Sunday, December 20, 2009

Meu blog chora (continuação) O preço do livro e a punição dos editores

Todos reclamam do preço do livro. Gritam contra os editores. Não somos os editores, culpados.

Mas a desinformação sobre o ofício de editor que sabota a necessidade de baixar os custos, que não conseguimos, com influência de cada fator abaixo, cada exigência descabidamente "inocente" que pune apenas os editoras e, por tabela, exclui economicamente o leitor. Vou enumerar aleatoriamente, mas são cada tópico uma chamada à reflexão geral sobre o mercado do livro, que não pode se ater a notícias efusivamente ufanistas epidérmicas, porque regulamentar procedimentos de forma justa é preciso. Tudo se desequilibra na ponta do editor e daqueles que compõem o processo de edição: os trabalhadores do livro, no âmbito da criação, da produção, da divulgação e da comercialização.

Eis a sabotagens por desinformação, inconsciência e desconsideração à vida real na cadeia do livro:

1.Tiragens baixas aumentam o preço do livro. Mas em bons programas governamentais, com entregas a granel, como o excelente "Mais Cultura" do Ministério da Cultura, tivemos de fazer a tiragem toda com o compromisso de manter nossos preços durante um ano. Muitas editoras estamos com os livros nos armazéns da gráfica e não recuperamos nossos investimentos para fazer novos livros. O mercado editorial é composto, na sua maioria, por editoras pequenas e independentes. Aqui não pode prevalecer a lei do mais forte. Tem de haver justiça para todos, ninguém quer privilégios (embora as regras favoreçam os mais fortes, ou, os mais espertos), precisamos entregar nossos livros feitos. Boatos circulam, os livros feitos não serão mais entregues. Contamos com seu discernimento, ministro Juca Ferreira.

2. Selos em quatro cores: Um programa de Prefeitura que nos encomendou tiragem alta de um livro no ano passado, neste ano nos pediu o mesmo livro em tiragem bem mais baixa. Antieconômica, com a exigência, em nova ortografia. Embora tenhamos estoque, tivemos de fazer o livro, às pressas, já no fim do ano, quando os empenhos são liberados e a negociação com as gráficas fica difícil, por causa da concentração de pedidos. Os programas, em geral, nos pedem impressão de selos nas capas. Para um livro com capa em duas cores, um selo exigido em quatro cores, aumenta o custo gráfico do livro, que é reorçado em 4 cores e o preço aumenta.
O selo em 4 cores é ônus para o editor.

3. Descontos: As taxas de comercialização saltaram sobremaneira. Os programas governamentais em pequenas ou grandes tiragens exigem percentuais altos de descontos. SE prestigiamos os distribuidores locais que fazem o bom trabalho junto a livreiros e prefeituras, esta taxa de comercialização salta aos 65% de desconto sobre o preço de capa. Se ocorresse em escala, seria menos penoso, isto ocorre em baixas tiragens. Deveria haver uma regra, uma consideração conforme a tiragem.

4. Adesão ao Simples: As editoras inscritas no Simples não foram beneficiadas com a propalada isenção fiscal.

5. Contribuição de 1% para o Fundo Nacional de Leitura. A ele as editoras universitárias, que não ostentam o risco dos empresários do mundo real do livro, aderiram alegremente. Mas há estudos sérios, como o dos pesquisadores do BNDES, professores George Kornis e Fábio Sá Earp (guardem esses nomes), já ouvidos pelo SNEL, pela CBL e sobretudo presenças marcantes em reflexões patrocinadas pela Libre, durante encontros no evento "Primavera dos Livros". Seu estudo chegou ao MinC, mas no dizer do próprio George Kornis, seus estudos teriam de ser remetidos para análises a especialistas universitários, para que fossem criticados ou validados. Pelo seu aprofundamento e sofisticação, uma simples análise técnica de rotina burocrática não basta. Este 1%, passando por todas os componentes da cadeia do livro (edição, distribuição, livrarias) criam uma escala em que 0 1% se soma a outros por centos, e temos como resultado o viciado não o virtuoso. Aprendi na última Primavera do Rio, com o George Kornis, que o livro em economês do BNDES, em economês mesmo, é BEM DE MÉRITO. Nem os carolas do livro atentam para isso. Nem nossos pares, salvo exceções. Há, por outro lado, continuando meu aprendizado com George Kornis, os chamados BENS DE DEMÉRITO, como cigarros, bebidas, etc. Por isso o estudo sugere, quem deve sustentar o Fundo Nacional de Leitura é o dinheiro das contribuições dos BENS DE DEMÉRITO, não do BEM DE MÉRITO, que é o livro, nesta sociedade de pré-consumo de livros, que é a brasileira. De bons livros, sobretudo.

