamentais, lá estavam inteiros os meus livros para todos, sem distinção, com o trabalho da designer intacto. Foi comprada a edição de catálogo.Obrigada, Raquel Matsushita, Marina Mattos, apreciaram o seu trabalho, os que têm sensibilidade e discernimento. E é bastante gente.

O governo não é simplesmente um nicho de mercado. Seus programas têm relevância cultural e educacional. São o melhor estímulo para que os editores apresentem seus livros de catálogo, livros como são. Frutos do bom ofício da edição, sem distorções ou amputações. Ou mesmo que criem, por sensibilidade à ampliação do público aos portadores de necessidades especiais, novas plataformas de leitura para seus livros de catálogo. Mas coisa boa não se faz de uma hora para outra.

Neste PNBE-2011, inscrevi um único título (eram dois, mas o outro não ficou pronto com a Nova Ortografia, não entreguei os exemplares para análise, por isso). Inscrevi um único título, de grande autor universal, para o ensino médio. Exemplares de catálogo. Livros de catálogo para todos os públicos.

Hoje fui à missa na capela da PUC (voltei a ir à missa, embora prefira buscar os cantos em latim do Mosteiro de São Bento,devo me juntar às pessoas na igreja como à platéia no cinema, no teatro, nos concertos, esta comunhão com a presença de outros me faz bem, eu que sempre me fecho, posso me abrir à cidade), li na Primeira Leitura, Ne 8,2, até roubei o folheto para copiar aqui:

"...Esdras, o escriba, estava de pé sobre um estrado de madeira, erguido para esse fim. Estando num lugar mais alto ele abriu o livro à vista de todo o povo. E quando o abriu todo o povo ficou de pé."

Fiquemos de pé para os verdadeiros livros de catálogo, feitos para todo o povo, para todas as crianças, do indiozinho das matas, aquelas que foram salvas pela doutora Zilda Arns e as desembaraçadas que entram mais bonita livraria da Avenida Paulista ou da Visconde de Pirajá no Rio de Janeiro. A mesma qualidade para todos. A mesma boneca com todos os braços para todos. Ou vamos amputar a cabeça da boneca para entregar um corpo? E as vestimentas que a todos encantam até o riso? Um livro também se veste, nesta "semana" (para redundar) do São Paulo Fashion Week, vale lembrar.

Sunday, January 17, 2010

Ofensas

Ando preocupada com a troca de ofensas, operada entre pares, nem sempre sob o aspecto de truculências verbais, mas de truculências morais, desqualificações da ética,falta de escrúpulos, "receptações" sem consulta ao colega editor de traduções alheias,omissões, descaso com os assuntos relevantes,a cegueira mais comezinha em se tratando de ter olhos de justiça. Aparentemente, os mais avançados, agimos como predadores, panelistas e cegos. Quem consegue ver, ao dizer, apanha dos próprios pares. "Foi proclamada a escravidão." No Centenário de Joaquim Nabuco, temos de começar a lutar de novo pela Abolição. Escravos que somos do apagão ético. Tudo é subterfúgio para a esculhambação bem arranjada. Há muito tempo, brinco com versos, estes, eu os achei entre escritos "velhos", para hoje valem mais. Estão novíssimos.



Ofensa indigesta


Fazer o texto com agulha fina A renda
teço com meus gritos Abafá-los
em lúdica trama, no silêncio


Sei que adoeço e resisto
[Sei a dor deste luto e resisto]
Incomodar amigos, o visitante
Eu me guardo no leito, até que passe
Vinda a cura, possa levantar-me

Servi-los na sala Ir ao baile
era outrora, hoje saímos para dançar

Adoeço por qualquer rudeza
Hoje estou doente


Sem pontuação

Não me obrigue a nada A comprar
o que não possa comprar Não me
agrade por qualquer interesse
Não me assedie Eu sou planta
com muitas florescências Deixe-me
em paz para cumprir meu ciclo
até a hora da festa Uma cilada
para meus nervos, não faça

Eu direi a hora pronta para jantar


Meu querido, eu apanhei
Bilhete

A dor é uma agulha fina na pele Macio
que abrigou o roçar desses pelos
Você não está aqui e ousaram
falar comigo de um modo mais ríspido
Você não está aqui para me entender
Eu agora derramo lágrimas

Tuesday, January 12, 2010

São Paulo é meu eixo e as Avaliadoras de Lorena

Chego a São Paulo. Minha casa. Encontro meu eixo. Eu me movo ao desempenho.

