Sunday, January 20, 2008

Febre Amarela e O Elefante Infante As árvores-da-febre

As árvores-da-febre
E as notícias da febre amarela no Brasil



Todos estão falando da febre amarela, transmitida por mosquito em áreas de selva ou mata próxima. Focos em alguns Estados em que o perigo é endêmico. Zonas de risco.

Quem diria que a literatura, em pena de Prêmio Nobel, produzisse um texto riquíssimo, em que abarcasse todo um ecossistema complexo, descrevesse a viagem de O Elefante Infante, aquele elefantinho cuja insaciável curiosidade enchia a África toda em que corria o grande rio Limpopo, cercado pelas árvores-da-febre? E ele levava surras porque perguntava demais. Mas ele foi ver o que o crocodilo come no jantar e reapareceu com o grande instrumento capaz de derrubar os seus cegos e malvados adversários domésticos, que o imitaram em busca de uma tromba. Não só isso, trocou a adversidade pela auto-estima. Era um paquiderme muito ordeiro.

The Elephant´s Child, de Rudyard Kipling (Prêmio Nobel de Literatura, 1907), O Elefante Infante, em tradução de Adriano Messias, ilustrações de Fernando Vilela, projeto gráfico de Raquel Matsushita e Marina Mattos, publicado pela Musa Editora, tem a complexidade da literatura na fluência de uma narrativa múltipla, boa de ler, agradável de ouvir. Faz parte da coleção “Musa Quatro Estações, Biblioteca para sempre”, na série edições bilíngües e trilíngües para crianças.

Numa bela manhã, no meio da Precessão dos Equinócios, este filhote de elefante insaciavelmente curioso fez uma nova pergunta, uma boa pergunta que ele jamais havia feito: “O que o crocodilo come no jantar?”. Numa voz terrível todos gritaram “Psiu!”, e então bateram no Elefantinho por muito tempo, sem cessar. Mas quando tudo acabou, o Elefante Infante encontrou o Pássaro Kolokolo, que estava sentado numa moita de espinheiro, e lhe disse: “Meu pai me bateu, minha mãe me bateu; todos os meus tios e tias me bateram por causa da minha insaciável curiosidade, mas eu ainda quero saber o que o Crocodilo come no jantar!”. Então, num grito pavoroso, o Pássaro Kolokolo respondeu: “Vá pelas margens do grande rio Limpopo até as oleosas águas acinzentadas como o azeite, perto das árvores-da-febre. Lá você descobrirá.”
A árvore-da-febre, da família das acácias, é muito comum nas savanas africanas. Essa denominação se deve aos primeiros exploradores europeus, que, ao acampar à beira dos rios africanos, cercados dessas árvores, sucumbiam a uma febre estranha e fatal, pensando que a árvore teria sido a causadora. Na verdade eles haviam sido infectados pelo mosquito da malária. (Esta é a nota 3 do livro, redigida por Sandra Brazil, que fez a revisão da tradução de O Elefante Infante)

Não vamos derrubar as árvores de nossas florestas, mas este livro de Kipling, um conto que é uma obra-prima, escrito para sua amada filha Josephine, que morreu de pleurisia aos oito anos, é convite para combatermos o mosquito da febre amarela e de todas as febres. Insetos existem e podem se abrigar onde estão as árvores. Contaminados, contaminam. Esta notícia é um convite à leitura de O Elefante Infante, enquanto se combate a febre amarela no Brasil, no verão de 2008, e os meios de comunicação estão atentos ao perigo, alertando a todos.

E o mais curioso, houve a fuga da Família Real para o Brasil em 1808 e em 2008 comemora-se o centenário: Assim o leão diz-se rompante, o touro arremetente, o cavalo corrente, o urso levantante e ameaçante, o lobo caçante, o cervo corrente, a onça saltante, o elefante andante, a raposa espreitante, a águia voante, o gavião caçante, a cobra pensante, o porco montez fugente, etc. Assim os animais são representados como selos nas armas dos guerreiros portugueses, como conta o livro O sargento-mor de Villar, de Arnaldo Gama, 1863, sobre a segunda invasão francesa de Portugal em 1809, quando a família real portuguesa já havia fugido para o Brasil. Assim você pode ler e continuar brincando: O elefante infante, o crocodilo.... Para a febre amarela não te pegar, amado leitor de Kipling.