6. Concentrar no fim do ano a liberação dos empenhos: Quando um empenho é liberado todos gostamos, mas compaixão é preciso, para que o contigenciamento de verbas não se concentre na área da Cultura, sobretudo "punindo" com a espera os editores de livros. O princípio da reciprocidade precisa ser exercitado nas compras governamentais de livros, prevalece a adesão pura e simples. Sem políticas claras, que norteiem todas as compras, tornando-as economicamente sadias para todas as partes, continuaremos, a cada fim de ano, reféns de gincanas cruéis.

7. Editais com tempo insuficiente para inscrição Os editais de compras governamentais são bem-vindos. De repente, um edital no fim do ano, quem esperava para março o edital do PNBE 2011, teve a grata surpresa de vê-lo em dezembro. Quem deixou sua programação da área para produzir novos livros de catálogo, nos três primeiros meses do ano, foi pego de surpresa, com a expiração do tempo de inscrição em dezembro. Por que não marcar para março,se a amostra já deve estar de acordo com o Novo Acordo Ortográfico? O prazo da lei é 2012, por que nos obrigar a produzir amostras que punem economicamente os editores. Amostras iguais poderiam muito bem serem inscritas na ortografia ainda vigente, exigindo-se atualização, para entrega dos livros efetivamente selecionados para o programa, ou para os programas.

8. O desprezo ao princípio da isonomia Todas as regras burocráticas, que não ferem a qualidade do livro, punem o pequeno empresário, as pequenas editoras independentes. Portanto, os livros de catálogo estão sendo sabotados, embora não existam mais os critérios dos livrozinhos frankensteins mediante receituário. Teoricamente, receituários não existem, mas quem domina os chamados feudos de leitura e escrita (nunca devem se tornar feudos os bons propósitos dos trabalhos de leitura e escrita, eu prefiro o pessoal da Teoria da Literatura, com sua visão mais ampla, como vários com a sensibilidade agudamente literária de um Alcir Pécora, por exemplo), na prática opta por formatos, receitas, fórmulas básicas, cooptações de coleguinhas que os editam em penca, e os bons livros de catálogo são "queimados" vivos. Não podem entrar, embora poucas palavras deles tenham um acento a mais e isto possa ser corrigido para as tiragens encomendadas.

Deixo aqui, se alguém ler este post, a sugestão para que me ajudem a encontrar os vícios implícitos que fazem aumentar o preço do livro, e enumerá-los. Sobretudo os fatores que criam o desequilíbrio econômico para o exercício do ofício de editor. A taxa de comercialização pesa, mas há sutilezas patologicamente crônicas. Celebremos as compras governamentais, municipais, estaduais e federais, mas que elas se aprimorem em suas formalidades até o justo mercadológico. O livro possa chegar a todos os leitores, com incentivo aos editores, incentivos, não privilégios, hoje configurados nas pontas das escolhas, por coordenadores locais cooptados. Precisamos de nomes nacionais de todos os estados e áreas, em cada programa.

E vamos todos ouvir direito o que tem a nos dizer os nada carolas George Kornis e Fábio Sá Earp. A alegria só é alegria quando vem do fundo, chega de ufanismos epidérmicos.

O FNDE criou regras para as escolhas dos livros didáticos, sem a interferência dos chamados detentores dos direitos autorais. Um avanço. Aguardamos o mesmo avanço para os chamados PNBEs, Programa Nacional Biblioteca da Escola, em que o universo de escolhas se expanda, não cometa mais o erro dessa concentração em pequenas casas também. Será que alguns livrinhos didáticoliterários chamados Confeccionar poemas ou pintar contos são literatura de verdade para crianças. Nem tudo é literatura infantil, muitos livrinhos não passam de escrevinhações pueris. Infantil é uma coisa, pueril é outra. Apesar das boas intenções, somos dominados pela puerilidade geral.