Mesmo que eu não queira. São Paulo é meu eixo. Busco um pouso em algum lugar das "terras altas da Mantiqueira", placas eu via pelo caminho. Ficar aqui e estar lá. Eis a decisão, eu quero, estou perseguindo, se puder.

A Editora precisa sair para criar seu público, uma revolução de ofertas além dos óbvios livros para as pessoas do interior. As coordenadoras de prefeituras do interior. Conquistá-las para a bibliodiversidade.

Estando em Minas, aceitei o convite do Rogério Costa, para sua tradicional festa de reveillon, em Lorena, Vale do Paraíba. Fui passear pela rua e a chuva me pegou. Lá comprei uma sombrinha multicolorida, um guarda-chuva enorme, com todas as cores do arco-íris. Tudo é muito divertido, ver a bela Lorena antiga, entrar na sua catedral, pedir à Nossa Senhora da Piedade, mas o grave vem agora.

Escolhas de livros pela prefeitura local e duas irmãs coordenadoras dessas compras municipais. Um ano antes, estando eu nesta mesma cidade, para o mesmo reveillon, sabendo por uma professora, convidada da festa, das futuras compras de 2009 para as Bibliotecas de Escolas Municipais de Lorena, deixei os dois livros que tinha à mão, para que fossem apresentados como alternativas e novidade que são (literatura é sempre novidade, nem fui eu quem disse, mas Ezra Pound no "ABC da Literatura" --Cultrix--): "O Sapo Apaixonado: uma história inspirada em uma narrativa indígena" e "O Elefante Infante", do Rudyard Kipling. Perguntei à mesma convidada sobre a reação das avaliadoras, duas irmãs no cargo: elas acharam os autores desconhecidos e preferiram a comodidade dos livros de um autor óbvio e repetidamente escolhido, que tem seu mérito, é claro (não se trata do Ziraldo, não), a povoar as estantes com a novidade de um Prêmio Nobel que escreveu também para crianças e com um poeta que descobriu numa lenda indígema a semelhança com uma lenda popular do Sul de Minas, que ouvia em sua terra natal, Borda da Mata, ao ler as narrativas do livro que reúne narrativas sobre os indios Gavião, "Couro do Espíritos" organizado por Betty Mindlin, Digüt Tsorobá e Sebrop Catarino e outros narradores Gavião (Editora Terceiro Nome/Senac).

Meu Deus, precisamos abrir a cabeça das avalidadoras neste belo interior do Brasil para a bibliodiversidade, sem esse apego cabeça-dura a leiturinhas e modismos. Não somente para os livros que levei do catálogo da Musa, vale esta chamada à bibliodiversidade também para todos os bons livros dos catálogos editoriais, sobretudo os catálogos das editoras independentes, grandes, médias ou pequenas.

Não vou citar os nomes das avaliadoras de Lorena (mas a professora, a meu pedido anotou-os em minha agenda, pois pretendo visitá-las eu mesma, como visitei a livraria Nobel de Itajubá, assunto para outro comentário). Pretendo pessoalmente convidá-las a folhear e olhar com novos olhos os novos livros que recebem, não basta mais para todos nós, nem editar, nem comprar moda de ouvido, como um eterno repeteco. Não se trata de um convite a desprezar o consagrado ou o mais popular, mas diversificar os acervos municipais das escolas e bibliotecas municipais, inovando-os. Informar-se pelo próprio livro que recebem, lendo-o desde a capa, textos, ilustrações, orelhas e prefácios. "Eu não conheço", pois vamos conhecer. Os novos e os consagrados autores da literatura universal, como o Prêmio Nobel Kipling. E muitos mais.

Não é porque não conhecemos é que o autor seja desconhecido. Pois vamos tentar conhecer, abrindo-se para a boa literatura, que é sempre novidade.