Ana Cândida Costa
Informações: 11 3862-2586

Tuesday, January 15, 2008

Ética entre editores Ética pelos autores e tradutores Votos 2008

Na postagem anterior, reproduzi uma matéria do "Le Monde Diplomatique" sobre os pequenos editores independentes, ou melhor, que tentam sua independência pela perseverança e pela séria construção de um catálogo com livros eternos, mesmo que sejam modernos, não perecíveis.

A matéria começa dizendo que é preciso salvar dos predadores essas casas editoras, o que vale para o mundo inteiro.

O que nos pode salvar da predação é a ética nas relações entre todos os atores do livro, editores entre si, autores para com os editores e vice-versa. O desespero por inflar currículos, o desconhecimento das regras de mera cortesia que nenhum papel acolhe e onde o dinheiro não conta, mas a honra pede passagem em meio a um vale-tudo que enfumaça tudo. Os órgãos de pesquisa têm estimulado o arrivismo desesperador entre o professorado médio universitário, que fazem qualquer coisa para ter seu livro publicado depressa. Vale o vício da publicação a qualquer preço e atropelando qualquer ética. Perdeu-se a virtude da construção séria com relações éticas e sérias pelo vício da gincana. Infelizmente há editores que se prestam para acolher o vício geral.

Autocriticamente, a Musa está saindo dessa rota. Continuará, sim, sua coleção universitária, com diretores editoriais e uma política bem pensada, não no ritmo de uma indústria para atender a distribuição de brindes em eventos grandes ou pequenos, mas como uma Casa Editora. Como o foram muitas editoras históricas com seus passos eternos. Os bons livros continuam existindo em seus catálogos mesmo que encontrem-se esgotados.

A rota da Musa Editora está proposta no revolucionário (a expressão é do professor Waldenyr Caldas, da Eca-Usp) e oportuníssimo livro de Gilles Colleu, "Editores Independentes: da idade da razão à ofensiva" que a Libre -Liga Brasileira de Editoras lançou na última Primavera dos Livros, em novembro, ocorrida nos Jardins do Palácio do Catete com glamour e sucesso. Quem é do livro precisa ler este livro: autores, editores, revisores, ilustradores, gráficos, bibliotecários,jornalistas da chamada área cultural, leitores também. Órgãos públicos culturais e educacionais que abastecem as bibliotecas públicas e escolares do país. Um livro realmente novo. Olá, Zanin (Luiz Zanin Oricchio), querido editor do Cultura do Estadão, o crítico de cinema, vale a pena encomendar uma resenha, pois muda tudo que o senso comum hoje apregoa no mercado do livro e traz de volta a valorização do editor de criação e define bem o que é um editor de oferta e um editor apenas de demanda. Vivemos a financeirização do mundo, não que o dinheiro não seja preciso para o operário digno do seu salário, mas isso criou uma predação geral, um vazio ético nas relações e a emergência de atores do livro(editores e autores, e tradutores, principalmente) em que a carência ética pode se tornar epidêmica. O livro prega que o editor deve ser virtuoso, todos os atores da cadeia do livro precisam ser virtuosos. O vício mata, "temos um câncer sobre o azul". Alô, Capes, alô, Fapesp, não premiem a ânsia de inflar currículos de autores afobados. As formas vigentes de avaliação de docentes são faca de dois gumes, promovem distorções medonhas, incentivam os vícios e ansiedade mórbida de se publicar a qualquer preço, como se quantidade significasse real produção. Uma página de escrita notável pode valer mais que um calhamaço enfadonho (não confundir com a obra extensa, livro com as páginas necessárias ao acabamento perfeito, seja um poema só ou mil páginas) . A propósito disso e de outros propósitos que envolvem a literatura, é e sempre será exemplar o artigo polêmico que Alcir Pécora publicou no Estadão, Cultura, dia 30 de dezembro de 2007, e está sendo reproduzido com amor e ódio pelos blogueiros na web: "Dez passos rumo ao desprestígio". Eu li com amor. Diego reproduziu no breviario.org, com aprovação e festa. Este assunto não terminou. Escreverei novos posts com citações do livro do Gilles Colleu e contarei histórias "escabrosas" que só aqueles que entendem meias palavras se indignarão com elas. O tratado sobre a cegueira não é apenas ficção do Samarago. O alerta sobre o cego que não quer ver está no Evangelho de Jesus: "Há dois mil anos te mandei meu grito".