Saturday, December 19, 2009

Meu blog chora (continua) Ser editor hoje

Eu faço minha poesia Não sei onde ela toca
Ainda anônimo o meu verso Enjeitado
pelos que me pediram publicação
Aonde ela vai Infância na esquina

Guardei-os para a rede Eles balançam
na web Quem os tomará na boca?
Os meus versos sozinhos

Movimentam-se entre a poeira
e as luzes Tudo o que se mistura
no espaço Meus versos mordem

Mesmo que sejam plumas Ou nuvens
que voam Algodão ou cinzas

Aonde irá o poema Um tiro
em seu coração Todo o drama

na decadência do século Desequilibra-se
o humano e a fera mecânica

dos pecados bravos A besta quadrada
em suas posições Chantageiam-nos

É plural nossa derrota Lutamos nus
pela vitória Uma colcha cobre o leito

Nosso palco e a declamação

Thursday, December 17, 2009

OUVIR poema da insônia em Copenhague

Insônia

“Pisaram-me a garganta” -- Temos
de somar a luta ao mundo
que ainda não foi feito Tudo é perigoso

Mesmo ao cauteloso Assediam-nos
pequenos males A esperança voa

Até que nos façamos asas
sobre as barreiras Vencer

os mercenários E ao interesseiro
batermos a poeira Levantar-se
desta mesa Ganhar a porta

e o sereno desta noite sobre a rosa
outra rosa, uma rosa Ser a rosa

Sunday, December 13, 2009

Um livro pode valer por mil livros "E a maravilha do inesperado?"

É a leitura dos jornais que me dita a "crônica" no blog, em geral. Leio todos os domingos a crônica da Danuza Leão, no cotidiano da Folha. Não preciso concordar com ela em tudo. Gosto da Danuza Leão. Gostei muito de seu livro, "Quase tudo". Eu o li, reli e dei de presente para Nicolina Rivelli, amiga italiana em visita, que o levou para a Itália. Eu comprei o livro na Livraria Duas Cidades, um pouco antes dessa "a mais elegante livraria do centro de São Paulo", fechar. Havia caminhos alternativos ao não fechamento, mas o desinteresse e a crueldade jurídica e a indiferença cultural, tudo o que conspira para matar o que precisa ser recuperado, baixaram violentamente as portas da Livraria Duas Cidades. É uma reflexão longa, mostrando-se soluções simples e construtivas, outras inovadoras, mas que o hábito de abater empresas de mérito cultural neste país é a saída fácil, pelos modos mais chulos e chocantes. A cruz dos romanos que castigava malfeitores a pregar nela os bens culturais e seus benfeitores, como fizeram com um Deus que emerge dos cueiros neste Natal, Natal das crianças,/Natal da noite de luz,/ Natal da estrela guia,/ Natal do Menino Jesus!

Eu cantava assim na minha infância, Danuza Leão, como seus filhos eu tinha uma bela mãe. Ainda tenho.Conserva o talhe invejável.Parecida com você naquelas coisas que contava sobre jogos de lençóis das parturientes, a vida mais simples, o cotidiano bem cuidado, os mistérios e as histórias de família, sua vida é bem mais arrojada pessoalmente, num contexto cosmopolita, falo de valores e cultivos de modos e classe.O assunto aqui é outro. Livros. O que tem a ver livros com a sua crônica de hoje? Tudo.

"E a maravilha do inesperado?" É a frase que buscava nesta angústia em que estão envolvidos nestes dias meus colegas de ofício, editando livros às pressas, para que tenham 12 títulos para inscrever no último edital do PNBE. É a competição via gincana cruel. Deveríamos ter mais tempo para inscrever. As pessoas enlouquecem. A virtude do limite, resultado de aprimoramento do edital: são 12 títulos que cada editora, grande ou pequena, têm o direito de inscrever. Mesmo assim as pessoas enlouquecem. Resolvi não enlouquecer. Vou inscrever o que tenho, se for um livro, um livro. Mas um livro feito para todo o público, obra de fundo de catálogo, que tanto pode contemplar as bibliotecas montadas por escolhas governamentais,como as bibliotecas domésticas e a livre escolha de um só. Quartim, em seu artigo no Estadão de ontem, informa a quantidade de livros que saem por dia, em massa, isto assusta os livreiros. Muitos desses livros são dispensáveis, como são dispensáveis muitas obras pseudoliterárias,montadas para atender programas governamentais. É preferível um livro que valha por mil livros, mesmo que seja desprezado pela avaliação pedagógica da literatura.É melhor ser o prato único de um bistrô escondido, com autêntico sabor. Algo único a ser descoberto pela sensibilidade de um paladar. Lençol que se bordou por seis meses, saiu da alma da bordadeira, não de uma linha de montagem. É dos franceses a expressão, Casa Editora, não uma fábrica, linha de montagem. Não quero fabricar livros, embora precisemos de bons livros a mancheias. Produtos massificados para as bibliotecas escolares, empadinhas às pressas? São 12 títulos, o limite de inscrição, não temos 12 livros dignos para contemplar as crianças no Natal da Biblioteca da Escola, mandemos aquele livro que pode valer por mil livros. É único entre únicos, juntos. Que fiquem de fora as cooptações que geram concentrações até em editoras pequenas, que editam avaliadores e livros de suas associações edificantes. Nada pior que os carolas da leitura. Prefiro os bravos,os combatentes,há muitos. (Como a mulher que se chama Maria Antonieta Antunes Cunha, e produziu reflexões verdadeiramente universalistas e democráticas de como se devem pautar as escolhas governamentais de livros, dentro de uma diversidade justa e criteriosa levando ao público o inédito em vez das repetições do mesmíssimo em toda parte.) Um exército respeitável, que se sobrepõe a carreirismos e bibliografias infinitas para exibições curriculares. Cabe à Capes moderar essa aflição por publicações a qualquer custo, como se somente editar mais um livro significasse real contribuição científica. Há um sofrimento geral nessa gincana cruel.

O mais triste ocorre nos congressos de leitura, no melhor congresso, por exemplo: as pessoas chegam, as jovens professoras muito simpáticas chegam, pedem um livro, você mostra a boa história, uma diz, outra diz, quase todas dizem: "Sou contadora de histórias." E não ligam para a boa história. Juntam uma montanha de livrinhos rápidos, nem são histórias narradas. E levam a sacola cheia, deixando de lado aquele livro que pode valer por mil livros. Não são "contadores de histórias", mas repetidores de frasinhas.

Sei de muitas editoras com peças únicas. Livros com sabor inédito. "Os Filosofinhos", da Tomo Editorial, pertencente ao João Carneiro, hoje presidente da Câmara do livro do Rio Grande do Sul. Eu levei os "Filosofinhos" a muitas feiras, à Festa do Livro da USP, ao Cole, ao Rio de Janeiro, ao Colégio São Domingos, aonde possa levá-los, as pessoas se encantam, as crianças gostam, todos sorriem diante desses livrinhos, no formato 18 X 18 cm. Eu mesma levei-os à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, encontrei o João Carneiro, em 2007 ou 2008, entregando-os ao IPT para triagem e envio ao PNBE. João Carneiro veio visitar-me esta semana, falamos sobre compras governamentais, ele me disse, "nunca entrei". "E 'Os Filosofinhos'?" "Disseram-me que os avaliadores gostam de livros grandes, formatos grandes." "Então meu 'O Sapo Apaixonado' por isso não entra." Entrou em São Paulo, no Estado, entrou na Prefeitura, mas a compra de 57 exemplares para as Salas de Leitura do governo Cassab, até hoje não se concretizou.

Obrigada, Danuza Leão. "E a maravilha do inesperado?" Isto o que desejo buscar ao fazer livros.

Originais me caem do céu. Não procuro. Sonho. Gincanas não me atraem. Nem competições.

Faço apresentações. Ou a apresentação de um único livro. Amam ou desprezam. Sofro quando caçoam. Alegro-me com o olhar aceso defronte o livro exposto na mesa ou na roda ou estante da livraria.

Busco essa captação pelas sensibilidades. São raras, mas aparecem. Surgem da massa. Multiplicam-se às vezes.

"Faça a sua parte: pesquise, procure a ache aquele tecido -- seja ele modesto algodão ou mais caro brocado -- que é único; ou aquele restaurante modesto, numa rua escondida, onde vai encontrar uma deliciosa empada de camarão que poucos conhecem, pois ainda não foi descoberta pelos que fazem os guias (grifo meu)."

Obrigada, Danuza Leão. "...é esse o verdadeiro luxo." Para todos. Compras governamentais geram uma gincana cruel. "E a maravilha do inesperado?"

Saturday, December 12, 2009

A. P. Quartim de Moraes, enquanto medito sobre seu artigo no Estadão, "Mais uma na ferradura", sobre a cadeia livreira

publico poemas, ainda tento fazer um texto sobre a pesada censura ao Estadão, agora apadrinhada pelo Supremo, coerente ao apagão geral de valores em todas as instãncias (advocatícias, judiciais, pessoais, editoriais, morais, governamentais, privadas, tudo pautado pelo mais baixo denominador comum, bem abaixo das grosserias do que chamamos mediocridades) e, por escala, de primeira instância para cima, sentenças pautadas em pseudotecnicismos do direito, que nos brindam com justificativas falsas. Com exceção dos bons advogados, letrados além do mediano em literatura e humanidades e conhecedores do direito em termos de reciprocidade, essas justificativas falsas povoam as respostas daqueles que procuramos em busca dos direitos e sempre vêm com elas a sabotar nossos direitos mais básicos. Por que então procurar um advogado, se nos devolve a tarefa da defesa? Fez-se tudo, para nada? Censura ao Estadão, ficamos todos na mão. Celebração dos malfeitos. Aindo cobro da imprensa que fale o suficiente, a imprensa fala de menos. Ela deve ao mercado do livro no Brasil muitas e muitas matérias, não falo de registros de saídas de livros, falo de aprimoramento das relações na cadeia livreira. Discutir o mercado editorial, em reportagens a fundo, sem medo de prejudicar interesses e cooptações várias.Os desequilíbrios gerados no seu funcionamento privado/ privado, sobretudo público/privado. No ramo do livro, está acontecendo algo, que promove o total desequilíbrio entre exigências às editoras e a mais cabal insensibilidade com relação ao problema das impressões de livros. Não entendem que não podemos fazer baixas tiragens, para entregas a granel. Se as editoras fizeram a tiragem toda, para obterem viabilidade econômica, ameaçam suspender o programa. Mas ninguém suspende programas, onde as escolhas foram viciadas e há provas espalhadas pela própria internet.

Como saiu um edital às pressas, para o PNBE-2010, bom para todos, mas com inscrições em cima da hora, eu gostaria de inscrever um livro e falei a um dos meus colaboradores terceirizados e de outras boas editoras, ele falou: "Não se preocupe, haverá cartas marcadas." Vou inscrever o que tenho. Porque boas pessoas que conheço entraram numa gincana cruel para fazer livros depressa e inscrever. Eu tenho meus livros de catálogo e os apresentarei. Abomino gincanas. Não fomos nós que reivindicamos e fomos atendidos pelo Ministro da Educação e pelo FNDE para que nossos livros de catálogo fossem acolhidos? Nossos projetos para todos também para as crianças das bibliotecas escolares públicas. Um dono de gráfica disse que eu deveria seguir certas editoras e cortar a orelha dos meus livros, as belas orelhas com a presença de evocações a Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Repetiríamos a tragédia de Van Gogh?. Aqui sempre evoco Caetano: "Luxo para todos", nem que seja o luxo frugal de arte gráfica despojada, mas arte de designer de ponta. Nada pior do que o designer médio, a poluição embusteira.

Os poemas dos meus "Diários", não ia escrever sobre o que acima escrevi e quero detalhar, mas adiantei, agora, poemas para mulheres, especialmente, pois os ignorantes caçoam de nós, caluniam, sim, eu não me dava conta, mas são poemas que não se pretendem de gênero ou instrumentais, têm a condição humana, são apenas poemas sozinhos:

Burka*


Véus subalternos Debaixo dos véus
os cabelos emudecem Panos crus
Opaco do rude Tecidos com mãos
de sangue Adaga empunhada
contra o frágil Não reage a mulher

Disfarça-se o mundo Oculto enigma
do rosto Pernas invisíveis do andar

Compõe-se uma vida Mistérios
chorosos Estupros e o limbo

Cidades feitas de poeira Tirá-las
das conchas São belas As pérolas

do Afeganistão e meninas As papoulas
rubras sob azuis O mundo para nós

Aqui ou acolá Confinadas no harém


* Fui visitar o ateliê da minha amiga artista plástica, Laura Cardoso, e deparei com um quadro grande, "Burka", uma mulher com uma burca. Quero comprá-lo, mas como um editor pode ter dinheiro em meio a tantas distorções e vícios de ofício, perpetrados por pares e autoridades?


Mês

Medo do tempo que passa e a conta
laça Só o contimento descansa-nos
O compromisso é mais forte Andemos


Aniversário

Surpreende-nos a sintaxe Tecemos
com palavras os mitos Desovam-se
estrelas Luzes ao infinito no céu

Uma abóbada escura Que o azul abarca
Espera-se o nascer do sol Ao massacre
do dia pleno, desejo crepúsculos Esta noite

Em tua ceia Velas iluminam a refeição

A festa, um pingente de lâmpada
balança sobre a mesa Cadeiras ao redor
O arrimo eucarístico das mãos Eles chegaram

O bolo e seu artifício Fogos da idade

Sunday, December 06, 2009

Chuvas e Os magos Dezembros sondam

Enchem-me os olhos de lágrimas
Ainda é meio-dia Eu choro
toda a impotência As léguas

Neste navio de escravos Grito
Um Vozes d’África A pleno

drama Sem espaço no espaço
A noite O dia sujo Do espelho
vê-se da janela Nublado As águas
Terras deslizam-se assassinas

Ainda é Primavera Entramos
em dezembro No hall
do verão interroga-se a má
notícia Celebração dos ladrões

Marotos ríspidos homens maus
Bem aparência entuba-se a alma
sem escrúpulos Os inimigos

e suas mesas postas aos olhos
do fraco Somos pobres
no Natal de Belém

Ainda seguiremos a estrela Teimosos
magos buscamos-lhe a luz Nem voltarmos
a Herodes, ao seu massacre dos inocentes

Raquel não se consola
Nem querem consolação
Choram os filhos dela

Por um outro caminho Façamos nossos lares

05/12/2009

Saturday, December 05, 2009

O livro desprezado em ruidosas celebrações Ser editor, hoje

Para a vida editorial, para a chamada economia do livro, não basta bajular o produto livro. Temos é de ir fundo nos problemas de seus atores, desde a concepção do texto pelo autor, todo o trabalho de edição em todas as fases necessárias, incluindo-se a divulgação e comercialização (não basta pegar um texto, mandar para a gráfica imprimir, tal desleixo atropelando etapas necessárias à finalização de uma edição mataria fisicamente o livro, roubando-lhe corpo e alma), até obtermos a figuração final da aparência única, o objeto exposto de preferência na vitrine ou numa estante de boa livraria, grande ou pequena, em meio à diversidade de bons títulos. Cria-se o surpreendente. Que livros sejam comprados (precisamos consumir livros, não só individualmente, levá-los para casa ou para doá-los para nossa comunidade). Persistem os pedidos de livros às editoras para a formação de bibliotecas comunitárias ou empresariais, inclusive algumas patrocinadas por empreiteiras. Sugiro publicamente que convoquem os cidadãos locais a comprarem livros das livrarias, dos distribuidores e das editoras para doarem a esses pontos geridos por abnegados. Os abnegados que criam bibliotecas poderiam aumentar as edições pelas editoras, que escolheram publicar os livros além dos modismos dos best-sellers e da autoajuda e das demais restrições repetitivas em todos os pontos do mercado, têm o dever de pedir aos conterrâneos que comprem livros para doar, como as sacolas de gêneros alimentícios que apresentam nas campanhas comunitárias de combate à fome ou caritativas.
O público quer variedade, graças a Deus os frequentadores de feiras estão cobrando. No Brasil, repito, o livro está ainda na era do pré-consumo. Por falta de estímulo, por falta de oferta e sobretudo por desprezo. Paga-se por um cinto, exibe-se um celular (isto em todas as classes sociais, A, B, C, D e E), mas quando chega a hora do livro pede-se de graça ao editor, que paga sim impostos,tem compromissos trabalhistas e custos fixos elevados, é obrigado a assimilar o preço dos estandes nas feiras, até nas feiras universitárias que cobram muito e na hora do intervalo alocam ônibus do shopping center local para levar congressistas às suas lojas, deixando a feira de livros que promoveram às moscas no precioso intervalo, sem se dar conta que exigem descontos e cobraram muito pelos estandes (uma boa feira universitária se faz com boas mesas de livros, como a Festa do Livro da Usp), aguentar a troca de favores na ponta das escolhas governamentais de livros, que promove a concentração agora em editoras pequenas que editam coordenadores de formação de acervos e cadernos de órgãos universitários a estes relacionados (eu estava distraída e um dos meus pares que faz pesquisas e levantamentos na área chamou-me a atenção, e eu vi, quando um vendedor me apresentou cadernos de um órgão, desses que fazem congressos, reflexões válidas outras equivocadas e dão as cartas), aí eu relacionei com o que me disseram, perdi a voz, é mais grave do que parece, mas na área do livro só há lugar para ufanismos inúteis, queremos ver é um funcionamento justo em todas as pontas. Voltando aos pedidos diários de doações, que se tornam mais numerosos do que os de compras,vamos mendigar celulares às companhias telefônicas como mendigamos livros? COMPRAR LIVROS, O CONSUMO NECESSÁRIO. Acordemos para isso, nos dois sentidos, por acordo tácito entre os cidadãos e pelo despertar da nação.

Soluções para o livro. Elas não nascem de meras celebrações, muitas vezes de pseudoconquistas. Precisamos consolidar virtudes, sem que os vícios aflorem nas pontas. E os obstáculos se tornem menores na viabilização dos programas governamentais de livros.

Qual a personalidade federal poderá convocar a nação brasileira a consumir livros? Ao mesmo tempo que carros, celulares e produtos da linha branca? Consumir livros inclusive para doar às bibliotecas comunitárias e empresariais é a caridade necessária.Com livros pode-se fazer a caridade gestada nos corações, por que não? Um livro em seu coração, para doá-lo, vivo.

LIVRO É BEM DE MÉRITO. Isto é linguagem de Economês, aprendi com Jorge Kornis,economista do BNDEs, na Exposição que fez da pesquisa sobre mercado do livro no Brasil, na Primavera dos Livros do Rio de Janeiro. Há os chamados BENS DE DEMÉRITO. Registrarei aqui o que anotei durante sua fala. O que ouviu-se e falou-se nesta Primavera do Rio é assunto para muitos dias, melhor assunto para muito tempo, assunto para todo o tempo.

Agora tenho lágrimas nos olhos. Meus olhos se enchem inteiramente de lágrimas. Esgotados todos os recursos. Queremos fazer o certo. Você faz o certo. Ninguém aceita a inteligência. Boicotam-na. Esgotados todos os recursos, repito. Geram-nos a impotência. Diante do óbvio a ser feito. Solapam as soluções criando casos,pior, exibindo a plena cegueira (a gente vê a sujeira dessa tragédia da cegueira que é de todos nós, não escapam advogados, ninguém, na tela do cinema do filme de Fernando Meireles).Ficamos à espera. Com a esperança morta. Matam qualquer possibilidade, matando-nos de cansaço. Desisto dos demônios. Saio à procura de Deus, da Nossa Senhora das Graças no quadro na parede do quarto da tia Tininha esmagando a serpente com o frágil calcanhar, dos verdadeiros santos católicos que eu enxergava frente aos altares das igrejas de Minas, os forros com afrescos pintados hoje apagados da matriz de Virgínia. Quero Natal agora e não entregar livros pedidos de última hora, embora seja bom estar num programa federal, estadual ou municipal. Quero meu presépio do Menino Jesus, "deus nos cueiros", uma expressão de um Auto de Natal de Santa Teresinha. Quero fazer livros para entregar, não hoje,com o punhal às costas, quando a cidade para, o trânsito nos tranca, o dinheiro durante o ano foi contigenciado pelos tesouros e agora ou entramos em "A Noite dos Desesperados" e competimos na dança com Jane Fonda ou seremos mortos, como somos todos os dias. Porque aqui é o Brasil real, em que somos partícipes de uma gincana cruel. Boas livrarias fecharam, isto poderia facilmente ser impedido. Se não houvesse o hábito burocrático de nos mandar a todos para o inferno. Mas não caímos. Os que tombam pelo caminho, gostaríamos que caminhassem conosco. Neste Natal, uma trégua para tirar férias.

Wednesday, December 02, 2009

O rico livro, este primo pobre da notícia De volta da Primavera dos Livros no Rio de Janeiro

Cristina Warth, presidente da Libre - Liga brasileira de Editoras, a das editoras independentes, um fenômeno universal que gera o contraditório frente ao ufanismo geral e ao usufruto de privilégios entre editoras grandes, médias e pequenas, nessa contaminação escabrosa de público e privado nas escolhas governamentais de livros, que vem de muito (não se trata de coisa de mandatos governamentais, vem de mandatos anteriores e persistirá depois), pois a prática nociva opera fora dos ministérios por "turmas fixas fechadas" em prestigiosos campi, o escolhido da hora para o mandato das escolhas, deveria reunir vozes nacionais nos Estados, vozes isentas e virtuosas, para extirpar o vício que vem de muito, de outras eras, combatemos às vezes, mudamos, baixamos a guarda e ali se concede o privilégio, não mais indício, mas explícito, e o parágrafo foi interrompido. Recomeço-o. Cristina Warth, presidente da Libre, enviou uma carta para o governador José Roberto Arruda, uma carta aberta também enviada aos associados,a instituiçõees várias e à imprensa. Publiquei-a como post neste blog. Nem se sabia das últimas notícias, os escândalos proclamá-los. Ninguém, lamentavelmente nem a imprensa, para a qual cópia da carta foi encaminhada se escandaliza ou soma aos escândalos gerais o fato de a Secretaria de Educação do Distrito Federal estar comprando 141.000 exemplares de 47 títulos, de uma mesma e única editora, o que nenhum estado, município ou a União fazem. Há escolhas, embora contestáveis pelo vício de alguns privilégios explícitos, mesmo nos melhores e mais elaborados programas de compras governamentais de livros.O problema está no universo das escolhas,mas quem liga para a cadeia do livro, se o único interesse de cada um é virar livro. Mas somos uma economia, a economia do livro. Imprensa amada e necessária, comece a discutir a cadeia econômica do livro, indo além da notícia da saida de títulos e as nem sempre confiáveis listas dos mais vendidos. Compras governamentais de livros são virtude, escolhas para atender às compras governamentais de livros estão viciadas, por causa da troca de favores e contaminação do público por interessesprivados. E a patologia chama-se concentração, este "câncer no azul", que brota hoje em editoras pequenas, há limite para inscrição, deveria haver limite que não permitisse contemplar um único catálogo com cerca de 50% das obras escolhidas. Criado o explícito privilégio não há jeito de desmanchá-lo. Somente com uma intervenção severa do Ministro da área.

Ninguém se abalou. A imprensa não somou o escândalo de compras alegres de livros aos demais. No caso ddo Senado, escândalos satélites foram incorporados.Mas, livro! Livro, que é isto? Mas todos querem virar livro. Do blog ao livro, do Twitter ao livro, da vida ao livro. A materialização do ótimo, do bom e do sofrível em livro. A carta protesta contra uma compra, pelo governador José Roberto Arruda, a partir da Secretaria de Educação ou Cultura, de 47 títulos, de uma mesma editora, com tiragem de 3.000 exemplares cada. Sem as inscrições de praxe. Convido-os a ler a carta da presidente da Libre postada neste blog.

Isto sequer foi mencionado pela imprensa. Precisamos da imprensa, dela gostamos, pois através dela extirpamos os vícios e moralizamos as práticas. A imprensa é a grande aliada da nossa cidadania, provoca-nos a sair dessa indiferença como nação.

Tenho muitas coisas a contar da volta dessa Primavera. As reuniões e reflexões sobre o mercado do livro nos lançaram a essa busca de aprimoramento, à insistência pela bibliodiversidade em todas as frentes, sobretudo lutando contra as sutis sabotagens presentes em práticas viciadas fora dos ministérios (estes vêm aprimorando seus editais), mas precisam ver fora. A insistência em privilégios deveria gerar anulações de escolhas, mas sabemos que isto jamais acontecerá. Aguardaremos o futuro.

Não posso deixar de registrar a fala de um editor independente da Colômbia: "Não queremos seguir os maus exemplos deles", os que optam pelas práticas amorais dos pequenos currais locais que excluem a preocupação com o coletivo, a universalidade e a diversidade.

Precisamos recorrer a um texto de Cecília Meireles, em que ela estabelece a diferença entre inteligência e esperteza. Não queremos parte com o mundo dos espertos, mas estabelecer a possível inteligência. Esperteza não se confunde com inteligência.